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PREVIEW UFC Chicago, por Alexandre Matos

Alexandre Matos é fã de todos os esportes de combate e fundador do site MMA Brasil. Ele estará aqui toda semana para comentar e palpitar os eventos.

Seguindo firme com a maratona do mês de julho, o octógono mais famoso do mundo desembarca em Chicago neste sábado (23). O United Center, casa do Chicago Bulls, será palco de um evento recheado de brasileiros e liderado por uma ex-campeã.
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Na luta principal, Holly Holm busca recuperação após perder o cinturão do peso galo – foi finalizada por Miesha Tate, em março de 2016 – contra Valentina Shevchenko. Antes delas, Edson Barboza encara Gilbert Melendez, que retorna de suspensão. Pelo card preliminar, Godofredo Pepey tem seu maior desafio em Darren Elkins, Michel Trator pega o estreante J.C. Cottrell, o carismático Alex Oliveira bate de frente com James Moontasri e Luiz Henrique KLB abre o evento diante de Dmitrii Smoliakov.

Vamos destrinchar o que pode acontecer nesses duelos?

Peso Galo Feminino: Holly Holm vs. Valentina Shevchenko

O cinturão desta categoria foi colocado em jogo no UFC 200, quando Amanda Nunes tirou Miesha Tate do trono. Neste sábado, as oponentes anteriores das duas se enfrentam. Em março, no UFC 196, como já falamos, Holm perdeu Tate e Shevchenko foi derrotada por Amanda.

Provavelmente a maior boxeadora da história, dona de inúmeros títulos em três categorias de peso diferentes, Holm se converteu na mais técnica striker do MMA. Sua movimentação lateral é muito útil para formar a defesa de quedas, especialmente contra as entradas em linha reta. Essa mesma movimentação permite que ela atue no contragolpe com muito perigo, além de abrir espaço para combinações mortais. Holm tem também um vasto arsenal de chutes de toda sorte, que fecham com precisão e potência os combos lançados com os punhos igualmente velozes. Falta a ela um pouco mais de agressividade quando está no ataque para capitalizar os momentos de domínio – este problema lhe custou o cinturão.

Do outro lado, Shevchenko também é uma striker de mão cheia. No caso dela, de mão, canela e joelho. Com base no muay thai, a quirguiz tem alta precisão nos chutes, especialmente os médios e baixos, além de ser perigosa no clinch e dona de jogo de pernas bastante fluido. Porém, assim como a adversária deste sábado, Valentina também sofre de falta de senso de urgência (na verdade sofre ainda mais que Holm). Pior, ela ainda tem histórico de começar os combates em ritmo lento, o que pode ser bastante perigoso neste sábado.

Dificilmente Holm vai parar diante de Shevchenko. Provavelmente a americana usará toda a área disponível para circular e chutar muito a perna dianteira da adversária, principalmente os frontais no joelho, no melhor (ou pior) estilo Anderson Silva e Jon Jones, e os na parte externa da coxa. Isso deve minar a movimentação de Valentina, tornando-a um alvo mais fixo e mais fácil de ser controlado. Pelo lado de Shevchenko, o ideal é forçar Holm a lutar perto da grade usando muitas fintas para fazer a americana deixar a posição de contragolpeadora e então travá-la no clinch. Nesta batalha tática, minha aposta é que o jogo de chutes de Holm encontre o destino no começo lento de Shevchenko.

Palpite: Holly Holm por decisão.

Peso Leve: Edson Barboza vs. Gilbert Melendez

Edson parecia fadado à parte de fora da elite quando perdeu para Donald Cerrone, Michael Johnson e Tony Ferguson, os mais bem ranqueados oponentes que havia encarado até então, num intervalo de seis lutas. No entanto, uma sólida atuação diante do ex-campeão Anthony Pettis realimentou as esperanças do friburguense disputar o cinturão da categoria mais acirrada do MMA mundial. Já Melendez vive momento oposto: ele chegou com banca de número um do mundo ao UFC, mas caiu em três das quatro lutas que disputou no octógono. Pior, ainda foi pego no antidoping na última apresentação, a derrota para o atual campeão Eddie Alvarez.

Se Holm é a mais talentosa striker do MMA feminino, Barboza é um dos mais clássicos no masculino. Dono de um muay thai de elite, capaz de chutar com potência e precisão inacreditáveis, ele é o único na história da organização a ter conquistado nocautes em chutes alto, no corpo e baixo. De um tempo para cá, o boxe evoluiu graças aos treinos com Mark Henry. A defesa de quedas é sólida o suficiente para manter suas lutas de pé em quase todos os momentos, mas falta a ele mais destreza quando acaba precisando lançar mão da luta agarrada.

