Pular para o conteúdo principal
Blog do Marcelo Alonso

2018, o ano da hegemonia do Wrestling no UFC

Veja uma análise do jornalista Marcelo Alonso sobre os wrestlers campeões do UFC em 2018

Faltando uma semana do último UFC do ano, após 38 edições realizadas em 2018, há de se reconhecer que os quatro maiores destaques do esporte neste ano têm em comum o fato de terem o Wrestling como modalidade de origem. Independentemente de aplicarem mais ou menos as técnicas de queda em suas conquistas, o fato é que Henry Cejudo, Khabib Nurmagomedov, Daniel Cormier e Tyron Woodley tiveram a luta olímpica como diferencial em suas atuações este ano. Seja pelo lastro de competição, pelo atleticismo, ou simplesmente, pela possibilidade de definir onde o combate iria transcorrer, eles conseguiram este ano coroar a hegemonia de sua modalidade no esporte, consagrando campeões em cinco das oito categorias masculinas do UFC.  

Depois de terminar o ano de 2017 remoendo a triste cena do nocaute sofrido para Jon Jones no UFC 214, Daniel Cormier deu uma das maiores voltas por cima da história do MMA, conquistando não só o cinturão dos meio-pesados, ao nocautear Volkan Oezdemir em janeiro no UFC 220, mas também o cinturão dos pesados em julho, no UFC 226, em cima do lutador mais dominante da história da divisão, Stipe Miocic (único que defendeu o titulo dos pesados 3 vezes).

Medalha de bronze no mundial de Wrestling em 2007 e 4º lugar nas Olimpíadas de 2004, Cormier usou sua modalidade de origem de maneira distinta nas duas conquistas. Contra Oezdemir, aplicou o feijão com arroz ao derrubar e definir com o ground and pound. Já com Miocic, surpreendeu. Quando todos apostavam que sua única possibilidade de vitória seria abafar e derrubar o campeão, DC calou o mundo com um uppercut certeiro no clinch ainda no 1º round. Em 12 meses, Cormier saltava da maior frustração de sua carreira (única derrota por nocaute) para a consagração absoluta, sendo o único lutador na história do UFC a unificar os cinturões das duas divisões mais pesadas ao mesmo tempo.

E para completar o melhor ano de sua carreira, Cormier ainda estrelou o UFC 230 em novembro, defendendo o título dos pesados com maestria contra o gigante Derrick Lewis, que não parou em pé nas mãos do wrestler e acabou sendo finalizado com um mata-leão no 2º round.

DE OURO OLÍMPICO A ALGOZ DO MAIOR DA HISTÓRIA UFC

E Cormier não foi o único atleta olímpico a protagonizar uma virada heróica este ano, o feito de Henry Cejudo no UFC 227 certamente ficará registrado entre os highlights destes primeiros 25 anos do show.

Considerado o wrestler mais condecorado da história do UFC (único a conquistar um ouro olímpico), Cejudo começou a praticar MMA em 2013 e, com apenas 10 vitórias no esporte, conseguiu a chance de lutar pelo cinturão dos moscas contra o super campeão Demetrius Johnson, que já tinha 26 lutas de MMA, 10 anos de carreira e fazia sua 9º defesa de título. Não deu nem para o começo. Johnson só precisou de 2min49s para conectar uma bela joelhada do clinche e conseguir nocautear o campeão olímpico naquele UFC 197, em abril de 2016.

Mas a derrota virou combustível para o descendente de mexicanos. Cejudo passou a viver para treinar. Evoluiu muito no kickboxing com a ajuda dos irmãos Pitbull no Brasil e, após duas vitórias, conquistou novamente o direito de lutar com seu algoz, dois anos depois, em agosto de 2018, no UFC 227.

A maioria apostava que, mesmo com a clara evolução, o medalhista de ouro em Pequim ainda não seria páreo para o gênio que acabara de bater o recorde de 10 defesas de Anderson Silva com a mais bela finalização do ano de 2017 sobre Ray Borg. Ledo engano. Mesclando seu Wrestling, com fortes low kicks, muita explosão e força física, Cejudo conseguiu vencer 3 dos 5 rounds de uma das melhores lutas do ano, destronando o maior campeão da história do UFC em mais uma história de superação de um wrestler neste anos de 2018.

No dia 19 de janeiro Cejudo terá mais um desafio duríssimo, ao colocar seu cinturão em jogo contra o campeão dos galos, TJ Dillashaw.

