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Blog do Marcelo Alonso

As chances de Edgar e Spencer contra os favoritos Holloway e Cyborg

Qual o impacto de uma derrota para um grande campeão? Cris Cyborg e Max Holloway vão matar a curiosidade dos fãs no próximo sábado (27) nas duas lutas principais do UFC 240.

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Depois de perder 13 anos de invencibilidade e o cinturão dos penas, após ser nocauteada por Amanda Nunes, Cyborg volta ao octógono fazendo a última luta de seu contrato com a ex-campeã do Invicta FC, Felicia Spencer.

Já Max Holloway, depois de rápida incursão entre os pesos-leves, numa luta que rendeu a Dustin Poirier o cinturão interino da categoria, volta à divisão dos penas para defender seu título na luta principal do UFC 240, enfrentando o ex-campeão dos leves Frankie Edgar. O evento terá ainda a participação de mais cinco brasileiros.

Enorme disparidade técnica

Poucos campeões na história dos esportes de combate tiveram a grandeza de Cris Cyborg ao encararem uma inesperada derrota. Após perder seus 13 anos de invencibilidade com um nocaute em 51 segundos de luta, Cris se levantou aplaudiu e abraçou a oponente, reconhecendo, sem dar desculpas, a sua superioridade naquele dia.

Sete meses após a fatídica derrota, a paranaense está de volta ao octógono fazendo a última luta de seu contrato contra a invicta Felicia Spencer (7-0). A ex-campeã do Invicta FC fez sua estreia no UFC finalizando no 1º round a australiana Megan Anderson com um mata-leão. Foi, aliás, com este golpe, que Spencer conseguiu quatro de suas sete vitórias.

Indiscutivelmente a canadense vive um ótimo momento, mas isso não é suficiente para mudar o prognóstico da luta. Além de existir uma disparidade técnica abissal entre ambas, o casamento de estilos favorece amplamente a paranaense, que além de ter uma ótima defesa de quedas, também é faixa-marrom de jiu-jítsu.

O fator psicológico poderia até ser colocado em questão, caso a brasileira voltasse a enfrentar Amanda meses após o nocaute. Mas não é o caso. Além de ter começado a treinar nos tempos áureos da Chute Boxe, uma equipe onde nocautes faziam parte da rotina diária, vale lembrar que Cris Cyborg já havia sido testada após uma derrota. Ocorreu em 2014 depois perder para a holandesa Jorina Bars nas regras do muay thai (cinco rounds de três minutos). Meses depois, voltou ao Invicta defendendo seu cinturão com um nocaute técnico em 46 segundos sobre a canadense Charmaine Tweet.

Posto isso, vejo a brasileira com amplo favoritismo e com grandes chances de definir o combate por nocaute antes do 3º round.

As poucas chances de Spencer podem estar na postura da brasileira. Caso Cris venha muito agressiva, querendo apagar o nocaute para Amanda a todo custo, a canadense poderá aproveitar este ímpeto ofensivo para clinchar e chegar às costas da ex-campeã.

No papel, a tendência natural do combate é que a brasileira bloqueie as entradas de quedas da canadense e a obrigue a expor seu ponto fraco, a trocação. Mas aqui vale lembrar que, apesar de ter um boxe absolutamente rudimentar, Spencer é faixa-preta de taekwondo e aplica muito bem chutes na cabeça. Algo que certamente Cyborg deve ter treinado exaustivamente para neutralizar.   

Talvez a maior armadilha para a brasileira esteja no desafio de manter o foco na luta com Spencer, quando o único assunto abordado pela mídia atualmente é sua renovação de contrato com o UFC, que aliás tem sido colocada como condição para que possa fazer a luta que mais faz sentido para o seu legado e para os fãs: a revanche com Amanda Nunes.

O último desafio para o legado de Holloway

Se as pressões externas são o ponto chave para a volta da Cyborg, com relação a Max Holloway é a velha e boa balança que preocupa. Não que Frankie Edgar seja um oponente fácil. Muito pelo contrário, suas credenciais no wrestling e sua história no UFC podem ser, sem dúvida, um teste diferente de tudo que o campeão já enfrentou até aqui. Não é à toa que esta luta já esteve próxima de ocorrer em três outras oportunidades, mas como a última luta de Holloway foi entre os leves, vale lembrar o quão problemáticas foram as últimas passagens do havaiano pelo peso-pena.

Depois das duas vitórias sobre Aldo, houve inclusive um episódio de “concussão em consequência da desidratação” que literalmente tirou o sono do patrão, a ponto de Dana White chegar a cogitar que o havaiano pudesse não voltar a lutar, dependendo da avaliação dos médicos. Após seis meses de descanso, Holloway conseguiu voltar e provar que ainda poderia vencer a balança e defendeu seu cinturão dando um passeio em Brian Ortega.

Brasil

Mas, obviamente, o desgaste físico em decorrência da desidratação ainda está em pauta, tanto que em sua última luta o campeão dos penas foi testado na divisão de cima. Desnecessário dizer que se tivesse vencido Poirier na luta que valia o cinturão interino, estaria treinando agora para enfrentar o campeão Khabib pelo cinturão linear da nova divisão no UFC 242, marcado 7 de setembro em Abu Dhabi.

