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Blog do Marcelo Alonso

Analisando o UFC 245 e os futuros de Aldo, Usman, Amanda e Holloway

Alex Volkanovski destronando Max Holloway, Kamaru Usman virando a luta contra Colby Covington com um nocaute no último minuto, Marlon Moraes vencendo José Aldo em uma luta histórica definida no último round e Amanda Nunes usando seu judô para manter a coroa. Definitivamente o UFC 245 foi um eventaço.

Kamaru Usman nocauteia falastrão casca-grossa

“Quando dois grandes grapplers se enfrentam normalmente a luta transcorre em pé”. A luta principal do UFC 245 confirmou mais uma vez esta máxima. Em pouco mais de 24 minutos de luta os wrestlers Colby Covington e Kamaru Usman sequer tentaram quedas.

Brasil

Colby começou na frente usando seu conhecido volume incessante de golpes para neutralizar a maior envergadura do nigeriano, mas a partir do 3º round a pujança física do campeão Kamaru Usman começou a fazer a diferença e um cruzado de encontro conectado em cheio no queixo do atleta da ATT acabou mudando os rumos da luta. “Acho que quebrei a mandíbula”, disse Colby a seu treinador Conan Silveira no intervalo para o 4º round.

Foi a partir daí que Colby mostrou a todos que é um casca-grossa de primeira grandeza. Não só voltou para a luta, como manteve a arriscada estratégia de continuar atacando de maneira ininterrupta tentando afogar o campeão com seu volume. Mais um round parelho, mas Usman conseguiu vencer o 4º round e empatar a luta com dois bons contra-golpes.

A definição da luta seria no 5º e último round. Mesmo sangrando bastante Colby começou tomando iniciativa e chegou a estar a frente até o início do 3º minuto, mas na reta final Usman pisou no acelerador e conectou um golpe certeiro que levou Colby ao solo e mudou os rumos do combate. O atleta da ATT ainda conseguiu levantar mas foi prontamente recepcionado com mais um cruzado e caiu sentado novamente, virando de quatro para proteger o rosto, enquanto Usman o golpeava pelas costas, obrigando o árbitro Marc Goddard a interromper o combate a 4min10s do 5º round. Independente da postura questionável de Colby para promover lutas há de se reconhecer que o norte-americano é um tremendo lutador. E certamente continuará a dar trabalho na divisão.    

Com a primeira defesa bem sucedida e já tendo vencido o número um (Tyron Woodley), é bem provável que Usman lute na sequência com o 3º do ranking Jorge Masvidal. Após conquistar o cinturão BMF vencendo Nate Diaz, o representante da ATT tem tudo para protagonizar um confronto de estilos interessante com Usman. Invicto há oito lutas, o inglês Leon Edwards (#4) seria uma ótima escolha para Covington.

Por que achei que Marlon venceu o 3º round e a luta?

Se a luta principal da noite entre Colby e Usman foi de tirar o fôlego, o que falar do lutão entre José Aldo e Marlon Moraes?

Brasil

Depois de ser considerado o maior peso-pena do mundo representando o Brasil invicto por seis anos e ainda ter sua linda história de superação mostrada nos cinemas, José Aldo passou a fazer parte de uma categoria de lutadores que são unanimidades junto aos fãs nacionais. Mesmo sem precisar provar nada a ninguém, o amazonense decidiu, após sofrer derrotas para Max Holloway e Volkanovski, fazer uma manobra arriscada, descer para o peso-galo. Sem acreditar muito que o brasileiro conseguiria chegar saudável na divisão de baixo, Dana White decidiu lhe dar um senhor teste, Marlon Moraes. Se passasse pelo número um da divisão, teria o title-shot com o campeão Henry Cejudo.

Pois Aldo calou a boca de muita gente dando uma tremenda lição de profissionalismo ao não só chegar saudável, como se mostrar em condições físicas excelentes na nova divisão. Obviamente a mudança de corpo alterou sua velocidade e poder de nocaute, mas não impediu que o amazonense protagonizasse uma batalha tática de 15 minutos com Marlon no melhor combate da noite. Um verdadeiro clássico entre caçador e contragolpeador, que acabou confundindo muita gente na hora do julgamento.

