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Forrest Griffin: o dia em que enfrentei Anderson Silva

Em depoimento exclusivo, Forrest Griffin conta com detalhes a sua versão do icônico duelo com Anderson Silva em 2009

Eu estava escalado para enfrentar o Thiago Silva. Não sei se o contrato estava assinado, mas eles me falaram que eu ia enfrentar o Thiago Silva para me reabilitar na corrida pelo cinturão dos meio-pesados. Eu ainda estava no Top 5 na época, então o Thiago Silva era um oponente que fazia sentido. Ele estava vindo de algumas grandes vitórias, era um cara grande e forte, então eu estava me preparando para um cara de muito poder nos socos e chutes.

Nós estávamos gravando o The Ultimate Fighter 9, quando o Dana White me puxou de lado em um dos vestiários e me disse: “O que você acha de enfrentar outro Silva?”.

Eu respondi: “O que você quer dizer?”



Ele disse: “Anderson Silva”

Imediatamente comecei a ficar investido taticamente. Eu pensava: “Vou lutar de forma inteligente, os caras se apressam e cometem erros com ele. Preciso trabalhar no single leg na perna da frente, mesclar com a trocação e voltar para o single leg”. Eu tenho um wrestling decente, mas é difícil aplicar contra um cara como o Anderson, que não quer fazer a luta agarrada, então eu pensava em como fazer tudo acontecer, como preparar.

É engraçado, no momento em que ele me falou, comecei a pensar no que teria que fazer, e fiz o que muita gente faz quando vai enfrentar o Anderson: treinam demais, pois treinam para uma lenda. A 13, 14 semanas antes da luta, às terças e quintas-feiras, eu fazia sparring duas vezes por dia. Eu fazia sparring no Randy Couture, depois ia à academia do Wanderlei Silva e fazia mais cinco rounds.

Então eu lutava 10 rounds toda terça e quinta-feira, e às vezes mais cinco com Wanderlei aos sábados. Eu estava treinando para aquela lenda, então me esforçava o máximo que conseguia.



Acho que muitos caras fazem isso: ou se machucam porque tentam se preparar tanto para enfrentar o Anderson, com aquela mística, ou pensam que não há nada a fazer e não treinam o suficiente. Eu obviamente escolhi a mentalidade de treinar o quanto fosse humanamente possível. E isso se voltou contra mim. Eu estava me sentindo esgotado antes da luta.

Quando lutei com Anderson, ele vinha de algumas performances que não foram ótimas contra Demian Maia e Thales Leites, e acho que eles pensaram, “Vamos colocá-lo contra um brigador para ele se destacar mais do que contra um grappler”. Acho que é por isso que até hoje Anderson me manda cartões de Natal dizendo, “Forrest, obrigado por me ajudar a me tornar uma lenda, obrigado por me colocar no topo”.

Era uma época em que as pessoas diziam, “Bom, ele não está se arriscando, suas últimas lutas não foram muito empolgantes e ele está fazendo o básico para vencer porque não quer ir para o chão com esses caras”. Então eu vou e corro de encontro aos seus punhos repetidamente. Acho que é por isso que ele ainda me manda cartões de Natal.

O que as pessoas não entendem é que ele me acertou muito rápido, muito cedo na luta. Eu tinha jogado alguns golpes duros no ar, ainda não tinha achado minha distância, e ele me deu dois knockdowns muito rápidos. A primeira coisa que me lembro é de ouvir meu córner gritando como se sua vida dependesse disso, “Chuta! Chuta! Chuta e afasta ele!”. Eu não me lembro como tudo começou tão mal.

A outra coisa que me lembro e que mostra como Anderson é um gênio - e você nunca deve fazer isso -  é que eu estava colocando minhas mãos para frente, meus dedos na cara dele, o que acontece em uma luta de canhoto contra destro, e ele me disse: “Não, não, não. Feche seus punhos”.



E eu fiz. “OK, sim senhor”. Você nunca quer fazer isso, pois agora ele está me dizendo o que fazer no meio da luta e eu estou obedecendo.

