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Blog do Marcelo Alonso

Aldo tem condições de lutar com Cejudo até 61kg? A opinião de 3 especialistas

A declaração dada por José Aldo ao Combate.com na semana passada, revelando planos de descer para o peso-galo (até 61kg) e disputar o cinturão da divisão de baixo, gerou um tremendo burburinho no meio. O primeiro a se manifestar foi o campeão Henry Cejudo que se dispôs, inclusive, a vir ao Rio lutar com o faixa preta de Andre Pederneiras. “Você é o Rei do Rio, mas eu sou o Rei do mundo. Se prepare que estou descendo. Uh, você vai morrer!”, declarou o campeão a Evelyn Rodrigues nos bastidores do UFC 241, iniciando a promoção do combate antes mesmo de o UFC decidir seu futuro.

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Na mesma noite Dana White disse, inicialmente, ter gostado da ideia, mas na última terça declarou nos bastidores do Contender Series que não acreditava que o brasileiro conseguisse chegar saudável ao limite dos 61kg.

Mas afinal de contas, quem está com a razão? Seria possível que o maior peso-pena de todos os tempos conseguisse lutar na divisão de baixo? Para entender melhor a complexidade do processo, nada melhor que ouvir três grandes profissionais da área: Everton Oliveira (preparador físico oficial da ATT), André Benkei (preparador físico, fundador da Blackzilians, também conhecido como “Mago da Balança”) e Rodrigo Babi (fisiologista e preparador físico do Team Nogueira).

André Benkei

“O jogo do Aldo sempre foi muito baseado na vantagem de envergadura que ele tinha nessa divisão, mas os pesos-penas cresceram e ele perdeu esta vantagem, a qual voltaria a ter entre os galos. Acho sim possível que ele bata 61kg saudável e com grandes chances de dominar esta categoria. Afinal de contas o Cejudo é um wrestler que é bem menor. Além de ter uma das melhores defesas de queda do UFC, a envergadura do Aldo faria uma grande diferença num confronto contra o campeão. Com uma dieta perfeita acredito que ele consiga bater, sim. A grande questão seria uma disciplina grande para que ele tire o máximo de peso na dieta, sem precisar desidratar demais. O Aldo é um grande campeão e acredito que se ele tem esta vontade, ninguém consiga segurá-lo”.

Rodrigo Babi

“Na realidade a grande questão não é bater o peso, mas se recuperar bem para a luta. Acho muito complicado o Aldo bater 61kg se mantendo em seu melhor rendimento. Mas o fato é que ele tem total condição financeira de ter ao seu lado os melhores profissionais na área de fisiologia, nutrição e preparação física. Se ele está decidido e os profissionais que estão com ele o apoiam, vá em frente. Se realmente estiver focado neste objetivo e disposto a investir nesta equipe de ponta, tem tudo para obter o máximo de performance. Só o aconselho a fazer um teste antes, batendo o peso em algum dia e vendo como se comporta em três rounds num treino forte, simulando uma luta. Foi o que fizemos com o Toquinho aqui na Team Nogueira quando ele resolveu baixar pra 77kg. Mas este teste é essencial para a equipe tomar a decisão, até para ele não incorrer no erro do TJ Dillashaw”.

Everton Oliveira

“Sou bem crítico com relação a perda e ganho de peso. O ganho é mais fácil, principalmente se o atleta tem o biotipo para subir de categoria. Foi o caso do Marreta, Philip Lins (campeão do PFL) e da Amanda, por exemplo, que tinham altura e envergadura condizentes com atletas da divisão de cima, então a questão era basicamente de ganho muscular. No caso da perda de peso eu sou muito mais criterioso, porque existe um desgaste grande em decorrência da perda que, normalmente, compromete a performance. No caso específico do Aldo teria que ser avaliado de maneira muito criteriosa por sua equipe o quanto essa descida vai colocar em risco a performance física dele durante os treinamentos e também na semana da luta. Há de se levar em consideração que o processo de perda de peso afeta não só o lado físico, mas também o mental do atleta. Se a luta é de cinco rounds, então, pior ainda.

No caso do Aldo, ele tem um biótipo que pode favorecer. Mas a equipe teria que analisar e fazer testes para que não seja um tiro no pé. Aqui na ATT temos vários atletas que tentaram descer e não foi uma boa ideia, como o Thiago Pitbull, por exemplo. A questão é nunca fazer isso na emoção e sim baseado em testes que tragam garantia de que a performance do atleta será satisfatória. Na realidade são várias áreas interligadas: a parte mental, física a questão da desidratação, perda de performance, até o sono do atleta fica abalado. Muita coisa que tem que ser levada em consideração para que esta mudança de categoria não seja um tiro no pé, como foi no caso do TJ Dillashaw”.

ENTENDENDO A NECESSIDADE DOS MATCHMAKERS

Além de todas as questões técnicas enumeradas por Benkei, Everton e Babi, Aldo e sua equipe precisam avaliar antes de qualquer decisão se é um desejo real do UFC que ele desça de peso.

E basta uma rápida olhada no ranking dos galos e penas para entender que Aldo hoje é muito mais útil para o UFC permanecendo em sua divisão.

Com o retorno dos veteranos Urijah Faber e Dominick Cruz e a descida de Frankie Edgar, a divisão dos galos virou uma espécie de sonho de consumo dos matchmakers, que passam a ter dezenas de possibilidades de casamentos de lendas do passado com grandes talentos da nova geração como Marlon Moraes (#1), Aljamain Sterling (#2), Cory Sandhagen (#3), Petr Yan (#4) e o campeão Henry Cejudo. Aliás, as opções são tantas que Dana White já avisou que só permitirá que Cejudo mantenha os dois cinturões se estiver pronto para defender o título dos moscas contra Benavidez em janeiro. Certamente já imaginando uma superluta até o meio do ano, valendo o cinturão dos galos, contra o maior destaque do cardápio acima. Posto isso, vale refletir: faria sentido trazer mais uma estrela de cima para brigar por este espaço? Mais do que isso, correr o risco de Aldo não bater o peso e estragar uma possível disputa de título?

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Com o domínio absoluto de Max Holloway, a divisão dos penas perdeu muito da emoção. E enquanto não aparece uma ameaça real para destronar o campeão, o fato é que os matchmakers precisam, ao menos, mantê-la viva possibilitando casamentos interessantes entre os top 5. Com a descida de Edgar para os galos, Aldo, Ortega, Volkanovski e Magomedsharipov desempenham papel fundamental para manter a divisão viva. Sendo assim a descida de uma estrela, como Aldo, parece mesmo não fazer sentido.

Mas, como diz o ditado, quem não chora não mama. Vai que o trash talk iniciado por Cejudo cola e esta superluta cai nas graças dos fãs. Parece improvável, mas independente de qualquer decisão do UFC, o lado positivo é ver o Aldo motivado novamente buscando o melhor caminho para voltar a ser campeão. E se levarmos em conta todo o seu legado, a imprevisibilidade deste esporte e o fato de ele ainda ter seis lutas no contrato e apenas 32 anos, não dá para duvidar que, se voltar a treinar com afinco, Aldo consiga terminar a carreira como campeão do UFC.