Marlon começou na frente conectando o maior número de golpes e também os mais contundentes, além de uma queda no final, vencendo com clareza por 10x9 no 1º round. Mas Aldo voltou extremamente motivado e reagiu na 2ª etapa empatando a luta ao conectar os melhores golpes e encurralar o atleta da ATT. Estes dois rounds foram basicamente unânimes para todos, a grande polêmica ocorreu no 3º round.

Antes de se falar do round em si, há de se entender que o critério de striking e grappling efetivo é o primeiro “acessado” pelos juízes para definir um round. Se um dos lutadores consegue vantagem clara no número ou na contundência dos golpes, normalmente o juiz não acessa outros critérios de avaliação. Quando assisti à luta ao vivo me pareceu claro que Marlon conectou o maior número de golpes merecendo o 10x9 no 3º round e a vitória na luta. Mas diante de toda a polêmica nas redes e uma clara divisão no julgamento dos colegas jornalistas, decidi rever este 3º round mais duas vezes, com o controle remoto, afinal de contas mesmo com Marlon tendo conectado cinco golpes a mais, um dos três golpes de Aldo poderia ser mais contundente (como em seu primeiro round com Moicano) determinando a “virada” do round e mudança na minha opinião. Mas ao rever novamente ainda achei os dois jabs de Marlon os golpes mais contundentes do round, ou seja, nem faria sentido os juízes acessarem outros critérios para desempate. Na minha leitura, vitória justa do Marlon neste 3º round.

Brasil

Não há dúvidas que a vitória de Aldo seria melhor para o MMA brasileiro e trairia uma narrativa muito mais interessante para a próxima disputa de cinturão. Seu currículo, todo o seu histórico de superação para atingir uma nova categoria, o fato de Marlon estar vindo de derrota para Cejudo. Definitivamente qualquer coisa que não fosse uma vitória de Aldo soaria como  anticlímax. Mas juízes não podem ser influenciados por narrativas. Indiscutivelmente o terceiro round foi parelho e passível de debate. Mas a acusação de “roubo claro” é a única que não faz o menor sentido aqui.

Os quatro caminhos para José Aldo

Dana White foi o primeiro a discordar do resultado da luta, deixando no ar que poderia manter seus planos de colocar Aldo contra Cejudo na sequência. Em entrevista ontem a Marcelo Russio e Evelyn Rodriguez do Combate.com, o próprio Aldo, ainda revoltado com a decisão dos juízes, disse que estaria em contato com o manager de Cejudo e que a luta pelo cinturão dos galos seria mantida.

Pela história que tem e por todo o interesse de Cejudo em enfrentá-lo, esta, sem dúvida seria uma possibilidade real. Mas o fato é que se Aldo estiver realmente motivado poderia ainda escolher entre outros três caminhos: superlutas, continuar lutando contra tops do peso-galo ou voltar para os penas.

A bem da verdade, com a vitória de Volkanovski sobre Holloway, sua divisão de origem voltaria a ter ótimos desafios, como Brian Ortega (#2), Zabit Magomedsharipov (#4), Yair Rodriguez (#6) e o próprio campeão que, mal ou bem, o venceu em luta amarradíssima no UFC 237. E vale lembrar que depois da experiência da dieta para bater o peso-galo, Aldo certamente passará a chegar bem mais forte e menos debilitado em sua divisão de origem.

Mas caso opte por continuar entre os galos, partindo do princípio de que Petr Yan, após nocautear Faber, já teria assegurado sua chance de lutar pelo cinturão com Cejudo, ainda assim Aldo teria excelentes opções entre os Top 5 da divisão. Nomes como Aljamain Sterling (#2) e Cory Sandhagen (#3).

