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Blog do Marcelo Alonso

Caminhos para Kron Gracie e Mackenzie Dern

As derrotas dos grandes ícones do jiu-jítsu Kron Gracie e Mackenzie Dern no UFC Tampa, sábado passado, mostraram mais uma vez que no MMA moderno está cada vez mais improvável que um profissional consiga figurar entre os Top 15 do ranking sem dominar, no mínimo, mais uma modalidade, além do seu estilo raiz. Tanto Kron quanto Mackenzie começaram bem sua participação no maior evento de MMA do mundo, mas diante de oponentes com boas defesas de queda e clara superioridade na trocação, não conseguiram levar a luta para seu território e acabaram perdendo por pontos.

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Obviamente essas derrotas não significam o fim da linha; muito pelo contrário. Dern só tem 26 anos e Kron, 31. Com a raça e experiência competitiva que mostraram, ambos têm totais condições de dar a volta por cima. Agora cabe a cada um deles analisar os caminhos escolhidos por outros representantes do jiu-jítsu, que obtiveram êxito no MMA, e escolher seus próximos passos. E nesse quesito o cardápio é variado.

Os principais exemplos do jiu-jítsu

A maior parte dos grandes campeões da arte suave optaram pelo caminho mais árduo: evoluir na trocação. Rafael dos Anjos e Fabrício Werdum, por exemplo, investiram tanto no kickboxing que chegaram a ser campeões do UFC surpreendendo strikers do nível de Donald Cerrone e Mark Hunt em seus próprios territórios.

Ronaldo Jacaré optou pelo boxe. Não foi campeão, mas passou três anos entre os Top 5 da divisão dos médios aplicando muitos knockdowns e impondo respeito contra os melhores da categoria, sempre alternando muito bem suas mãos pesadas com o judô de altíssimo nível que trouxe de Manaus.

Já Charles do Bronx optou por afiar o kickboxing na Chute Boxe, usando sua envergadura privilegiada e talento inato como striker para aplicar knockdowns, levando o oponente para seu habitat natural. Assim se transformou no rei das finalizações (13), batendo inclusive o recorde de Royce Gracie (11).

Outros grandes ícones da arte suave, como Léo Santos e Davi Ramos, ainda não conseguiram entrar no Top 15, mas vêm mostrando clara evolução na luta em pé. Já Rodolfo Vieira, que é o mais condecorado campeão do jiu-jítsu no UFC, acaba de chegar e parece estar corretamente adicionando novas armas a seu jogo, antes de começar a enfrentar lutadores ranqueados. Estratégia corretíssima, por sinal.

Existem ainda os casos onde a evolução na luta em pé é tanta, que o lutador acaba esquecendo sua origem. Este é o caso do tetracampeão mundial Sérgio Moares, que, inclusive, venceu Kron Gracie no mundial de 2008.  Desde que se mudou para Curitiba e passou a afiar seu muay thai na Evolução Thai, Serginho tem conseguido fazer lutas emocionantes na trocação, mas dificilmente leva o oponente ao solo onde certamente conseguiria definir o combate.

Estilo Demian Maia

Assim como Sérgio Moraes, Demian Maia também chegou a investir pesado na luta em pé, mas depois de sofrer o único nocaute de sua carreira, para Nate Marquardt, decidiu voltar às origens e, incentivado pelo treinador Eduardo Alonso, passou a treinar muito wrestling, desenvolvendo um jogo de quedas único, mesclando seus conhecimentos de defesa pessoal de jiu-jítsu com técnicas de luta olímpica que lhe permitiam, normalmente com a ajuda da grade, chegar às costas dos oponentes com facilidade.

O fato é que todos sabiam o que Demian faria, mas ele sempre conseguia encurralar o oponente na grade, atacar o single leg e chegar às costas. Foi assim que enfileirou alguns dos maiores nomes da divisão chegando a disputar o cinturão com Tyron Woodley em 2017. Apesar de não ter conseguido impor suas quedas aos três maiores wrestlers da divisão, Tyron Woodley, Colby Covington e o atual campeão Kamaru Usman (perdeu para os três na decisão) é indiscutível que o faixa-preta conseguiu ao menos neutralizar boa parte das armas dos oponentes. Mesmo não conseguindo o cinturão, como Dos Anjos e Werdum, Demian teve o grande mérito de mostrar que existe, sim, uma segunda alternativa para lutadores de jiu-jítsu que talvez não se sintam tão confortáveis na luta em pé.

Brasil

Diante dos fatos, é de causar estranheza que o estilo híbrido criado por Demian não esteja sendo treinado à exaustão por todo faixa-preta que lute MMA. Demian cansou de declarar publicamente que seu maior ídolo no esporte é Rickson Gracie. Certamente teria o maior prazer em ajudar ao filho de sua grande referência ensinando os vários segredos que aprendeu com wrestlers e trouxe para seu estilo. Certamente Rodolfo Vieira, que está chegando ao UFC e claramente ainda buscando encontrar seu estilo, também seria muito bem recebido pelo paulista.

Se optar por seguir o caminho dos parceiros de treino Nick e Nate Diaz (evoluir no boxe), certamente Kron terá um caminho muito mais longo e árduo a percorrer. Até porque habita uma das divisões mais complexas do UFC. Ao contrário de Kron, Mackenzie Dern mostrou já estar um pouco mais a vontade na luta em pé. Talvez valha a pena investir no poder de nocaute daquela mão direita, obviamente trabalhando as defesas de low kicks e a melhora no footwork. Os treinos de wrestling não podem parar nunca, afinal, por mais que evolua em pé, o jiu-jítsu sempre será seu grande diferencial.

Amanda Ribas e Deiveson Figueiredo

A maior prova de que com dedicação e muito treino o resultado aparece é Amanda Ribas. Com 26 anos e apenas sete lutas de MMA, a mineira teve uma atuação digna de uma veterana diante de Mackenzie Dern. Com uma melhora clara na luta em pé, controlou a distância com maestria evitando a mão forte de Dern, sempre contra-atacando com sequências certeiras. Apenas quatro meses após finalizar Emily Whitmire na estreia, a filha de Marcelo Ribas já mostra que não tardará a chegar entre as Top 5 da divisão mais disputada do MMA feminino. Talento, força de vontade e coração de campeã ela tem.

E por falar em título, quem se aproximou do cinturão dos moscas com uma vitória impressionante neste UFC Tampa foi Deiveson Figueiredo. O paraense surpreendeu o duríssimo Tim Elliott com uma guilhotina no 1º round conquistando sua sexta vitória no UFC. E aproveitando que Henry Cejudo ficará um tempo afastado se recuperando de uma cirurgia, o “Deus da Guerra” não perdeu tempo e convidou o 1º do ranking, Joseph Benavidez, para disputar com ele o cinturão interino.   Possibilidade que faria todo sentido uma vez que Benavidez já derrotou o número dois, Jussier Formiga, que por sinal já venceu Deiveson.

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