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Os fãs do MMA que vibram com o reconhecimento aos grandes ícones que fizeram a diferença na história do esporte tiveram uma semana repleta de motivos para comemoração.
Enquanto no Brasil o projeto da estátua de Carlson Gracie no metrô em Copacabana finalmente saiu do papel, recebendo o sinal verde da secretaria de conservação do município, em Londres, durante a realização do UFC no último sábado, Michael Bisping, maior ídolo do MMA inglês, foi pego de surpresa ao ser informado que seu nome seria incluído no Hall da Fama da organização.
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O anúncio foi feito durante o evento e pegou Bisping, que estava na plateia, completamente de surpresa. "Esses filhos da p***... eu não tinha ideia!", disse o "Conde" enquanto era aplaudido de pé pelos fãs no ginásio. O reconhecimento do UFC ao maior ídolo da história do MMA inglês foi um belo consolo para os fãs que saíram do ginásio desapontados com o resultado da luta principal: um nocaute do norte-americano Jorge Masvidal sobre o homem que muitos apostavam que seria o substituto de Bisping como maior ídolo do MMA inglês, Darren Till.
Com 40 anos recém-completados, Michael Bisping lutou MMA profissionalmente por 13 anos. Apesar de não ter demorado a figurar entre os Top 10 da divisão, o inglês nunca foi visto como um "provável" campeão. Até que em 2016, após três vitórias consecutivas, uma delas sobre Anderson Silva, enfim recebeu a oportunidade de disputar o título dos médios contra Luke Rockhold e calou o mundo, com um nocaute no 1º round, nesta que é considerada até hoje uma das maiores "zebras" da história do evento. Na sequência, Bisping defenderia o cinturão com sucesso uma vez, numa revanche contra Dan Henderson, antes de perder o título para Georges St-Pierre em novembro de 2017. O inglês decidiu parar um mês depois, alegando complicações com sua visão, após sofrer uma derrota para Kelvin Gastelum.
Michael se aposentou com 30 vitórias e nove derrotas no cartel. Apesar de não figurar entre os mais brilhantes lutadores da história, o inglês merece muito figurar no Hall da Fama do UFC. Além de ter sido um dos mais divertidos trash talkers do esporte, Bisping sempre foi um atleta que se posicionou contra o doping, mostrando a nova geração que o trabalho duro pode superar o talento. O "Conde" também teve participação fundamental na popularização do UFC na Europa. A cerimônia de inclusão será realizada dia 5 de julho, em Las Vegas, durante o fim de semana do UFC 239. Ele é o primeiro nome anunciado da classe de 2019 do Hall da Fama.
Uma estátua do homem que popularizou o jiu-jítsu
Se os fãs ingleses tiveram motivo para comemorar a indicação de seu maior ídolo ao Hall da Fama, no Brasil a celebração tem sido ainda maior. Depois de 10 anos de muita burocracia, finalmente o município do Rio de Janeiro autorizou a instalação de uma estátua de Carlson Gracie (1933–2006) na Rua Figueiredo de Magalhães, ao lado da estação Siqueira Campos do Metrô de Copacabana, na cercania da academia do lendário mestre.
“Saía governo e entrava governo e faltava vontade política das autoridades, até que a atual chefe de gabinete da secretaria de conservação, Adriana Menezes, que é praticante de jiu-jítsu e sabe da importância do Carlson, abraçou o projeto e finalmente nos ajudou a tirar esta estátua do papel”, me revelou por telefone Maurício Saddam, faixa-preta de Carlson e idealizador do projeto.
O sinal verde da secretaria de conservação do município pode ser considerado uma vitória histórica que extrapola o jiu-jítsu e até o mundo das artes marciais, afinal de contas, o poder público nunca havia permitido uma homenagem a um lutador numa via pública na cidade. Ter a estátua em tamanho real de Carlson Gracie de kimono na saída do metrô de Copacabana, onde passam diariamente milhares de cidadãos, significa o reconhecimento do poder público da importância do jiu-jítsu, do MMA e outras artes marciais como ferramentas de inclusão social.
Além de ser o maior lutador da família Gracie por 19 anos, Carlson foi na verdade o principal responsável pela popularização do jiu-jítsu entre as classes menos abastadas. Se hoje milhares de brasileiros vivem com dignidade ensinando jiu-jítsu no mundo todo e já se debate a possibilidade real de a modalidade virar esporte olímpico, mestre Carlson tem enorme participação nesta história, assim como seu pai, Carlos, e seu tio Hélio Gracie.
Carlson teve ainda participação fundamental na expansão do MMA. Afinal de contas, grandes ícones da primeira geração do Vale-Tudo foram formados por ele. Nomes como Murilo Bustamante (primeiro campeão brasileiro do UFC), Vitor Belfort, Conan Silveira, Carlão Barreto, Allan Goes, Wallid Ismail, Mario Sperry, Ricardo Arona e tantos outros. Não por acaso, hoje as principais equipes de MMA do mundo têm entre seus treinadores faixas-pretas formados pelo mestre Gracie: Nova União (André Pederneiras); ATT (Conan e Parrumpinha), Alpha Male (Fábio Pateta) e tantas outras.
Os custos com a escultura (feitura e manutenção) serão inteiramente financiados por alunos do mestre. Mauricio Saddam revelou inclusive que a estátua, que terá 200kg de bronze, já começou a ser esculpida por Edgar Duvivier, artista que produziu a estátua de Clarice Lispector no Leme e Nelson Rodrigues em Copacabana. Segundo o idealizador do projeto a escultura será inaugurada em agosto na praça Shimon Peres em Copacabana, na esquina da Figueiredo de Magalhães com a Rua Tonelero, nas cercanias da estação de metrô Siqueira Campos, ao lado da lendária academia onde Carlson formou tantos campeões. O detalhe curioso é que a estátua será interativa.
“O Carlson vai estar em pé segurando a faixa com uma mão e a outra mão estendida e com os dedos abertos para que o transeunte possa tirar uma foto apertando a mão do mestre naquele cumprimento nosso mundialmente conhecido”, finalizou Saddam.
Hoje, há 351 estátuas distribuídas pela cidade, em sua maioria homenageando militares, ícones da música, da poesia e do futebol. A grande vitória na aprovação da estátua de Carlson está no fato de o poder público e a sociedade finalmente começarem a entender personagens, antes restritos ao círculo das artes marciais, como ícones esportivos nacionais. Fica a nossa torcida para que a homenagem a Carlson Gracie abra caminho para a aprovação do projeto da estátua dos irmãos Carlos e Hélio Gracie, que afinal de contas são os grandes responsáveis pelo inicio de toda esta história a partir do encontro com Conde Koma no início do século passado. Uma revolução cujo impacto só pode ser mensurado pelo número de pessoas de todas as nacionalidades que hoje tiram o sustento de suas famílias através do jiu-jítsu e do MMA.