Caso esteja a fim de se divertir e esquecer o foco nos cinturões, Aldo poderia ainda seguir o caminho de Anthony Pettis, que passou a flutuar entre duas divisões perseguindo grandes lutas. Afinal de contas, para uma lenda do esporte nunca faltarão superlutas que façam sentido e lhe rendam uma boa grana. O próprio Pettis seria uma excelente alternativa. Dominick Cruz, que deve voltar este ano ao peso-galo, seria outra. Isso sem falar em McGregor, uma revanche que qualquer fã do esporte pagaria para ver. Caberá a Aldo decidir qual caminho trilhar. Certamente escolhendo desafios que o mantenham motivado, como no último sábado. Este, sem dúvida, é o ponto mais importante.

Amanda x Shevchenko ou Claressa Shields?

Seis anos depois, afinal quais seriam as novas armas que Germaine de Randamie traria para superar a campeã Amanda Nunes? Depois de um atropelo no 1º round, a holandesa até conseguiu surpreender Amanda na luta em pé na segunda etapa, mas bastou a brasileira parar de se arriscar em pé e lutar MMA para a luta voltar a ser fácil. Com uma defesa de quedas muito ruim, Germaine foi levada ao solo com facilidade pela judoca em todos os rounds e perdeu de lavada em uma verdadeira aula de MMA.

Brasil

Aliás, foi exatamente esta leitura do MMA que faltou a Ketlen Vieira. Faixa-preta de judô, a amazonense decidiu não ouvir os gritos de seu treinador André Pederneiras e se desafiar em pé contra a boxer Irene Aldana, que acabou a nocauteando a sete segundos do fim do round. Uma derrota que acabou com uma invencibilidade de 10 lutas e adiou o sonho da brasileira de disputar o cinturão dos galos.

Depois de Amanda atropelar Cyborg, Holm e Randamie, quem poderá representar uma ameaça real a baiana? Definitivamente nomes como Irene Aldana, Aspen Ladd e Juliana Pena nem seriam competitivos. Problema parecido o UFC enfrenta no peso-mosca onde Valentina Shevchenko reina absoluta e sem concorrência a altura. Tudo indica, então, que mais cedo ou mais tarde, Dana White terá que voltar a pensar em uma trilogia entre as duas lutadora mais dominantes do MMA feminino.

Uma outra possibilidade aventada nos bastidores seria uma luta com a grande campeã do boxe Claressa Shields, que inclusive estava no evento já cavando esta luta. A pergunta que tem que ser feita pelo manager da brasileira é se esta luta nas regras do boxe faria algum sentido para a brasileira. Há de se levar em conta que o boxe feminino não é tão bem remunerado como o masculino, ou seja, não seria algo como Conor McGregor fez contra Mayweather para faturar 100 milhões de dólares. Qual o sentido de arriscar o título de maior lutadora de todos os tempos em regras 100% do boxe. Na pior das hipóteses, que fosse um desafio com regras híbridas ou duas lutas (uma nas regras do boxe e outra no MMA).  Qualquer possibilidade diferente desta não faria sentido e não seria justa.

O fim da era dos longos reinados

Uma outra lição deste UFC 245 foi o fim da era dos reinados nas divisões masculinas. A derrota de Max Holloway para Alexander Volkanovski mostrou que o aumento da competitividade no esporte tem deixado cada vez mais difícil a longa manutenção dos cinturões. Hoje, só Jon Jones tem mais de cinco defesas de cinturão e tudo indica que esta seja uma tendência natural do esporte.

Brasil

Com um jogo taticamente perfeito, Volkanovski neutralizou o volume de Holloway e venceu a luta por pontos trazendo emoção para a divisão dos penas. Agora, nomes como Zabit Magomedsharipov, Brian Ortega e o próprio José Aldo voltam a ter chances de brigar pelo cinturão.

Aliás, a derrota de Holloway após um reinado de pouco mais de dois anos deixa no ar a pergunta: será justo o havaiano roubar do brasileiro José Aldo, que reinou por seis anos invicto, o título de maior peso-pena da história?

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