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Alex Poatan comemora após vitória no Glory Kickboxing
Entrevistas

Alex "Poatan" fala sobre Israel Adesanya, treinos com Glover e estreia no UFC

Confira uma entrevista exclusiva com o ex-campeão duplo do Glory, que luta no UFC 268, em novembro

O Ultimate anunciou na última semana uma contratação de peso: Alex "Poatan" Pereira fará sua estreia no Octógono no dia 6 de novembro, em confronto contra Andreas Michailidis pelo peso-médio no UFC 268, no Madison Square Garden em Nova York.

O paulista de 34 anos ainda tem pouca experiência no MMA - são quatro lutas, com três vitórias e uma derrota até aqui. Mas seus feitos no kickboxing fazem com que sua chegada à organização seja uma das mais aguardadas dos últimos tempos.

Poatan foi campeão dos pesos-médios e dos meio-pesados do Glory, maior evento de trocação do mundo. No kickboxing, ele soma 33 vitórias, sendo 21 delas por nocaute.

Destes muitos triunfos, dois chamam atenção: o brasileiro venceu por duas vezes ninguém mais, ninguém menos que Israel Adesanya, atual campeão peso-médio do UFC - uma por decisão e outra por nocaute.

Na entrevista exclusiva a seguir, Poatan fala sobre o desejo (ou não) de reencontrar Adesanya no Octógono, sobre a negociação que o trouxe ao UFC, os treinos para migrar para o MMA com Glover Teixeira e muito mais. Confira abaixo.

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UFC Brasil: O anúncio da sua contratação pelo UFC gerou muita repercussão positiva na internet. Tem acompanhado?

Alex Poatan: Eu percebi que até minhas postagens no Instagram vem tendo mais curtidas, teve um grande aumento. Acho que é pelo que eu venho fazendo no esporte, no kickboxing. Lógico, falando de um outro evento, do UFC, que é o maior, isso iria mudar. É uma coisa que eu já esperava pelo trabalho que vinha fazendo.

Sua chegada ao UFC já era uma coisa esperada há algum tempo. Como foram as negociações até a assinatura do contrato?

Demorou um tempo, porque eu tinha contrato com o Glory. Tinha algumas cláusulas que me seguravam no contrato. O Joinha (Jorge Guimarães), que é meu empresário, conseguiu renegociar. Quando renovei meu contrato com o Glory, a gente fez algumas exigências para lutar MMA. Fiz uma luta no LFA e, depois dessa luta, fiquei mais visto no mundo do MMA, porque ela teve uma grande repercussão. Um pouco antes dessa luta, eu já vinha treinando pensando no MMA, mas depois dela, pensei mais. Aí comecei a priorizar os treinos de chão também.

Antes disso, você quase lutou no Dana White's Contender Series, certo?

Sim. Não lembro o ano agora, mas naquele momento eu queria muito o MMA. Tive a oportunidade de fazer essa luta, mas pelo contrato do Glory eu não podia. Infelizmente ou felizmente, não fiz essa luta, e hoje com um contrato direto com o UFC a gente está muito melhor.

Nota: Alex Poatan foi cotado para participar do Dana White's Contender Series Brasil, em 2018.

Então você está mais satisfeito com a maneira como as coisas aconteceram?

Sem dúvida nenhuma. Entrando pela porta da frente, com toda repercussão, bem mais preparado do que naquela época... Talvez, naquela época, seria uma aventura; hoje, sei o que eu quero.

Você fez três lutas de MMA entre 2015 e 2016 e, depois de um intervalo, retornou em 2020. Por que houve esse hiato, e o que o fez retornar ao MMA?

Eu estava em uma equipe de MMA em São Paulo, mas meu foco era o kickboxing. Fiz uma luta em 2015 em Dubai, pelo Glory, e perdi - achei que ganhei, mas não deram para mim. Eu fiquei desanimado com o kickboxing e resolvi treinar MMA. Surgiu uma oportunidade para estrear no MMA no Jungle Fight, só que eu não treinava MMA. Comecei a treinar faltando no máximo um ou dois meses para a luta. E eu estava indo muito bem nos treinos, finalizando a galera. Quando fui estrear, queria surpreender as pessoas. Todos esperavam que eu fosse nocautear, mas como estava indo bem no treino de chão, resolvi que queria finalizar, que queria surpreender. Só que foi uma "cagada". Quem assistir à luta vai me ver tentando finalizar o cara, que era um faixa-preta de jiu-jítsu. Eu até cheguei perto de conseguir, mas cansei muito fazendo isso, porque era uma coisa nova para mim, a isometria. Acabei sendo finalizado no 3º round. Desanimei, quase desisti. Mas pensei, 'Pô, vou arriscar. Foi só a primeira luta. O cara era um faixa-preta de jiu-jítsu. Eu levo jeito para o negócio'".