Mas já contando que, mais uma vez, Holloway não terá problemas para bater o peso, falemos da luta.

A questão técnica interessante aqui é que Edgar traz desafios que o campeão nunca enfrentou. Seu wrestling diferenciado pode, sim, representar um problema. Afinal de contas o campeão que, na teoria tem a luta de solo como seu ponto mais vulnerável, nunca foi testado de costas no chão com um faixa-preta de alto nível por cima. Mas a realidade é que, mesmo que consiga derrubar Holloway, certamente o faixa- preta de Ricardo Cachorrão terá problemas para mantê-lo no solo.

Na luta em pé, ambos têm uma característica parecida que costuma trazer problemas para a maioria dos oponentes: crescem no decorrer dos rounds, sempre apresentando muito volume de golpes. Holloway jogando mais da média para longa e Edgar num imprevisível jogo contínuo de entra e sai, alternando chutes com entradas de quedas, que costumam cansar e confundir oponentes, mas também abrindo possibilidades para golpes de encontro.

O mais provável é que Holloway se utilize de sua vantagem na envergadura para controlar a distância, golpeando Edgar com golpes retos e dificultando sua aproximação nos rounds iniciais, aumentando o volume e buscando o nocaute a partir do 3º round, como fez com Aldo e Ortega.

As chances de Edgar estão em usar a imprevisibilidade entre wrestling e striking que sempre marcou seu estilo, variando suas entradas de quedas em níveis diferentes com seu jogo de entra e sai para aplicar golpes da média para a curta, dificultando o controle de distância de Max Holloway. Vale ressaltar que Edgar melhorou muito a aplicação de chutes baixos em suas últimas lutas, uma técnica que se, combinada com socos, também pode ser um bom caminho para minar o campeão. Apesar de ambos crescerem nos rounds finais, o crescente desgaste pela perda de peso de Holloway, também pode ser usado em favor de Edgar.

Meu palpite é uma vitória por nocaute técnico do campeão no 3º round. Mas a torcida brasileira, sem dúvida, será por uma zebra. Afinal de contas, se Edgar quebrar a banca, José Aldo, que acaba de renovar contrato por sete lutas e já venceu o norte-americano duas vezes, voltaria novamente à briga pelo título.

Outros cinco brasileiros no card

O evento terá ainda a participação de outros cinco brasileiros, além de Cris Cyborg.

Na divisão dos moscas, Alexandre Pantoja (#3), que vem de uma sequência de cinco vitórias em seis lutas no UFC, pega Deiveson Figueiredo (#4), que acabou de perder a invencibilidade em 16 lutas de MMA para o 2º do ranking do UFC, Jussier Formiga, parceiro de treinos de Pantoja na ATT.

Combate muito interessante, que pode ser definido na tática. Ambos têm predileção pela trocação e poder de nocaute, mas Pantoja tem o diferencial de ser faixa-preta de jiu-jítsu. Desde que passou a treinar na ATT, o carioca tem mostrado muita inteligência tática e uma clara melhora na questão física (ganho muscular e atlético). Seu ponto fraco, exposto por Dustin Ortiz, são as defesas de quedas.

Brasil

Depois de alguns meses treinando com Fábio “Pateta” e Urijah Faber na Team Alpha Male, Deiveson mostrou uma impressionante melhora no wrestling, que ficou patente no atropelo sobre John Moraga. Mas contra o brasileiro Jussier Formiga, no entanto, o paraense voltou a mostrar falhas neste quesito. Caiu por baixo nos três rounds e acabou perdendo na decisão. Certamente Pantoja buscará tática semelhante ao parceiro de treinos, enquanto Deiveson tentará neutralizar as quedas, buscando o nocaute incessantemente, como fez em todas as suas lutas.  

Depois de dar um verdadeiro show na estreia no UFC 237, quando foi chamada na semana do evento para enfrentar a compatriota Talita Bernardo na divisão dos galos, duas divisões acima da sua, e venceu por nocaute, Viviane Araújo finalmente fará sua segunda luta no evento. Só que agora no peso-mosca, enfrentando a local Alexis Davis.

Com 28 lutas de MMA, a canadense de 34 anos deve usar sua experiência para buscar o clinch e tentar conter a velocidade e explosão da brasileira. Já Viviane deve evitar o jogo de clinch e se movimentar ao máximo, usando seu maior atleticismo para buscar o nocaute, como fez na primeira luta.  

Revelada no Contender Series Brasil, Sarah Frota estreou tendo problemas para bater peso e foi derrotada por decisão dividida por Livinha Souza.

Quase seis meses após a estreia, a faixa-preta de jiu-jítsu volta ao Octógono contra a local Gilian Robertson. Revelada no TUF 26, a canadense tem predileção pela luta agarrada, tanto que já conseguiu três vitórias por finalização em suas quatro lutas no UFC, mas segundo Marcelo Brigadeiro, sua atleta está muito bem preparada para bloquear o single leg da oponente e investir no nocaute.

A transmissão começa no sábado a partir de 19h (horário de Brasília) no Canal Combate.

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