O REI DO GROUND AND POUND CALA MCGREGOR

Mas se Cejudo e Cormier mesclaram valências distintas do Wrestling para conquistar seus cinturões, o russo Khabib Nurmagomedov preferiu não inventar. E com seu jogo de quedas e domínio posicional absoluto no solo faturou o cinturão dos leves num duelo de wrestlers com Al Iaquinta, em abril. Na sequência, o parceiro de treinos de Cormier defendeu seu título na luta mais esperada do ano, contra o ex-campeão Conor Mcgregor no UFC 229.

E foi neste clássico entre o melhor striker e o melhor grappler da divisão que Khabib reafirmou o título de atleta mais dominante do esporte na atualidade, finalizando McGregor com uma torção cervical no 4º round.

Infelizmente, os fatos lamentáveis que ocorreram após a luta tiraram um pouco do brilho de sua vitória, mas pela maneira dominante como venceu seus 11 oponentes no UFC, completando o impressionante cartel de 27 lutas invicto, Nurmagomedov ultrapassou com folgas Mark Coleman e Cain Velásquez e passou a ser considerado o novo rei do ground and pound.

O russo deverá fazer sua primeira defesa contra Tony Ferguson, que também vem numa sequencia de 11 vitórias consecutivas. Se passar por este, que tem tudo para ser seu maior desafio, Khabib deve em breve entrar na lista dos campeões mais dominantes da história do evento (ao lado de Demetrious Johnson, Anderson Silva, Jon Jones, GSP e José Aldo).

MEIOS-MÉDIOS, A CONFRARIA DOS ALL AMERICANS

Com sete vitórias por nocaute entre seus 19 triunfos, o campeão dos meios-médios do UFC vinha fazendo muita gente esquecer sua origem no esporte. Mas neste ano Tyron Woodley relembrou seu background no Wrestling (ele foi duas vezes All American, 2003/2005). Após duas vitórias mornas sobre Demian e Thompson em 2017, o americano teve uma exibição de gala na luta principal do UFC 228 e só precisou de 9m19s para acabar com a invencibilidade daquele que vinha sendo apontado como o novo bicho papão da divisão, o inglês Darren Till. Fazendo uma tática perfeita no 1º round, ao cansar os braços do inglês com muito clinch na grade, o campeão aplicou um knockdown no inicío do 2º round e, após três minutos de muito ground and pound, encaixou um triângulo de mão, obrigando Till a bater.

Em 2019 esta divisão ganha em emoção com mais três concorrentes condecorados na luta olimpica. Kamaru Usman, que venceu Emil Meeek, Demian Maia e Rafael dos Anjos em 2018, finalmente chegou ao topo do ranking (2º), encostando em outro wrestler da 1º divisão dos EUA, o falastrão Colby Covington (1º).

A outra grande novidade é Ben Askren. Recém-contratado pelo UFC, o ex-campeão do Bellator e One FC é considerado um dos mais criativos wrestlers do circuito americano, tendo inclusive feito parte do time olímpico nacional nas olimpíadas de Pequim em 2008 (quando Cejudo foi campeão e Cormier era o capitão do time). Askren já estreia contra o ex-campeão Robbie Lawler,  no UFC 235 (10 de março). Um teste sob medida para o aspirante a nova estrela. Caso vença o 6º do ranking, Ben, que também é faixa marrom de Jiu-Jitsu, passará a ser o 4º All American entre os 6 primeiros dos meio-médios, transformando uma das divisões mais disputadas do UFC numa verdadeira confraria da luta olímpica americana.

STRIKERS DOMINAM NO FEMININO

Mas se os wrestlers conseguiram 5 dos 8 cinturões em disputa nas categorias masculinas em 2018, as quatro divisões femininas se firmaram como território das strikers. Com Valentina Shevchenko conquistando o cinturão dos moscas, as trocadoras passaram a reinar absolutas. Na categoria pena, Cris Cyborg manteve seu cinturão, bem como o título de maior lutadora de MMA da história, atropelando a russa Yana Kunitskaya em apenas 3m25s no UFC 222, em março. 

Amanda Nunes (galo) também só fez uma defesa em 2018, no UFC 224. No qual, aliás, usou seu boxe para minar Raquel Penington por 5 rounds e conseguir o nocaute técnico no final. Totalmente dominantes em suas divisões, Amanda e Cris terminam um ano relativamente tranquilo se enfrentando no próximo sábado num confronto que tem tudo para ser o mais duro de suas carreiras.

