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Quem diria que quatro anos depois daquele fatídico 7x1 que tirou o Brasil da Copa do Mundo em casa, o mesmo placar seria motivo de comemoração, só que agora na casa do adversário e num outro esporte, o MMA. O autor da façanha foi Ronaldo Jacaré, que nocauteou o carrasco brasileiro Chris Weidman no terceiro round da luta co-principal do UFC 230 no último sábado, calando os 17 mil norte-americanos que lotaram o Madison Square Garden na expectativa de ver seu ídolo derrotar o sétimo oponente brasileiro
Como costuma acontecer em toda luta entre grapplers condecorados, o combate foi todo em pé. Weidman começou melhor, apostando na sua maior envergadura para conectar jabs que lhe garantiram o primeiro round com folga. Mesmo sangrando bastante pelo nariz, Jacaré voltou no segundo mostrando a raça que lhe é peculiar e foi pra cima apostando no fato de Weidman não golpear bem quando anda para trás. Deu certo. Apesar de não ter conectado sua direita com precisão, o brasileiro cresceu e começou a mudar os rumos do combate. Na minha contagem, Ronaldo venceu este round, apesar de dois dos três juízes discordarem.
Escolado em perder lutas em decisões polêmicas (como contra Yoel Romero e Luke Rockhold), desta vez o brasileiro decidiu não arriscar e voltou caçando Weidman no terceiro round em busca do nocaute a qualquer custo. Assustado, o All-American passou a andar para trás até, finalmente, ser acertado por um direto na testa e cair semi-nocauteado aos 2min46s. Ao perceber o oponente fora de combate, Jacaré deu um dos maiores exemplos de fair play da história do esporte e, ao invés de continuar a golpeá-lo, apenas aguardou a definição do árbitro Dan Miragliotta. Uma decisão arriscada, vide os casos de Anderson Silva e Michael Bisping, e Murilo Bustamante e Matt Lindland. Curiosamente, enquanto Weidman ensaiava uma recuperação segurando uma das pernas de Jacaré, o brasileiro ao invés de atacá-lo, dava uma bela bronca no árbitro que, finalmente, decidiu interromper o combate, decretando a primeira vitória de um brasileiro sobre Chris Weidman.
O bicampeão mundial absoluto de jiu-jítsu manteve a escrita de sempre voltar muito melhor após uma derrota e apagou aquela péssima atuação diante de Kelvin Gastelum no Rio. Foi muito bom poder ver que, mesmo apostando alto priorizando sua zona de conforto numa equipe pequena em Orlando, sem sparrings do seu nível, Jacaré ainda conseguiu vencer um dos melhores lutadores da história dos médios.
Mas vale notar que a partir daqui o sarrafo sobe. Para reduzir os riscos, o brasileiro precisará se dedicar ainda mais à preparação física para voltar a ter a aquela força e explosão incessantes que sempre aterrorizaram seus oponentes, além de investir na contratação de sparrings de wrestling ou kickboxing, dependendo de quem o UFC definir como seu próximo oponente.
Será que agora Jacaré lutará pelo cinturão?
Esta era a pergunta que todos faziam ao brasileiro após a vitória sobre Weidman. Depois de dar tantas lições de superação em várias “voltas por cima” em sua carreira, ninguém discute que Jacaré merece muito coroar sua carreira disputando o cinturão em sua próxima luta. Ainda mais sendo esta uma revanche contra Gastelum ou Whittaker, que certamente o motivariam como nunca para manter outra escrita (Jacaré nunca perdeu uma revanche).
O problema é que, mais uma vez, logo quando o faixa-preta consegue uma boa sequência de vitórias sobre ranqueados, o timing não lhe favorece. Na coletiva após o evento Dana White sugeriu que a luta entre o campeão Robert Whitaker e o desafiante Kelvin Gastelum (#4) será no UFC 234, no dia 9 de fevereiro na Austrália. Obviamente lutando em fevereiro, o campeão só deverá colocar seu cinturão em jogo novamente a partir de junho. Numa categoria tão competitiva é muito difícil que o UFC deixe um lutador como Jacaré oito meses de folga.
Soma-se a isso o fato de existirem vários postulantes no topo da divisão. Como Luke Rockhold, que se contundiu para a luta com Weidman, mas disse que estaria pronto em Janeiro. Mesmo vindo de derrota para Romero, vale lembrar que Rockhold (#2) já venceu Jacaré no Strikeforce e continua uma posição à frente do brasileiro no ranking (Jacaré deve passar a 3º após a vitória sobre Weidman).
