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Blog do Marcelo Alonso

Borrachinha vai ser campeão do UFC?

Talvez esta seja a pergunta mais debatida entre fãs do MMA nacional nos últimos dois anos. Desde que estreou no maior evento do mundo em 2017 trazendo um pacote de carisma, força física, explosão e muitos nocautes (foram 4 em 15 meses), o mineiro Paulo Henrique Costa passou a ser a maior esperança de renovação brasileira na categoria onde Anderson Silva reinou absoluto por seis anos.

Se por um lado as duas últimas vitórias (sobre Uriah Hall e o ex-campeão dos meio-médios Johnny Hendricks) trouxeram mais confiança para os fãs, por outro levantaram suspeitas sobre as brechas defensivas do brasileiro que, para muitos, poderiam ser escancaradas quando ele enfrentasse algum top 10 da divisão.

Aliás, em se tratando de Borrachinha, vale notar que, pelo menos até sábado, os fãs se dividiam em três grupos: os que o consideravam a nova versão do Vitor Belfort no ápice já pronto para lutar pelo cinturão; um segundo grupo formado pelos mais céticos, que apostavam que o mineiro seria um lutador limitado, sem defesas de quedas e nem chão, ou seja, um mero produto de marketing do UFC; e um terceiro grupo, no qual me incluía até sábado, que considerava Borrachinha com um potencial absurdo, mas que ainda teria que galgar os degraus da divisão sem pressa, não considerando uma boa decisão um primeiro teste de fogo logo com o nº 2 do ranking Yoel Romero. Afinal de contas, além de ser o melhor wrestler da divisão, o cubano ainda trazia um pacote completo com gás olímpico, explosão, poder de nocaute e muita experiência, além de já ter no currículo vitórias por nocaute sobre campeões como Weidman, Lyoto, Rockhold e Tim Kennedy e 10 rounds de guerra contra o atual campeão linear Robert Whittaker.

Mas o fato é que, quanto maior o risco, maior a recompensa. E depois do que apresentou nos 15 minutos de guerra com Romero no último sábado, o mineiro mostrou aos fãs mais reticentes que não tem nada de marketing e, de fato, tem tudo para ser o próximo campeão brasileiro do UFC.

Mesmo tendo achado que o misto de atleticismo e malandragem do cubano lhe garantiram os 2º e 3º rounds (sendo o 2º por uma pequena margem), considerei a decisão em favor do brasileiro perfeitamente plausível. Não só porque Borrachinha buscou mais a luta desde o início, obrigando o cubano a jogar no contra-ataque, mas principalmente pela maneira vil com que Romero aplicou uma dedada no olho do brasileiro no 2º round (a câmera lenta deixou claro que foi absolutamente intencional) e de fato mudou os rumos desta parcial. A impressão que tive é que os juízes, que têm acesso ao replay, pesaram esta atitude na decisão do round mais parelho da luta em favor do brasileiro (os três deram o 2º round para Borrachinha). Com o 1º round claro para o brasileiro e o 3º claro para o cubano, o 2º round foi definitivo para esta vitória unânime de Borrachinha (triplo 29 x 28), o que acabou servindo até como uma lição tardia para o cubano, que já havia vencido duas lutas com o vergonhoso empurrão da “malandragem”. Tanto contra Tim Kennedy, quanto contra Ronaldo Jacaré. Definitivamente, a justiça tardou, mas chegou.

Borrachinha saiu do Octógono vaiado pela torcida local, mas teve sua vitória e bela atuação reconhecidas por Dana White, que além de premiar este combate como Luta da Noite, disse à imprensa que o brasileiro deverá mesmo ser o próximo a lutar pela cinta com o vencedor de Adesanya e Whittaker no UFC 243 (5 de outubro).

Seja quem for o vencedor, Borrachinha sabe que terá pela frente outra guerra.

