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Entrevistas

Derrota na última luta fez Cara de Sapato perceber que havia algo errado em seu jogo

O lutador diz que enfrenta Uriah Hall neste sábado no UFC Vancouver com uma cabeça bem diferente

Brasil

Antes mesmo de ver a mão de Ian Heinisch levantada no fim de sua luta no UFC Rochester, em maio último, Antônio Cara de Sapato sabia que as chances não estavam exatamente do seu lado.

Não era, por razões óbvias, o que ele esperava e nem o que queria. Mas ele sabia que, especialmente pelo tempo que havia passado por baixo de seu adversário no fim do segundo round, aquele assalto poderia não ter sido seu.

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Dito e feito: os juízes, por unanimidade, viram que o brasileiro havia ganhado apenas o primeiro round. E Antônio Cara de Sapato amargou uma derrota, a terceira em sua carreira composta de mais 10 vitórias e um no contest.

“Perdi um pouco do foco do que eu precisava fazer naquela luta”, ele conta. “Até pelo tempo que passei longe, por causa de uma lesão. Parece clichê, mas aquela história de a gente aprender muito na derrota é verdade.”

O paraibano ficou um ano longe do Octógono porque teve uma lesão no músculo do peitoral que o obrigou a passar pela primeira cirurgia de sua carreira. Quando – depois da via crúcis da recuperação-fisioterapia-encontrar um adversário – ele finalmente voltou aos combates, não estava com a melhor cabeça possível.

“Teve todo o nervosismo, aquela coisa de querer voltar logo. Estava muito excitado e muito ansioso para lutar e toda essa questão se sobrepôs à questão tática e técnica”, ele diz sobre a derrota. “Como rompi a musculatura do peitoral, fiquei um mês e meio de tipoia depois da cirurgia. Voltei fazendo fisioterapia a passo de tartaruga. Foi um tempo muito difícil. Estava querendo reverter a situação de qualquer forma.”

Isso fez com que o atleta desperdiçasse energia no combate. “Acabei me desgastando mais do que queria. Fiz então muitas correções em meu treinamento do ponto de vista tático e técnico. Nada que vá mudar completamente meu jogo, mas pequenas coisas que, no alto nível, fazem toda a diferença.”

Colaboraram para a derrota os erros que, durante a peleja, Antônio achou que o árbitro Todd Anderson cometeu. “Meu adversário segurou na grade quando eu tentava dar uma queda e o juiz não fez nada. Depois também me acertou uma cabeçada. Isso acabou tirando minha concentração.”

Nesta preparação para enfrentar Uriah Hall, o brasileiro diz ter prestado atenção especial à mente. “Tive três derrotas em minha carreira e em todas eu perdi para mim. Poderia ter ganhado. Em duas das lutas, eu estava simplesmente destruindo o cara, como foi o caso do Ian. E acabei perdendo. Perdi o foco, a concentração por algum motivo, e isso não pode acontecer. Acho que levei muito da vida pessoal para o octógono e agora aprendi a separar isso”, afirma.

Cara de Sapato faz terapia há alguns anos e trabalhou muito a questão do foco e da importância da presença nas sessões, que atualmente são quinzenais. “Isso me ajuda demais. A linha da minha terapia é bioenergética, que mexe com o corpo.”

Essa linha de terapia que Cara de Sapato faz prega que, se combinados, alguns exercícios físicos, massagens específicas e trabalho de respiração são capazes de ativar o fluxo de energia vital da pessoa, renovando-a e trabalhando corpo, mente e emocional juntos.

Antônio também está meditando. E rezando. E procurando se rodear de pessoas com bom astral. “Sou ansioso pra caramba. Preciso fazer o que posso para me deixar com o foco 100% no momento, estar presente mesmo na luta.”

Sobre o desgaste excessivo na luta, ele e sua equipe perceberam o motivo: Cara de Sapato procurava a queda do adversário a qualquer preço, para seguir a luta no chão, que é a sua praia.

“E não era por falta de preparação”, ele explica. E continua: “Eu era nadador, minha capacidade cardiorrespiratória é muito boa, minha preparação física também. Mas sabe quando você vê uma parede na sua frente e tenta derrubar ela empurrando? Era isso que eu queria fazer. Vi que não precisa derrubar a parede assim. Dá a volta nela, abre a porta e entra. Aprendi a levar a luta sem forçar muito uma estratégia só. Parece que, quando você vai mudando e variando, as oportunidades vão aparecendo. Percebi que temos que deixar fluir. Fiz isso e funcionou muito nos sparrings”.

O caminho até o cinturão desceu só um degrauzinho: da 12ª posição que Antônio ocupava antes de Ian, caiu para a 13ª. Isso não desanimou nem um pouco o atleta. “Quero nesta luta com o Uriah Hall sair vitorioso e mostrar como tenho evoluído e que tenho condições de chegar no cinturão e ficar com ele muito tempo. Quero mostrar pro público brasileiro que ele tem com quem contar.”