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Blog do Marcelo Alonso

As 3 lições de Gilbert “Durinho” Burns

A primeira edição do UFC na Dinamarca foi marcada por ótimas lutas, atuações surpreendentes de Jared Cannonier (sobre Jack Hermansson) e Íon Cutelaba (sobre Khalil Rountree), além de uma histórica virada de OSP, que após apanhar muito do polonês Michal Oleksiejczuk no 1º round, emplacou o quarto “Von Flue Choke” em sua 20ª luta no UFC.

Mas para ser bem sincero, o que mais marcou este evento pra mim foi Gilbert “Durinho” Burns. Não só pela vitória sobre Gunnar Nelson, mas principalmente pela maneira assertiva com que abordou três assuntos distintos, absolutamente pertinentes para reflexão na atual conjuntura do MMA.

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Comentando o fato de vencer sua segunda luta na nova divisão, em pouco mais de um mês com menos de duas semanas de aviso para os combates, contra os duríssimos Alexey Kunchenko (estava invicto em 20 lutas) e Gunnar Nelson, o carioca disse: “Eu vivo em camp, por isso estou sempre pronto à espera de uma oportunidade”.

Na seqüência, ao falar sobre a experiência na nova divisão, o faixa-preta de jiu-jítsu também deu uma explicação que vale reflexão: “Muito bom poder lutar curtindo a semana da luta, estando calmo e relaxado, focado apenas na minha tática, sem ter que me matar fazendo dezenas de banheiras para desidratar. Cheguei para ficar nessa divisão”. As colocações de Gilbert “Durinho” Burns retratam bem o atual estágio de profissionalização do esporte em três áreas fundamentais: marketing pessoal, treinamento e balança.

Casando lutas pelo Twitter

Enquanto a maioria dos lutadores espera o UFC aparecer com propostas, Durinho tem tido o mérito de perceber a importância do marketing pessoal e das mídias sociais na atual conjuntura do esporte. Não por acaso, facilitou a vida de seu manager ao cavar três das suas últimas quatro lutas ao perceber oportunidades, alfinetando possíveis adversários pelo Twitter. E sem baixarias ou trash talk.

Quando tem a oportunidade de falar para os fãs após suas vitórias, ao invés de falar de religião ou política, Durinho costuma ter na ponta da língua o nome do adversário que o levará a um próximo degrau no ranking da divisão. Como fez com Magny.

Diariamente antenado nas redes sociais, Durinho também vive se colocando a disposição sempre que algum lutador de sua divisão anuncia que se contundiu. “Eu conheço um cara que aceitaria esta luta”, responde imediatamente marcando o UFC e Dana White. Numa postura muito parecida com a do “coringa número um” da organização, Donald Cerrone, e que obviamente agrada aos patrões.

Sempre em camp

Quando o MMA ainda se chamava Vale-Tudo e nem havia categorias de peso, era comum que os lutadores não só aceitassem chamados na semana do evento, como entrassem em torneios fazendo duas ou três lutas na mesma noite e sem ter a menor noção de quem enfrentariam. Ou seja, muitas vezes a tática de luta era definida no vestiário.

Pois o esporte se profissionalizou, foram instituídas regras e categorias de peso, e a política de camps de luta foi “importada” dos esportes olímpicos como wrestling e boxe, influenciando os atletas de MMA norte-americanos e se refletindo no mundo todo.

O tempo passou, o esporte evoluiu e o profissionalismo do MMA tem levado o esporte para um novo modelo onde atletas como Gilbert Durinho e Cowboy Cerrone acabam sendo mais valorizados pelo evento. Até porque, sendo o MMA um esporte profissional onde os atletas são remunerados por luta e onde eles têm uma vida útil de no máximo 15 anos lutando em alto rendimento, fica cada vez mais claro que este modelo onde o atleta se mantém treinado, buscando reduzir ao máximo o sparring duro, é o melhor caminho a ser seguido para estender ao máximo a carreira dos profissionais, permitindo que eles se aposentem cada vez mais saudáveis.

Nova fase na guerra contra a balança

A guerra com a balança é uma outra questão levantada por Durinho que interfere diretamente na saúde e na longevidade do atleta que precisa urgentemente ser debatida de maneira prática, ou seja, com dados numéricos. Até alguns anos, a comunidade do MMA tinha plena certeza, mais uma vez influenciado por esportes olímpicos, que a desidratação era um mal necessário. Nos acostumamos tanto com esta ditadura dos esportes amadores que o “drama da balança” passou a ser uma espécie de novela semanal dos eventos de MMA.

E quem já acompanhou de perto o que esses caras passam na semana do evento sabe bem do que estou falando. Fome, desidratação, noites em claro, ou seja, tudo que um atleta de alto rendimento não deveria passar nos dias que antecedem uma grande luta.

Nos últimos dois anos, porém, alguns atletas, cansados deste sofrimento, resolveram peitar esta ditadura, decidindo se testar nas divisões de cima. E nada melhor que fatos e números para se chegar a uma conclusão clara como água. As atuações de Robert Whittaker, Thiago Marreta, Jorge Masvidal, Rafael dos Anjos, Dustin Poirier, Anthony Pettis, Anthony Smith, o próprio Gilbert Durinho e tantos outros, depois que subiram de divisão, comprovam que no esporte profissional mais duro que existe, estar saudável é o mais importante.

Obviamente isso não quer dizer que subir de peso seja a solução para todos atletas. Jared Cannonier, por exemplo, nos deu no último sábado um belo exemplo de como um corte de peso saudável pode fazer bem. Jéssica Bate-Estaca, Valentina Shevchenko são outros ótimos exemplos de “descidas” bem sucedidas. Por outro lado, casos como o de TJ Dillashaw (lutando contra Cejudo nos moscas) deixam claro que na atual conjuntura do esporte, não há mais espaços para insanidades.

Os números mostram que com o alto padrão científico que o esporte atingiu nos dias atuais não faz mais sentido que atletas de alto rendimento continuem fazendo loucura para se enquadrarem em divisões que afrontam sua natureza. Até porque todo este esforço, muitas vezes desnecessário, cobrará um preço seja na luta ouna longevidade do atleta.    

O fato é que na atual conjuntura do MMA é essencial que o atleta saiba interpretar o novos caminhos equilibrando da melhor maneira possível as novas ferramentas da ciência e do marketing para atingir bons resultados.

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