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Depois da longa espera, Ronys Torres entra no Octógono

Por Martins Denis - Mais de um ano se passou desde que Ronys Torres, um manacupuruense do estado do Amazonas, assinou seu nome na linha pontilhada de um contrato do UFC. 

As expectativas para a estréia do competidor que possui um recorde de 18-1 (oito finalizações, oito KOs/TKOs e apenas duas decisões) eram grandes, porque depois de ser escolhido um dos melhores atletas no Brasil em 2008, Ronys estava indo mostrar para aqueles fora do Brasil o que o fez ser tão comentando em seu país de origem.   

 

Por Martins Denis 

Mais de um ano se passou desde que Ronys Torres, um manacupuruense do estado do Amazonas, assinou seu nome na linha pontilhada de um contrato do UFC. 

 

As expectativas para a estréia do competidor que possui um recorde de 18-1 (oito finalizações, oito KOs/TKOs e apenas duas decisões) eram grandes, porque depois de ser escolhido um dos melhores atletas no Brasil em 2008, Ronys estava indo mostrar para aqueles fora do Brasil o que o fez ser tão comentando em seu país de origem.   

 

Porém, como em uma novela, as coisas mudaram de rumo e más notícias vieram quando duas contusões - joelho e olho - colocaram o peso leve brasileiro em estado de espera durante o ano passado. E neste caso, para um talento que nunca sofreu uma única contusão séria em dez anos de carreira, o tempo fora de combate não serviu apenas para curar os machucados, mas também para ajustar os estragos invisíveis que elas causaram dentro da cabeça dele. 

 

"O lance era, 'Por que aconteceu isso comigo? Por que?' Eu perguntava a Deus o tempo todo", Ronys disse. "Minha cabeça estava péssima depois das cirurgias, porque eu lutei nove vezes em 2007 e o treinamento para aquelas lutas tinha sido muito duro também. Você não acredita que na hora de mostrar seu valor fora do Brasil, você não está apto para fazê-lo. Eu desmoronei. Não podia suportar. O tempo foi algo que tive que saber lidar e, como eu gosto de falar, minha vida está nas mãos de Deus. Tudo voltou ao normal, minha cabeça está boa e eu estou preparado". 

 

Um dos melhores alunos do ex-lutador do UFC André Pederneiras, Ronys, um homem muito religioso, gosta de dizer que Deus foi o alicerce de seu renascimento, mas pensar de onde ele veio e que tipo de objetivos ele tinha quando começou a lutar, antes de sua estréia no UFC dia 6 de fevereiro contra Melvin Guillard na edição 109, também o confortaram. A cidade, Manacapuru, fica a 98km da capital do Amazonas, Manaus. Não parece tão ruim, mas quando você se liga que precisa embarcar em uma balsa por 40 minutos e então mais 1:30hr e meia de carro, a viagem se torna bem longa.     

 

"Eu vivia no interior do interior de um estado que os estrangeiros pensam que só existem índios", ele diz sorrindo. "Quando eu deixei Manacapuru para viver no Rio de Janeiro em 2006, eu tinha 1-0 no MMA, mas minha intenção era me tornar um campeão Mundial de Jiu-jitsu. Eu não pensava em uma carreira no MMA, muito menos num grande evento como o UFC. Minha mãe, meu pai e minha avó não queriam que eu fizesse essa jornada, eu tinha sido aprovado como sargento da aeronáutica; até meu professor de Jiu-jitsu me disse para não vir, porque viver somente do Jiu-jitsu era praticamente impossível".     

Entretanto o na época faixa roxa de Jiu-jitsu insistiu.   

 

"Minha maior preocupação foi que eu vim morar no Rio de Janeiro contra a vontade dos meus pais e a gente sabe que quando não dá certo se ouve o velho, 'Eu te disse, eu já sabia,'" ele disse. "Morando em uma velha academia da Nova União eu consegui ser campeão Brasileiro e Carioca, fiquei em segundo no Mundial e consegui uma primeira colocação no Estadual de Submission, e tinha uns quatro mil reais na minha mochila que ficava na academia. Um dia eu estava malhando em outra academia e o pessoal me ligou dizendo que a academia havia sido assaltada. Corri pra lá orando, mas os ladrões levaram todas as bolsas que podiam, incluindo minha mochila com o dinheiro".   