Melendez não chega a ter o nível do brasileiro na troca de golpes em pé, mas é bastante talentoso neste campo. Ele andou inclusive na contramão de Edson, começando no boxe e especializando o kickboxing posteriormente. Porém, o forte de seu jogo é o wrestling, o controle posicional no solo, o ground and pound frenético e movimentação na arte suave. Além de tudo, Melendez não cansa (desde que não tenha que lutar na altitude da Cidade do México) e imprime um ritmo bastante forte aos seus combates.

Momentos atuais à parte, este é um combate que tem tudo para ser o melhor da noite de sábado. Será muito interessante ver Barboza circulando e lançando chutes enquanto Melendez tenta encurralá-lo contra a grade. O brasileiro vai precisar dos chutes baixos, mas com o cuidado de não ter a perna capturada e acabar com as costas no chão. Para evitar essa situação, Edson terá que usar mais os punhos, fintar golpes e lançar combinações longas. Se ele conseguir controlar a distância e minar as pernas do americano, terá dado um passo enorme rumo à vitória. Se for preso e deixar Melendez desgastá-lo, terá problemas no andamento do combate.

Palpite: Edson Barboza por decisão.

Peso Pena: Godofredo Pepey vs. Darren Elkins

Nos fóruns e áreas de comentários das internets, é comum dar de cara com gente aclamando GoDEUSfredo Pepey, GODofredo Pepey ou coisa parecida. Tudo por conta da fase mágica que o cearense vive, com três vitórias seguidas, todas por interrupções no primeiro round que renderam bônus. Elkins também vive boa fase de resultados, com três triunfos nos últimos quatro compromissos, porém, diferentemente de Pepey, sem empolgar, como é de seu feitio.

Quando apareceu na primeira edição do TUF Brasil, Pepey era um ótimo jiu-jiteiro, mas unidimensional. Depois do começo claudicante no UFC, ele se mandou para Curitiba, onde foi treinar com André Dida. O resultado tem sido notável. Cada vez mais confiante em pé, Pepey já nocauteou com joelhada voadora e fica à vontade para usar o jiu-jítsu, com direito até a um triângulo voador tirado do nada na última luta. Para aumentar o mito, ele não luta há mais de um ano, deixando os fãs curiosos para a próxima finalização acrobática.

Assim como Pepey era um ótimo jiu-jiteiro unidimensional, Elkins era um ótimo wrestler unidimensional. Diferentemente de Pepey, que evoluiu, Elkins segue como antes. Isso faz dele um porteiro do top 10 da divisão, já que os candidatos menos capazes costumam parar em seu jogo de quedas insistentes e controle posicional sufocante, enquanto os melhores acham um jeito ou de contra-abafar seu wrestling ou expor sua insuficiência no striking.

Mesmo em franca evolução, Pepey ainda é um lutador inconsistente e que deixa brechas. Como diz um grande amigo meu, Elkins é o tipo que faz um wannabe ninja voltar a parecer humano. Infelizmente para a torcida brasileira, acho que esse último aspecto deve prevalecer.

Palpite: Darren Elkins por decisão.

Outros brasileiros em ação

O combate entre Alex Cowboy e James Moontasri deve promover um festival de chutes mirabolantes, muita agressividade e movimentação ininterrupta. Se este combate fosse disputado no peso leve, o brasileiro seria favorito por conta da dificuldade que o norte-americano apresentava no corte de peso. No meio-médio, Moontasri deve ser o mais rápido no octógono, o que deve valorizar seu leque mais versátil de chutes. Palpite: James Moontasri por submissão.

Michel Trator enfrentaria Tony Martin num duelo que prometia emoção, mas o oponente se machucou e deu lugar para Cottrell estrear. O problema é que o norte-americano lutou há menos de um mês e sua experiência ainda é limitada. Ele até tem um bom wrestling, mas falta consistência para superar um adversário fisicamente tão forte e que também tem seu porto seguro no combate corpo a corpo (no caso do paraense, um tremendo corpanzil). Palpite: Trator por submissão.

Luiz Henrique KLB vai abrir o card preliminar tentando superar o brutal nocaute sofrido na estreia contra Francis Ngannou. O jogo de quedas e trabalho de solo que renderam um bom primeiro round na luta anterior dificilmente trará frutos neste sábado, já que KLB vai encarar um clássico wrestler russo, especialista tanto no estilo livre quanto no greco-romano. Além disso, Smoliakov tem um boxe bastante digno, de punhos rápidos e poder de destruição elevado – ele deu cabo dos oito oponentes que encarou no primeiro round, quatro deles no primeiro minuto, sendo que os dois mais recentes não viram o ponteiro dos segundos dar meia volta no relógio. Palpite: Smoliakov por nocaute.