Outro nome que ganhou ainda mais força após este UFC 230 é o de Israel Adesanya (#9), que conquistou sua 15ª vitória no MMA nocauteando Derek Brunson (#6), recebendo o bônus de Performance da Noite e ainda merecendo um elogio rasgado do patrão Dana White. “Gosto dele demais! Mas não quero acelerar tanto as coisas como ele quer. Nós já temos um oponente em mente para o Adesanya”, garantiu o presidente na coletiva após o evento, dando a entender que o nigeriano faria pelo menos uma luta antes de se credenciar ao title-shot que pediu. Levando em conta o investimento alto que vem fazendo no nigeriano, só faria sentido os nomes de Jacaré ou Rockhold, os dois únicos sem compromisso marcado, que estão acima dele no ranking.
Por falar em apostas do patrão, quem também poderia ter chances de furar a fila de Jacaré seria Paulo Borrachinha (#8) caso vencesse Yoel Romero (#1). A luta ainda não foi confirmada oficialmente pelo UFC, mas segundo o mineiro declarou no “Sensei Sportv”, deverá ocorrer ainda em janeiro. E o vencedor deste combate também deverá embaralhar ainda mais cartas da divisão, afinal Romero é o número 1 do ranking e também já venceu Jacaré.
O fato é que depois de tudo que passou, não é hora de Jacaré desanimar. O próprio Dana White se disse muito impressionado com o que viu no sábado. “Jacaré agora se colocou em uma boa posição e vamos ver o que faremos. Tenho muito respeito por caras que fazem o que ele fez”. A partir de agora o brasileiro deve se manter na ponta dos cascos. Na eventualidade de uma contusão de Gastelum ou Whitaker, certamente será um dos primeiros cogitados.
Cormier cogita despedida com Lesnar, Jones e Miocic
Depois de protagonizar um dos lances mais imprevisíveis do ano ao nocautear Stipe Miocic no 1º round no UFC 226 em julho, conquistando seu segundo cinturão, o campeão dos pesados voltou quatro meses depois para defender seu título numa luta absolutamente previsível contra o gigante Derrick Lewis. Como esperado por todos, DC deu uma aula de wrestling no “Black Beast”. Derrubou quando e como quis e definiu o combate a 2m14s do 2º round com um mata-leão. Na coletiva após o evento, DC confirmou que pretende mesmo fazer apenas mais uma luta antes de se aposentar. Deixou claro que sua preferência seria Brock Lesnar, mas se este não puder lutar, a trilogia com Jon Jones também seria uma opção, mas valendo o cinturão dos pesados. Cormier também disse que se Brock não puder e Jones perder para Gustafsson, aceitaria dar a revanche para Miocic sem problemas. Independente do oponente, por tudo que fez em suas últimas lutas, DC já carimbou seu nome entre os maiores nomes do MMA de todos os tempos.
Pezão, o reforço brasileiro entre os pesados
Num momento de escassez de representantes brasileiros entre os pesados do UFC (Só temos Cigano entre os Top 15), a volta de Marcos Rogério Pezão à divisão neste UFC 230 foi uma grata surpresa. Como havia declarado em entrevista ao Combate, Pezão aproveitou os 18 meses de suspensão impostos pela USADA (acabaria absolvido comprovando contaminação cruzada) para melhorar seus pontos fracos (wrestling e jiu-jítsu). E esta evolução foi comprovada em sua luta contra o polonês Adam Wieczorek, que vinha de duas vitórias no UFC.
Além da clara melhora no wrestling ofensivo, tendo derrubado o polonês várias vezes, o paulista mostrou enorme evolução no chão. Pezão raspou, mostrou segurança da meia-guarda, fez boas transições e venceu por decisão unânime sem ser ameaçado em nenhum momento.
Se continuar se dedicando nos treinos na ATT, o paulista tem tudo para, em breve, se juntar ao parceiro de treinos Junior Cigano entre os Top 15 do ranking dos pesados. Para isso, no entanto, é essencial continuar investindo no wrestling defensivo e, principalmente, na sua principal arma, o kickboxing. Com 86 lutas de kickboxing e 80 vitórias (39 por nocaute), se estiver com seus chutes e movimentação afiados, Pezão pode ser uma luta dura para qualquer peso-pesado da divisão. Basta continuar buscando evolução, aproveitando a estrutura e o material humano que tem à disposição diariamente na maior equipe de MMA do mundo
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