 

Esse momento foi demais para o praticante de jiu-jitsu de 21 anos de idade, que começou a chorar e ligou para seus pais para voltar a sua cidade. Isso não aconteceria de forma instantânea, porque ele precisava contar com o apoio da prefeitura de Manacapuru para arcar com a passagem aérea, o que levaria tempo - pelo menos 50 dias - para ser resolvido.     

 

Mas as orações de Ronys foram ouvidas quando no meio desse turbilhão de problemas uma nova oportunidade no MMA em um evento muito incomum apareceu. O evento foi realizado na Cidade de Deus, e se você já assistiu ao filme de 2002 que leva esse nome, sabe o quão perigoso era aquele lugar. Mas para um cara na situação de Ronys, pensar na periculosidade do lugar não era uma prioridade, o que ele precisava eram os quase 500 reais em dinheiro que receberia se vencesse a luta. 

 

"Eu não pensava em nada - peso, adversário ou o quão perigoso era", ele disse. "Meu objetivo era o dinheiro que eu precisava para sobreviver no Rio de Janeiro. É claro que quando a gente vê armas de guerra, a gente se assusta, mas eu não era um policial; eu era um lutador que queria lutar em um evento na Cidade de Deus".     

 

Ronys conquistou sua segunda vitória por nocaute naquela luta e entrou de cabeça na carreira de MMA, lutando mais duas vezes em 2006. No ano seguinte ele lutaria mais nove vezes, incluindo um importante torneio de duas lutas na mesma noite. Porém perderia sua invencibilidade por nocaute em setembro de 2007. Aquele evento foi organizado em sua terra natal e ele era a atração principal, mas não pôde colocar em pratica seu jogo e pagou por isso. Entretanto, perder daquela forma foi mais uma provação de Deus. 

 

"Eu fiz a mesma coisa de perguntar a Deus; porque eu estava muito treinado", ele disse. "Meu pai e meu primeiro professor estavam lá e me disseram que muito lutadores tops já haviam sido derrotados, que tinha sido uma lição. E foi. Perder não é o fim da vida, é parte do jogo". 

 

Graduado faixa preta de jiu-jitsu em 2007, Ronys não sente a pressão a poucos dias de sua luta contra Guillard, e a sua calma é um atributo muito importante nestes últimos dias de preparação. Para alcançar este estágio, a mistura de maus momentos (sua única derrota + as contusões) colaboraram para forjá-lo mentalmente. 

 

"Eu acho que depois desse tempo todo até minha estréia no UFC, eu estou muito calmo. Eu lutei várias vezes no Brasil e ficava nervoso, mas para essa luta contra o Melvin eu estou bem. Eu acho que quando eu sentir o ambiente, a adrenalina vai me pegar. Eu sei disso, e sei como controlar isso. A única noite que eu não dormi bem antes dessa luta foi quando estávamos pensando na estratégia para bater o Guillard".   

A experiência de Guillard (54 lutas) e o estilo dele de evitar o chão e tentar arrancar a cabeça dos oponentes com seus socos são conhecidos por Ronys. Mas existem novidades no treinamento de Guillard, ele esta se preparando com Joe Stevenson e polindo seu jogo de chão. Isso não preocupa Ronys também, principalmente porque ele não acredita que Guillard vai aceitar o jogo no solo. 

 

"Eu tenho treinando Jiu-jitsu desde 1999; eu não posso esperar que ele me derrube e use o que aprendeu, assim como ele não pode esperar que eu troque com um excelente Muay Thai e Boxe", ele disse. "É claro que isso é MMA e eu estou pronto em pé e no chão, mas eu não acredito que ele vá lutar comigo no solo; nós não podemos aprender Jiu-jitsu em apenas seis meses. Ele está vindo de derrotas e um novo resultado negativo não é a sua intenção. Por disso eu acho que eles casaram essa luta - um novato contra um cara que necessita de uma vitória. Ele vai tentar me nocautear e eu sei disso; tudo que precisávamos para ter um ótimo treino foi feito. Agora é hora de esperar pelo momento do show". 

 

Ronys quer mostrar seu estilo para os fãs casuais e para aqueles que já o conhecem, mas não pense que serão apenas seus punhos, chutes, cotoveladas, quedas e finalizações. Sua entrada no octógono e seu visual também vão concretizar seu nome.  

 

"Eu vou de moicano, algumas penas indígenas e a bandeira do amazonas", ele antecipa. "Eu tenho orgulho de estar vindo de Manacapuru e não será só meu jogo que será apresentado, mas a importância que eu sinto por ter nascido no estado do Amazonas".