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Lenda do esporte fez sua última luta no UFC 204, no último sábado
Tom Cruise disse tudo no filme “Cocktail”: “Tudo termina mal, senão não terminaria”. Geralmente é assim que acontece no mundo da luta, mas, no último sábado, Dan Henderson mudou o roteiro, fazendo jus ao seu antigo apelido “Hollywood”.
Se, por um lado, o homem que os fãs do UFC conhecem como “Hendo” não conseguiu deixar o octógono carregando o cinturão dos médios, sua revanche de cinco round com Michael Bisping teve o desfecho mais próximo possível de um roteiro hollywoodiano. De forma bem simples, Henderson conseguiu sair em seus próprios termos, e com a cabeça erguida.
Ninguém saiu da arena em Manchester pensando que, aos 46 anos, Henderson precisa provar algo para o esporte em que competiu por 19 anos. Ele acaba de lutar por 25 minutos com o campeão mundial peso-médio, quase nocauteou Bisping duas vezes, e ficou a dois pontos, nos cartões de dois jurados, de conquistar o cinturão.
Ele mesmo disse: “Nada mal para um velho homem”.
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Este velho homem deixa o MMA com um dos melhores currículos da história. É só olhar para a lista de atuais ou ex-campeões do UFC com quem ele dividiu o octógono:
Vitor Belfort, Michael Bisping, Murilo Bustamante, Daniel Cormier, Rashad Evans, Rich Franklin, Rampage Jackson, Lyoto Machida, Carlos Newton, Rodrigo Minotauro, Mauricio Shogun, Anderson Silva.
E estes são apenas os campeões do UFC. O que dizer sobre a disposição para enfrentar Wanderlei Silva, Kazuo Misaki, Akihiro Gono, Yuki Kongo, Murilo Ninja, Renzo Gracie, Renato Babalu, Rafael Feijão e Fedor Emelianenko, sem nunca desistir de um desafio?
“Não faz sentido para mim testar minhas habilidades para melhorar meu cartel contra caras que não estão no topo”, Henderson me disse antes de sua luta contra Rampage no UFC 75, “Desde o início, eu queria enfrentar os melhores”.
O californiano teve seu desejo realizado, mas apenas competir não é suficiente. Você precisa encarar os melhores e vencer, e poucos conseguiram isso como Henderson, membro da equipe de luta greco-romana dos Estados Unidos nas Olimpíadas de 1992 e 1996. A partir do momento em que ele calçou as lutas, ele usou sua base de wrestling e uma mão direita esmagadora, conhecida como “Bomba H”, para passar por quem viesse. Hendo estava lá na época dos torneios em um único dia, da selvageria no Brasil, e de enfrentar os maiores adversários do mundo por quase nenhum reconhecimento fora do mundo do MMA.
“Lembro do público no Brasil, porque eles arremessaram coisas no ringue e eles queriam invadir quando o juiz interrompeu a luta”, lembrou Hendo. Naquela noite, ele venceu Crezio de Souza e Eric Smith, se tornando campeão do Brazil Open em seu início no novo emprego.
Onze meses depois, ele fez o mesmo no UFC, vencendo Allan Goes e Carlos Newton e conquistando o título do torneio dos médios no UFC 17. Dali em diante, as coisas apenas ficariam mais difíceis para Henderson, que competiu no Japão pelos sete anos seguintes. Em torneio do Rings, em 2000, ele enfrentou um corredor de assassinos em Gilbert Yvel, Minotauro Nogueira e Renato Babalu na mesma noite, e venceu todos. Então, ele foi para o Pride, se tornou o primeiro lutador a ter títulos em duas divisões, e fez isso simultaneamente.
Mas para muitos foi no UFC que ele consolidou seu legado. E apesar de uma breve passagem pelo Strikeforce (que incluiu o título dos meio-pesados e uma épica vitória sobre Fedor), que o levou de volta ao Ultimate, suas lutas contra Shogun e seus nocautes sobre Bisping e Hector Lombard o apresentaram para uma geração que sabia pouco sobre o Pride, e menos ainda sobre sua participação nas Olimpíadas. Para este público, Henderson era o atleta mais velho do esporte, alguém que não falava muito, mas que tinha uma grande arma em sua mão direita, e estes nocautes e lutas seriam sua marca registrada.
“Isto é um trabalho e uma carreira e é um esporte”, disse Henderson antes de sua vitória sobre Rich Franklin em 2009, “E é como é. Nós vamos para a academia e tentamos bater em alguns dos nossos amigos, e isso não é diferente de lutar. Não preciso ficar bravo ou brigar com nenhum oponente. Nunca fiz isso, mesmo quando eu realmente não gostava de alguém. Eu não foco nisso. Eu foco no que quero fazer, no meu treino”.
Isso ficou evidente no momento definitivo de sua carreira, dia 19 de novembro de 2011. Escalado para encarar outra estrela do Pride, Shogun, Henderson e o brasileiro demonstraram muita classe antes e depois do combate, mas, por 25 minutos na luta principal do UFC 139, eles se enfrentaram como se fossem maiores inimigos, e realizaram talvez a maior luta da história do esporte. Foi realmente tão boa assim.
Henderson venceu aquela luta e a revanche contra Shogun, em 2014, mas o mais marcante após cinco anos do primeiro duelo é que Hendo estava lutando pelo cinturão aos 46 anos, e quase venceu, deixando claro que não veremos outro Dan Henderson tão cedo, se é que um dia veremos.
Este tipo de legado tem mais peso do que qualquer cinturão.
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