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Estamos todos confinados. E estamos todos sentindo o peso desse isolamento, que sabemos ser necessário para evitar que a covid-19, a doença provocada pelo coronavírus, se dissemine mais ainda – o que poderia, de fato, piorar a situação.
Ouvimos a todo momento que é hora de estarmos atentos à nossa rotina e de mantermos o otimismo, porque o confinamento pode trazer sérios problemas emocionais e psicológicos. Mas como isso é possível, se a gente é bombardeado de notícia ruim todo santo dia?
O terapeuta transpessoal com especialização em constelação familiar, escritor e empresário Robson Hamuche bateu um papo conosco para nos explicar isso. Autor do livro “Um Compromisso por Dia - Pequenas Ações Diárias que Podem Mudar a sua Vida”, ele afirma que meditação, ler e até arrumar a casa são atitudes importantes. Veja os principais trechos da entrevista:
Pânico, medo, solidão: que tipos de problemas emocionais podem surgir em épocas como a que estamos vivendo?
Nosso cérebro reptiliano [como especialistas em psicologia cognitiva chamam uma das três unidades funcionais do nosso cérebro, a responsável por nossos instintos de sobrevivência] já é feito para nós termos medo. Estamos sempre em momento de tensão, como se fosse acontecer algo em nossa vida, ainda mais com esse monte de notícia ruim da pandemia do coronavírus e a gente sem poder fazer nada, nosso cérebro aguça cada vez mais aquela chavezinha para ficarmos assustados – e, de alguma forma, esses sentimentos vão se potencializando. Isso é normal, eles vão vir mesmo. É preciso aprendermos a lidar com esses sentimentos e não entrar muito nessa onda. Vão vir o pânico, o medo, a solidão, a tristeza, a raiva, a impotência... Veja bem: todos nós vamos vivenciar esses sentimentos porque eles são parte nossa, mas se ficamos muito tempo presos a eles isso pode até nos levar a doenças físicas. Algumas pessoas podem apresentar sintomas como dor de cabeça e mal-estar, dor de estômago, tremedeira, choro etc. O corpo começa a reagir quando deixamos predominar esses sentimentos negativos.
Há formas de evitar esses sentimentos negativos?
Sim, colocando o foco em outras coisas. Arrumar a casa, meditar, ler, fazer exercícios mesmo que dentro de casa, brincar com jogos, enfim, achar soluções para tirar o foco. Sei que a questão financeira também preocupa a muitos, mas essa também é hora de colocarmos a criatividade para fora e pensar em formas de trabalho online, como muitos já estão fazendo. Mexer o corpo é uma boa alternativa porque faz o cérebro entender que as coisas estão caminhando. Outra coisa legal é visualizarmos um cenário daqui alguns meses, quando tudo isso passar. Mentalize você no futuro quando a crise tiver ido embora, quando todos estiverem seguros, quando você estiver com as contas pagas. Isso trará insights para você criar coisas novas. Agora o importante é a saúde de todos nós.
Acredito, de fato, que temos sempre duas formas de encarar as situações: negativa ou positivamente. Mas como manter a positividade em meio a tanta informação sobre o coronavírus? O senhor consegue dar exemplos práticos?
É justamente o que você mencionou: temos o negativismo e o positivismo. Muita gente já é negativa por natureza e, em épocas como a que estamos passando, isso tende a piorar. Se ficarmos presos aos sentimentos ruins, podemos desenvolver até outras doenças em nós. Na internet, tem muita gente disponibilizando um monte de coisas legais para ajudar as pessoas. Ferramentas nós temos, e muitas. Neste período, estou vendo as pessoas ajudarem umas às outras e isso é muito importante. Ajudar alguém pode ser uma forma de você se distrair e tirar o foco das preocupações. Leia livros, faça cursos online, estude muito, tudo isso ajuda a tirar o foco desse caos que estamos vivendo. Quando você aprende algo novo, a vida ganha movimento, você se visualiza atuando nessa nova área e isso vai dar ânimo para seguir acreditando.
Como resolver a dicotomia: temos que nos informar x precisamos parar de ler e ouvir falar sobre o coronavírus?
Quanto menos a gente ficar lendo e assistindo sobre isso, melhor vai ser. É óbvio que temos que estar informados sobre o que está acontecendo no país, mas não devemos ficar 24 horas na frente da TV e na internet vendo notícias sobre o tema. A situação é bem grave, nossa curva já é maior que a da Itália, por isso temos que fazer nosso dever – que é ficar em casa – para virarmos o jogo. Porém, devemos tomar os devidos cuidados também em relação à nossa saúde mental, tentando sempre alternativas para nos distrairmos. Outra coisa importante é NÃO acreditar em qualquer informação enviada por WhatsApp. Tem muita gente espalhando fake news e isso gera pânico na população. Precisamos ver se a fonte é segura antes de acreditar nas mensagens que chegam até nós.
Temos que usar a tecnologia em nosso favor, e não contra. Ligue para aquele amigo do colégio com quem você não fala há anos, mande mensagens motivadoras para amigos e parentes, isso tudo vai ajudar a atravessarmos esta fase com otimismo. Temos que nos juntar a pessoas alegres, para mantermos nossa energia lá em cima.
O senhor pode nos dar umas dicas de exercícios mentais e físicos que estão em seu livro e podem ajudar as pessoas em quarentena?
- Meditar
- Saber dos meus potenciais e colocá-los em prática, mesmo em situação de confinamento
- Ser grato
- Exercitar a autorresponsabilidade
- Pegar um papel e escrever sobre seus sentimentos e pensar sobre eles
- Arrumar a casa da melhor maneira para que você se sinta bem
- Arrumar armários e doar coisas
- Brincar com os filhos
- Se conectar com Deus
Como nos dividir entre o home office e os cuidados com a casa e os filhos? Alguma boa ideia de gerenciamento de tempo?
Se isolar por “x” horas em um cômodo para poder trabalhar e se concentrar, mas tirar intervalos para fazer um lanche, brincar com os filhos, conversar com o companheiro ou companheira etc. O ideal é tomar um bom café e já resolver as coisas mais urgentes do trabalho. Conheço pessoas que até usam roupa social para fazer home office, para sentirem que estão trabalhando de verdade. É preciso tomar atitudes que façam você se sentir no trabalho, mas também se organizar para aproveitar alguns intervalos com a família, lendo ou se distraindo com outras atividades.
O que de bom pode sair de tempos como os que estamos vivendo? Quer dizer: é possível haver um legado?
O legado que esta fase vai nos deixar é enxergarmos que nós dependemos uns dos outros. Que ninguém é melhor que ninguém. Nós precisamos uns dos outros!
Que uma só pessoa do outro lado do mundo pode fazer algo que vai impactar positiva ou negativamente toda a humanidade. Precisamos ajudar uns aos outros e, assim, criamos uma corrente de união. Não podemos sucumbir ao que está acontecendo. Nós vamos aprender muito com essa pandemia.