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Criado na cracolândia, projeto social que ensina jiu-jítsu para crianças e adolescentes expande em São Paulo

Idealizador do Lutar para Vencer, o ex-lutador de MMA profissional Matheus Serafim pretende atender 5 mil alunos até o fim do ano com ajuda do poder público

O número que o lutador de jiu-jítsu e ex-atleta profissional de MMA Matheus Serafim mais tem orgulho é 20. Foi essa a quantidade de dependentes de crack, uma das drogas mais incapacitantes que existem, que seu projeto social conseguiu recuperar.

O Lutar para Vencer foi criado por Matheus há dois anos na cracolândia, local no centro de São Paulo em que usuários e dependentes de crack se reúnem para morar e consumir a droga.

Com o objetivo de apresentar o esporte para ajudar os frequentadores do local a enfrentar a dependência, Matheus manteve o projeto social, inteiramente bancado por ele e seu pai, por seis meses lá. “Tivemos um sucesso enorme”, diz ele. “Tiramos 20 dependentes das drogas. Eles estão totalmente curados, fora do crack, inclusive ainda estão no projeto.”

Durante o tempo em que esteve na cracolândia, o Lutar para Vencer recebeu cerca de 700 pessoas. “Era muita gente rodando, treinando, conhecendo o jiu-jítsu”, afirma Matheus. “Acredito muito que o esporte, a luta, é uma das maiores armas contra as drogas. Essa é a minha luta diária.”

Matheus decidiu mudar a sede do Lutar para Viver para poder atender outros públicos e dar aos que haviam saído do crack a oportunidade de continuar a treinar. Contou com a ajuda do amigo Fernando Lopes, o Mestre Fepa, idealizador de um outro projeto social, o Pedra 90. Os dois uniram forças e mantêm espaços juntos. “Hoje temos vários polos do Pedra 90 e do Lutar para Vencer na cidade.”

Só na favela de Heliópolis, a maior de São Paulo, localizada na zona sul, um dos locais em que o Lutar atua, Matheus mantém cerca de 500 crianças e adolescentes – ao todo, contando com os outros polos, são quase 1000 alunos de até 14 anos. “Nosso objetivo é entrar em todas as grandes comunidades de São Paulo”, diz ele.

O professor pretende alcançar 5 mil crianças e adolescente até o fim deste ano de 2020. Para isso, vai passar a contar com a ajuda do poder público. “Fechei uma parceria com o presidente da Câmara, Eduardo Tuma, que vai ajudar a manter e a expandir o projeto”, conta, orgulhoso.

Sua ideia é levar o Lutar para diversas outras regiões da periferia da cidade. Uma área em Paraisópolis, segunda maior comunidade paulistana, com mais de 100 mil habitantes, já está sendo preparada para receber um polo do projeto.

Matheus, que é irmão do também lutador Rodrigo Serafim, responsável por introduzi-lo no jiu-jítsu, teve uma carreira no MMA que começou ainda no antigo vale-tudo, com 17 lutas e três derrotas. Agora, voltou à raiz, como ele diz: está de novo competindo jiu-jítsu. “Não gosto de treinar sem ter objetivo de competição. Acho que está no sangue.”