Mas, por tudo que mostrou contra Romero, não tem nada a temer, independente do oponente. Com a agressividade, explosão e poder de nocaute que tem, o brasileiro pode ser uma luta ruim para qualquer um. E mesmo que não conquiste o cinturão já na próxima luta, pelo que mostrou no UFC 241, sobram motivos para otimismo por parte dos fãs brasileiros. Se aos 28 anos conseguiu vencer o homem que derrotou Weidman, Lyoto, Rockhold, Jacaré e Tim Kenedy, imagine o que Paulo Costa não será capaz de fazer daqui a dois ou três anos de treinos. 

Miocic e a virada inspirada em Anderson Silva

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A noite já estaria completa para os fãs após as históricas lutas entre Nate Diaz e Anthony Pettis, e Romero vs Borrachinha, mas ainda faltava a cereja do bolo. A revanche que valia o cinturão dos pesados e, para muitos, o título de maior peso-pesado da história do UFC entre Daniel Cormier e Stipe Miocic.

Com uma tática perfeita o campeão Cormier dominava a luta com tranquilidade até o fim do 3º round. Alternando entradas de quedas com um volume impressionante de golpes, DC não permitia que Miocic controlasse a distância e dava a impressão de que venceria sem dificuldades os 5 rounds num verdadeiro baile tático.

Mas no intervalo para o 4º round, o córner de Miocic sugeriu que ele copiasse o que Anderson Silva fez com Cormier na superluta do UFC 200, golpeando a linha de cintura do campeão. Dito e feito. Miocic passou a dominar o centro do Octógono, controlando melhor a aproximação de DC e respondendo com golpes na linha de cintura. O atleta da AKA primeiro acusou um uppercut e baixou a guarda abrindo espaço para a mão direita do descendente de croatas, que o encurralou e definiu a luta por nocaute técnico a 51 segundos do fim do 4º round. Logo após o combate, na conferência de imprensa, Miocic reconheceu que a tática de Anderson Silva no UFC 200 foi sua inspiração para iniciar a virada. Mas ao ser perguntado sobre quem seria seu próximo desafio fez questão de deixar a decisão nas mãos do UFC.

Trilogias ou aposentadoria?

Ao tirar as luvas no Octógono, Cormier deu a impressão de que anunciaria a aposentadoria ali mesmo. Tanto que Joe Rogan, ao vê-lo só com ataduras nas mãos, novamente incorreu no erro de entrevistá-lo após uma provável concussão (como fizera a após o nocaute para Jones), mas Cormier não confirmou. “Tenho que conversar com minha família, não dá para tomar decisões importantes assim no calor dos acontecimentos”, disse o ex-campeão.

Certamente a decisão dele de continuar lutando deverá nortear os próximos passos dos matchmakers do UFC. Apesar do enorme potencial de marketing, uma trilogia com Jon Jones só faria sentido se Cormier tivesse vencido e Jones viesse enfrentá-lo para unificar o cinturão dos meio-pesados e pesados. Por outro lado, Jones já disse que não teria interesse imediato em subir para enfrentar Miocic na divisão dos pesados.

Já para Miocic as possibilidades mais razoáveis seriam a revanche com Ngannou ou uma trilogia com Cormier. Na minha opinião, esta seria a luta mais vendável, afinal de contas cada um tem uma vitória e, de fato, Cormier vinha vencendo com sobras até a metade do 4º round. Esta luta ainda teria o apelo de marketing de definir quem seria o peso-pesado mais dominante da história do UFC e, para muitos, o maior pesado da história. Mas, obviamente, tudo dependeria da decisão de Cormier de se aposentar ou não.

Brasil

E por falar em fortes emoções, o próximo final de semana não tem UFC, mas os subsequentes prometem. No dia 31 de agosto, Jéssica Bate-Estaca defenderá sua cinta na casa da chinesa Weili Zhang (Elizeu Capoeira, Karoline Rosa e Thiago Moisés também estão no card). E no primeiro final de semana de setembro, Khabib Nurmagomedov colocará o título linear dos leves em jogo contra o campeão interino Dustin Poirier (Edson Barbosa, Davi Ramos, Diego Ferreira e Bruno Silva, completam o pelotão brasileiro). Imperdível!