Olhando para trás, eu não deveria ter feito isso. Deveria ter continuado até o árbitro dizer algo. Em um momento, eu encostei minha mão na cabeça dele e ele reagiu como se dissesse: “Assim não, você vai cutucar meu olho, não faça isso”. Às vezes isso é a luta, todo mundo leva uma cutucada no olho.

Talvez eu tenha tido muito espírito esportivo. Você não pode deixar seu oponente te dizer o que fazer, o árbitro é quem tem que dizer.

O único momento em que eu realmente percebi que as coisas não estavam indo como eu queria foi logo antes de ele me nocautear. Eu corri para dentro do jab. As pessoas dizem que ele mal me acertou, mas eu fui de encontro ao golpe. Eu estava frustrado. Estava tentando mudar o rumo da luta.

Eu gostaria de ter reagido melhor quando caí no chão. Eu gostaria de ter visto o que conseguiria fazer se tivesse voltado para meu corner e ele colocasse meus pés no chão:

“‘O que você está fazendo, Forrest? Você vai jogar um overhand de direita e entrar na perna dele. Se você levar uma joelhada na cara, levou, é o que é, mas vamos tentar aquele single leg e ver se você consegue ir para as costas”.

Mas eu nem pensei em fazer isso, porque nem encurtei a distância o suficiente para alcançar a perna dele. Basicamente lutamos boxe. Nós nem nos chutamos, mesmo ambos sendo bons chutadores.

Após a luta, eu saí correndo do Octógono porque estava certo do resultado. Eu não sabia muito, mas sabia que não tinha terminado bem e eu deveria ir embora, porque da última vez que estava me sentindo daquele jeito e fiquei esperando o anúncio, comecei a chorar na frente de um milhão de pessoas, quando enfrentei Keith Jardine. Sabe, você não quer chorar tantas vezes no Octógono.

Já que estamos sendo sinceros, eu deveria sair do Octógono antes mesmo de entrar, correr na direção oposta a ele se soubesse o que iria acontecer.

Olhando para trás, acho que o mais importante é que você tem que ter cuidado quando você faz sparring. Eu fui nocauteado bem feio duas semanas antes da luta.

Entenda o quão nocauteado eu fui: eu pedi para minha esposa me levar ao médico para fazer uma tomografia, ou algo do tipo. Era para irmos almoçar ao meio-dia, e às 15h ela me liga.

“Onde você está?!”

Eu respondo: “Do que você está falando?”

Enfim, ela me levou ao médico e pagamos 800 dólares para nos falarem o que eu já sabia. “Você teve uma concussão, Forrest”. Pois é, não me diga, acabei de tomar um soco na cara. As coisas não estavam muito boas para mim desde o início.



É um grande arrependimento para mim. Foi muito ruim por um tempo, não por ter perdido para o Anderson - eu honestamente não ligava para o fato de perder para o Anderson - só queria ter lutado bem. Eu poderia perder, poderia ser nocauteado, mas se eu tivesse lutado bem, estaria bem com isso. Mas ter lutado tão mal foi o que me machucou de verdade.

Sempre que você erra neste mundo, especialmente com as redes sociais, as pessoas não te deixam esquecer. Você posta algo e alguém comenta: “Nossa cara, Anderson deve ter te batido mais forte do que eu pensava”.

Eu não tenho problema com ter sido nocauteado, eu já fui muito nocauteado, mas se você rever, parece que eu nem queria estar lá. Parecia que eu nem ligava ou tentei me levantar depois do último golpe. Eu estava grogue. Eu precisava esfriar a cabeça.

Minha opinião sobre mim mudou mais do que sobre ele após a luta. Eu sabia que ele era um grande lutador, sabia que era um grande kickboxer. Eu sabia que, se você colocar uma luva de quatro onças para fazer uma luta de kickboxing com Anderson Silva, muitas vezes você vai perder, especialmente um cara grande e lento como eu era. A precisão do Anderson, era um confronto difícil.

Eu precisava fazer da luta uma briga, precisava me embolar, pelo menos ameaçar tentativas de queda, levá-lo um pouco ao clinch sem tomar joelhadas, empurrá-lo contra a grade, tornar a luta feia e monótona. É nessa luta que estavam as minhas chances de vencer, não em aceitar uma luta de kickboxing com ele no meio do Octógono.