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Estante marcial

Seis livros sobre luta indicados por dois jornalistas especializados em cultura e obcecados por leitura

O jornalista Ricardo Lombardi trabalhou 25 anos em redações de diários (O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde), revistas (VIP, Bravo) e mídias digitais (foi o chefe das operações da Aol e do Yahoo no Brasil). Em 2014, resolveu largar tudo e abrir, em uma simpática garagem no bairro de Pinheiros, em São Paulo, o sebo Desculpe a Poeira.

Há quase 30 anos no mercado, Marcelo Orozco foi, nos últimos 10, editor da revista VIP. Autor de Kurt Cobain – Fragmentos de Uma Autobiografia, o jornalista também colaborou com diversas publicações, como Playboy, Quatro Rodas e Superinteressante – geralmente escrevendo matérias sobre o tema que lhe é caro: cultura. Ricardo e Marcelo são, acredito, as duas pessoas que conheço que mais leem na vida. Por isso, pedi a eles que me dissessem os três livros que mais gostaram cuja temática fosse luta. Conheça as obras – e inspire-se para lê-las também, porque eles sabem do que estão falando.

Indicação: Ricardo Lombardi

  • Musashi volumes I e II, de Eiji Yoshikawa (Estação Liberdade)

O romance épico japonês – um best-seller com 120 milhões de exemplares vendidos – conta a história de Miyamoto Musashi, o mais famoso samurai da época do xogunato. A saga descreve uma época, entre os séculos 16 e 17, em que o país em crise assistia aos samurais, condenados à miséria por senhores feudais, tentando sobreviver fazendo valer a lei do mais forte. Musashi seguia a vida assim, como um tirano, lutando e derrotando quem cruzasse seu caminho, até que quem o cruza é um monge astuto e cheio de preceitos zen. A longa mas deliciosa obra conta a transformação do jovem sanguinário em um ser evoluído e equilibrado, e é uma metáfora da difícil jornada pela qual um guerreiro tem que passar para alcançar a perfeição técnica.
 

  • Karatê-Dô: O Meu Modo de Vida, de Gichin Funakoshi (Cultrix)

A origem do karatê é complexa. Ligada a artes marciais que se desenvolveram na Índia e depois chegaram à China, desmembradas em duas lutas, a luta alcançou a ilha de Okinawa, no Japão. Mesclada a técnicas nativas, formou outras duas escolas que, por sua vez, acabaram transformando-se em vários estilos que conhecemos atualmente. Um homem foi essencial para que a arte marcial ganhasse o mundo: Gichin Funakoshi. Nesta autobiografia, o pai moderno do karatê-dô trata desde sua infância de Funakoshi na ilha de Okinawa, onde começou a treinar arte marcial, até seus esforços para fazer com que a luta fosse reconhecida no Japão, no início dos anos 1920.

  • O Tao do Jeet Kune Do, de Bruce Lee (Chave)

Escrito e ilustrado por Bruce Lee himself, o livro é um grande manual das técnicas desenvolvidas pelo mestre depois de estudar várias artes marciais orientais e ocidentais. Nele, Bruce Lee explica de maneira clara, com desenhos de próprio punho, seus golpes, mas também mostra a filosofia por trás de seu modo de pensar, influenciado pelo taoísmo e por um pensador indiano, além de seu treinamento. A obra foi escrita quando Bruce estava imobilizado e desenganado pelos médicos, que disseram que ele não voltaria a andar depois de uma grave lesão nas costas sofrida em treino. Contrariando o prognóstico, ele conseguiu se recuperar e voltou a treinar e a filmar até morrer. O livro é póstumo: as anotações que ele fez na cama foram compiladas e publicadas só depois de sua morte.

Indicação: Marcelo Orozco

  • O Rei do Mundo, de David Remnick (Companhia das Letras)

Maior lutador de boxe de todos os tempos, em 1964 Muhammad Ali ainda era Cassius Clay, pugilista com fama de marrento que se movimentava no ringue e falava fora dele muito mais do que devia. Mas, ao derrotar Sonny Liston depois de seis rounds de luta, ele virou mais do que o novo campeão mundial dos pesos-pesados: transformou-se em “um novo tipo de negro”, como disse sobre si mesmo. A trajetória do atleta que lutou bravamente não só sobre a lona, mas também contra o racismo nos Estados Unidos é contada neste livro – desde sua infância em Louisville até a mudança de nome e religião, passando pelos treinos obsessivos e pelas principais lutas. Uma saborosa aula sobre esporte e sobre política.

  • The Devil and Sonny Liston, de Nick Tosches (sem edição em português)

Nascido bastante pobre no Arkansas, EUA, o quieto e pouco articulado Charles “Sonny” Liston mudou-se com a mãe para St. Louis, no Missouri, onde passou a fazer assaltos. Foi preso depois de um roubo a mão armada e condenado a oito anos. De constituição robusta e mãos enormes, acabou virando um fenômeno no programa de boxe da penitenciária – por isso, conseguiu ser liberado antes. Neste livro, que só pode ser lido em inglês, o autor conta como Sonny Liston tornou-se desde cedo prisioneiro da máfia, numa época em que o boxe era controlado pelo crime organizado. O autor inclusive encontrou pessoas que contaram que a primeira luta de Liston contra o então Cassius Clay foi armada pela máfia, que apostou 7 para 1 no azarão.

  • Homem Cinderela, de Jeremy Schaap (Objetiva)

A biografia de James J. Braddock, chamado de Cinderella Man (ou Homem Cinderela), se passa na era de ouro do boxe e conta como descamba a vida do promissor pugilista meio-pesado depois de uma série de derrotas e de ter a mão direita fraturada – ao mesmo tempo em que eclodia a Grande Depressão de 1929, após a quebra da Bolsa de Nova York. Obrigado a trabalhar nas docas, ele consegue uma outra chance, por insistência de seu agente, contra o então campeão da categoria acima, Max Baer. A história de Braddock virou um ótimo filme, mas este livro é ainda melhor.