Na divisão dos palhas, a campeã Rose Namajunas também só fez uma defesa em 2018. Muito conhecida por sua boa técnica de solo, Rose usou e abusou de sua modalidade de origem, o Taekwondo (luta que pratica desde os 5 anos), para impor a segunda derrota à antiga rainha da divisão, Joanna Jedrzejczyk, em abril, no UFC 223. Em 2019 Namajunas deverá fazer sua segunda defesa enfrentando outra grande striker, a brasileira Jéssica Andrade, que após nocautear Karolina Kowalkiewicz no 1º round, certamente terá sua chance de lutar pelo cinturão.

Nessa divisão, porém, vale ficar de olho numa ameaça real originária do Wrestling, Tatiana Suarez. Com duas medalhas de bronze em mundiais (2008 em Tóquio e 2010, Moscou), Tatiana foi revelada no TUF em 2016, quando foi campeã. Hoje já contabiliza 7 lutas e 7 vitórias no MMA, sendo a última um nocaute técnico impressionante sobre a ex-campeã Carla Esparza. Atual 4º do ranking, Tatiana tem tudo para ser a próxima a disputar o cinturão da divisão, trazendo a força e atleticismo dos wrestlers também para as divisões femininas.

CERTEZA DE EMPATE NO ULTIMO EVENTO DO ANO

Mas se até 29 de dezembro os wrestlers aparecem como campeões de 5 divisões no ranking postado na nova página do UFC – Max Holloway (pena), Robert Whittaker e TJ Dillashaw (galos) completam a lista - , vale lembrar que os strikers Jon Jones e Alexander Gustafsson disputam o título vago dos meio-pesados, deixado por Cormier, no próximo sábado. Ou seja, independentemente do vencedor, só há uma certeza, o UFC terminará o ano com seus 8 cinturões masculinos divididos irmãmente entre strikers e wrestlers.

Vale ressaltar que, em caso de vitória de Jon Jones, o placar pode voltar a se alterar ainda nos primeiros meses do ano, uma vez que Cormier já afirmou que pretende se aposentar em março, quando completa 40 anos, e certamente o UFC não perderá a chance de colocá-lo para fazer sua luta de despedida contra seu maior rival, provavelmente valendo o cinturão dos pesados.

Esta altíssima competitividade entre strikers e wrestlers também ronda a divisão dos médios, que terá dois duelos definitivos no dia 9 de fevereiro, quando na luta principal o wrestler Kelvin Gastelum enfrenta o campeão, Robert Whitaker, em sua casa, no UFC 234. No mesmo evento o mundo verá um duelo de gerações histórico entre os gênios da trocação Anderson Silva e Israel Adesanya. Quem vencer terá, na sequência, a chance de lutar pelo cinturão. E não custa lembrar que o cubano Yoel Romero, atual 1º da divisão, espera a recuperação de Paulo Borrachinha (7º) para fazerem outro confronto de estilos de tirar o fôlego também nos primeiros meses de 2019.

Um outra divisão que reserva surpresas para 2019 é a dos pesos pesados. Não só pelo fato de o atual campeão, Cormier, ter garantido que se aposenta em março, mas pela possibilidade de Jon Jones subir e também pela volta de um dos maiores wrestlers da história do esporte, o ex-campeão Cain Velásquez. Segundo informações ainda não oficiais, Velasquez deve voltar enfrentando Francis Ngannou, 3º do ranking. Se o UFC confirmar esta luta e Velasquez conseguir usar a mesma estratégia de Miocic (que neutralizou Ngannou com quedas), tem grandes chances de chegar ao cinturão já na próxima luta.

A categoria dos penas também começa 2019 pegando fogo. Se o campeão Holloway realmente subir para os leves, o próximo desafiante ao cinturão deverá sair da luta entre José Aldo (2º) e Renato Moicano (4º) no UFC Fortaleza. Quem vencer provavelmente lutará pelo título contra Brian Ortega (1º).

O fato é que, independentemente de estilos e divisões, uma coisa é certa: este esporte nunca foi tão competitivo. Então, como diria meu parceiro Rhoodes Lima, calcem suas luvas e coloquem seu protetor bucal, porque 2019 definitivamente promete.