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Tido como azarão por muitos, a vida do brasileiro prova que estará em igualdade contras Velasquez, e tem tudo para surpreender
Minha primeira vez diante de Junior “Cigano” dos Santos foi em 2007. O lutador já tinha cinco vitórias no MMA, sendo quatro por nocaute e uma por finalização, e era apontado pelos amigos e mestres Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro como um cara que faria barulho no esporte.
Num ringue improvisado na garagem de uma casa na Barra da Tijuca, numa noite quente no Rio de Janeiro, Cigano se preparava para a luta contra Joaquim Mamute no evento brasileiro MTL. Os irmãos Nogueira ainda planejavam o centro de treinamento que meses depois seria erguido no Recreio dos Bandeirantes e hoje abriga uma das equipes mais bem sucedidas do mundo. Tímido, quase sem falar, meio bronco, o lutador buscava se aperfeiçoar, principalmente nas técnicas de jiu-jitsu. Não estava errado, precisava melhorar. Semanas depois amargurou a primeira das duas derrotas da carreira, finalizado por Mamute, numa tentativa equivocada de escapar da chave de braço.
A grande lição com esta derrota foi justamente aumentar a gana pela evolução, e isso Cigano fez em todos os sentidos, não se restringindo apenas à técnica. Recuperado do revés com um nocaute contra Geronimo “Mondragon” dos Santos, em 2008, o brasileiro, para a surpresa de muitos, assinou com o UFC. Logo na estreia mostrou a que veio ao nocautear o mais experiente e favorito absoluto Fabrício Werdum, no UFC 90.
Em pouco tempo, o garçom que tardiamente começou a praticar artes marciais estava no maior evento de MMA do planeta, superando todos os desafios impostos, dentro e fora do Octógono. Após o triunfo contra Roy Nelson, em agosto de 2010, foi chamado para ser um dos treinadores principais na 13ª edição do reality show “The Ultimate Fighter”, nos Estados Unidos, contra Brock Lesnar. Ele nem sabia falar inglês, mas aceitou o desafio e, nas gravações, já se fazia ser entendido por todos no idioma. Humilde, um atleta que passava dificuldades, Cigano embalou uma série de dez vitórias, ganhou fama internacional, enriqueceu financeiramente e se tornou o peso pesado número 1 do mundo, detentor do cinturão. E tudo isso sem deixar a peteca cair, agindo sempre com tranquilidade frente aos novos horizontes e mantendo os pés no chão. Um cara seguro, consciente, inteligente.
Foi aí que veio a segunda derrota, massacrado por Cain Velasquez no UFC 155, o mesmo Cain que ele havia vencico por nocaute um ano antes. Logo se especulou que a fama, aliada a série de compromissos extra-luta, o atrapalharam. E para o desafio deste sábado, no UFC 166, em Houston, a grande maioria vê Velasquez como favorito.
Mas, assim como a primeira derrota teve efeito positivo em Cigano, a mais recente, contra Cain, pode surtir como combustível para uma nova fase do brasileiro. Velasquez, provavelmente, vai ter pela frente o adversário mais duro que já enfrentou.
Vale lembrar que na sua vitória contra o americano, em novembro de 2011, Cigano nocauteou em apenas 1min4s e, na derrota, em dezembro de 2012, apesar de ter sido dominado, mostrou uma vontade tremenda, tendo suportado o forte castigo por cinco rounds que pareciam eternos.
Neste sábado, no UFC 166, não haverá favorito em Houston. Teremos no Octógono dois lutadores em igualdade. Que vença o melhor, e que o melhor seja brasileiro!