Fiz mais uma luta e nocauteei. Depois, apareceu mais uma luta no Jungle Fight e eu nocauteei de novo. Eu estava fazendo alguns treinos de chão, mas sempre priorizando a parte em pé. Então comecei a me dar bem no kickboxing e a fazer lutas grandes. Em 2017, me tornei campeão do Glory e de lá para cá não perdi mais. Passei a priorizar 100% a parte em pé. Até que tive a oportunidade de vir treinar com o Glover e peguei gosto pelo MMA. O treino de chão é diferente do que eu fazia. Comecei a me sentir mais confiante, até que marquei uma luta no LFA e nocauteei meu adversário. De lá para cá, quis focar 100% no MMA; só não conseguia porque eu era campeão do Glory e não podia diminuir os treinos de kickboxing.

Você tem muita experiência no kickboxing e está começando sua trajetória no MMA. O Rodolfo Vieira, que fez carreira no jiu-jítsu antes de migrar para o MMA, fala muito sobre ainda se sentir um iniciante no MMA. Como você se sente no MMA? Como está sendo essa experiência?

Eu não me considero experiente nas lutas, mas estou treinando muito bem com um cara muito bom que vai disputar o título agora, que é o Glover. Os treinos estão sendo muito bons. Ele sempre está me elogiando com sinceridade, nada da boca para fora. Mas eu estou vendo que os treinos são duros. Ele sempre me fala, 'Se você pegar essa malícia, treinar isso, aquilo, não vai ter para ninguém'. É difícil falar de mim, por isso estou falando o que as pessoas falam. Você citou o Rodolfo Vieira e eu tive a oportunidade de treinar com ele. Ele me passou um pouco do jiu-jítsu, eu passei um pouco do meu kickboxing para ele. Ele elogiou muito minha parte de chão e é um cara fantástico nessa modalidade. Fiquei muito feliz em ouvir o que ele me falou. Eu não estou tão atrás quanto as pessoas pensam. Glover Teixeira, Ronaldo Jacaré, Lyoto Machida, Rodolfo Vieira - todo mundo vem me elogiando... não acho que é para puxar saco. Acho que mostrei que estava pronto para estrear no UFC.

Falando da sua chegada ao UFC, não tem como não falar de Israel Adesanya. Você sente algum tipo de pressão por entrar no UFC sendo o cara que nocauteou o campeão?

Não tenho pressão nenhuma. Minha pressão é a mesma em todas as lutas. Por ele ser o campeão e eu ter nocauteado ele, não tem nem por que sentir esse tipo de pressão. Acho que quem tem que sentir pressão é ele. Quem é "do contra" fala: "Mas agora é MMA, não é kickboxing. O cara é mais experiente, tem não sei quantas lutas, o Alex só tem quatro". Na época do kickboxing, eu também não era tão experiente. Quando lutei com Adesanya, ele tinha 80 lutas e eu tinha 20. No MMA é a mesma coisa, ele tem 20 lutas e eu tenho quatro. E ganhei as duas vezes dele. Por que não no MMA? Não tenho pressão nenhuma. Tenho a pressão da luta - em qualquer luta, contra qualquer pessoa, tenho uma pressão ali, porque posso ganhar ou perder.

E uma nova luta contra ele, agora no Octógono, é algo que te interessa?

O que me interessa é buscar o cinturão. Quando eu chegar lá, de repente ele nem está mais. Não tenho interesse nenhum em lutar com ele. Para quê? Lutar com o cara pela terceira vez? Agora, se o Adesanya for o campeão, beleza. É isso que eu quero.

Como começou essa amizade com o Glover? Desde quando vocês estão treinando juntos?

Estou treinando com ele desde agosto do ano passado e foi através do Joinha, nosso empresário. Eu não conhecia o Glover pessoalmente, mas o Joinha falou para ele: "O Alex é um bom treino para a luta contra o Thiago Marreta", e o Glover concordou. Fui para lá e fiquei quase dois meses, mas a luta caiu devido ao COVID. Voltei para o Brasil, e quando a luta foi remarcada, voltei para cá e fiquei mais dois meses. Estou nessas idas e vindas há um ano e nesse tempo passei uns seis meses ao todo treinando com ele.

Tem alguma lição ou algum conselho especial que recebeu dele?

Eu lembro da primeira vez que a gente treinou junto. Ele me colocou para baixo e eu fui fazer jiu-jítsu com ele. Na hora, ele já falou, "Tá errado, você tem que levantar", e me ensinou as posições. Na segunda vez, ele me colocou para baixo de novo e, meio que no automático, eu aceitei ficar por baixo para trocar jiu-jítsu com ele. Ele mais uma vez corrigi: "Pô, de novo? Tá errado, você não pode fazer isso. Seu papel é levantar". Desse dia em diante, eu mudei meu pensamento. Com a prática, consegui fazer os treinos que eram necessários para mim, para ficar em pé. Eu era outro cara. Virou uma chave em mim.

Para encerrar, vamos falar sobre sua estreia contra o Andreas Michailidis. O que você já sabe sobre ele e o que espera desse casamento de luta?

Eu acho que vai ser uma luta boa. Assisti a algumas lutas dele fora do UFC e ele é mais da trocação mesmo. Olhando as lutas dele, parece que ele vai querer trocar porrada, mas não acredito muito. Talvez seja o que ele tenha em mente, mas eu acho que vou obrigar ele a querer me colocar para baixo. Acho que ele pode querer trocar porrada, porque é um bom striker, mas acho que vou fazer ele mudar de opção e tentar me colocar para baixo.

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