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Entrevistas

Como a maternidade pode fazer de Mackenzie Dern uma lutadora melhor

A atleta, que enfrenta a brasileira Amanda Ribas neste sábado no UFC Tampa, leva Moa, de 4 meses, para todo canto. E brinca que, com o metabolismo rápido e os instintos aguçados, ela quer ter mais cinco filhos para alcançar o cinturão

O velho ditado já ventila há tempos que, quando nasce um filho, nasce também uma mãe. No caso de Mackenzie Dern, quando nasceu sua filha, veio com a criança não apenas uma nova mãe, mas também uma lutadora muito melhor.

É isso que Mackenzie anda ouvindo – e sentindo – há exatos quatro meses. Moa, a quem a atleta ainda amamenta, a transformou numa nova pessoa. “É tudo muito diferente”, conta a lutadora. “Todo mundo fala que, além de eu estar mais bonita, com aquela luz que as mães têm, a maternidade foi muito boa para mim como mulher, como esposa e também como profissional e como atleta.”

O que mudou na prática? Mackenzie não consegue dizer exatamente, como se tudo estivesse igual, mas, ao mesmo tempo, absolutamente oposto. “É a perspectiva das coisas”, ela tenta explicar. “Até coisas pequenas que aconteciam no treino antigamente, hoje em dia não mexem mais comigo.” Ela afirma que mudou seu olhar e seu julgamento – e entende agora que é preciso dar atenção apenas às coisas que são realmente importantes. “Sou uma pessoa muito mais responsável. E a maternidade me dá uma força maior. Só quem tem filhos sabe que força é essa.”

Moa, como a mãe, nasceu nos Estados Unidos, filha de um pai brasileiro – Mackenzie é filha do lutador de jiu-jítsu Wellington “Megaton” Dias; Moa, do surfista brasileiro Wesley Santos. Ela nasceu em 9 de junho, há exatos quatro meses, e, um mês depois, sua mãe já estava de volta aos treinos. A atleta não acha que foi rápido demais: tudo foi absolutamente planejado.

“Pensei em como seria meu retorno durante a gravidez toda, fiquei com isso na cabeça”, ela conta. “Meu marido é surfista, tem um trabalho bem flexível. Fiquei a gravidez toda viajando com ele e, agora, ele é que está do meu lado.” A atleta revela que ela é quem teve que ficar insistindo para o UFC casar uma luta para ela, porque a organização achava que era cedo demais. “Botei pressão no UFC, falando que eu queria lutar”, conta, rindo.

Por quê? “É importante para mim porque não quero ficar muito tempo parada. Quero chegar no cinturão o quanto antes. Cada dia entram mais meninas sinistras no UFC. Não quero ficar para trás.”

Ela usou o tempo em que ficou parada a seu favor. Viajou para Bali e para Fernando de Noronha para surfar com o marido. “Surfei de barrigão, foi muito engraçado”, ela lembra. “Tirei esse tempo para mim e para minha família. O surfe me ajuda a ter paz de espírito. Foi por causa dele que conheci meu marido e tive minha filha. É muito bom estar no mar, recarregar as energias. Sou acostumada a lutar contra pessoas e no mar a lógica é diferente. Não posso lutar contra a onda. Tenho que fluir com ela, não brigar com ela.”

Mas o período de seca do Octógono, que dura desde maio do ano passado, deixou Mackenzie com sede de lutar. “Estou fazendo isso porque eu amo. Não luto mais por dinheiro. Mas porque quero que a Moa veja que estou lutando por ela, por um motivo.”

Pouquíssimo tempo depois de dar à luz, Mackenzie já estava em forma. “Meu corpo conseguiu perder muita gordura. Nem eu sei muito bem como. Ganhei muito pouco peso durante minha gravidez, só 5 quilos a gestação toda. Minha filha nasceu com 3 quilos. E amamentar ajuda bastante. Além disso, meu metabolismo está mais rápido. Gostei tanto de ser mãe que acho que vou fazer mais uns cinco filhos”, ela brinca. “Um por ano, até chegar no cinturão.”

Moa vai para cima e para baixo com a mãe. E está acostumada ao ambiente. “Ela dorme mesmo com o barulho dos atletas batendo no saco de pancadas.” Mas a rede de apoio de Mackenzie é completa: ela conta com o auxílio da mãe, que mora perto, do pai (que mora em outro estado, mas está sempre lá) e da sogra, que está na casa do casal por um tempo, para curtir a neta e ajudar.

Esta é a primeira Fight Week de Moa. Ela está com a mãe agora em Tampa, na Flórida, onde Mackenzie enfrenta a também brasileira Amanda Ribas. “Ela dormiu o voo todo, não sentiu nada. Fiquei com medo da pressão no ouvido, mas ela não reclamou. Acho que é porque viajei muito durante minha gravidez.”

A atleta apelida este camp que fez para enfrentar Amanda como o “camp Mackenzie Dern”. “Foi muito privado. Sou do time da Blackhouse, mas eu que trouxe as pessoas para serem meus coaches.” Para a trocação, ela treinou com o coach da casa, Juan Gomez. Para afiar o wrestling, contou com a ajuda de Bubba Jenkins. Para o jiu-jítsu, com o pessoal do Mendes Bros. “Isso porque meu pai estava no Arizona. Mas é ele quem vai estar no meu córner.”

Ela diz que aceitou a luta contra Amanda porque a adversária é uma atleta difícil e, caso ela ganhe, vai subir no ranking. “Não quero lutar por lutar. Quero lutas que acrescentem”, afirma. “Não vi muita trocação na última luta dela. Ela quis levar pro chão muito rápido. Eu nunca enfrentei no MMA uma faixa-preta de jiu-jítsu, mas também acho que ela nunca lutou com alguém com meu nível de chão”, diz a campeã do Pan-Americano, do Europeu e do Mundial do esporte. Invicta em sete lutas, ela acredita que é no chão que as coisas vão se resolver no combate. “Mas estou bem confiante na minha trocação. Se eu vir que estou encaixando muito os golpes, penso duas vezes.”

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O UFC Tampa será transmitido com exclusividade e começa às 17h30 (horário de Brasília). Saiba todos os detalhes para assistir todas as lutas clicando AQUI