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Conheça melhor a trajetória do ex-campeão dos pesos-pesados
Jim Ross sabia logo de cara: Brock Lesnar seria algo especial. É claro, ele já era campeão nacional juvenil de wrestling, e os rumores começaram logo em seu primeiro ano na Universidade de Minnesota, mas era mais do que isso para Ross, então apresentador e diretor de talentos do WWE (competição de lutas coreografadas), e para o recursos humanos da organização, Jerry Brisco.
Eles enxergaram não apenas um tremendo atleta, mas uma potencial estrela.
“Eu vi Brock em seu primeiro ano na faculdade no torneio da NCAA, e eu e Jerry concordamos que há anos não víamos alguém tão grande ser tão rápido, ágil, e com aquela aparência para o esporte-entretenimento que você não conseguia tirar os olhos dele”, disse Ross ao UFC.com em 2014.
Por sorte, eles conseguiram se aproximar de Lesnar, já que um dos parceiros de treinos de Brisco no wrestling universitário, J. Robinson, era o treinador da Universidade de Minnesota. E apesar de os dois empresários do Pro Wrestling não esconderem a intenção de fazer uma proposta para Lesnar se juntar ao WWE, eles concordaram em não chegar perto dele até que sua carreira no wrestling universitário estivesse completa.
“O diálogo que tivemos com Brock foi muito casual”, disse Ross, “Dissemos para ele focar em sua carreira amadora e na sala de aula, e que se vencesse o campeonato nacional no ano seguinte, ganharia ainda mais dinheiro quando se juntasse ao WWE. A conversa se concretizou, ele foi campeão nacional, então já batemos na porta dele para oferecer uma carreira àquele universitário”.
Lesnar venceu o título da NCAA em 2000 e migrou para o Pro Wrestling, onde se tornou uma grande estrela e um sucesso de bilheterias, apesar de não ser exatamente como os demais competidores do esporte. Ross nunca viu isso como um problema.
“Era comum achar que as grandes personalidades só se promoviam pelas provocações, e apesar de sua oratória não ser muito refinada na época, e ele nunca ter sido um Chael Sonnen, e nem será, muitas pessoas aceitaram”, disse. “A aparência do Lesnar, sua habilidade atlética, seu físico, agilidade, as coisas incríveis que ele consegue fazer para alguém de 1,93m, que pesava 136 quilos na época, era fenomenal. Ele tinha o que eu chamo de magnetismo animal. E o magnetismo animal não tem nada a ver com o quão versado alguém é com as palavras”.
Mas após alguns anos passando entre 200 e 300 dias na estrada, Lesnar – um espírito livre – se desvinciliou do WWE para perseguiu uma carreira na NFL (liga de futebol americano). Isso sem ter participado de um jogo sequer durante a universidade.
“Ele saiu do WWE ganhando milhões após três anos na empresa, algo que nunca havia acontecido”, disse Ross, “Ninguém na história do esporte-entretenimento conseguiu tamanha fortuna tão rápido. Mas ele nos deixou e foi para o Minnesota Vikings. Ele decidiu que seria um jogador da NFL. Ironicamente, ele sofreu um acidente de moto, foi para o treino sem estar 100% e quase entrou para o time. Ele quase conseguiu se tornar profissional mesmo sem ter jogado futebol americano desde a época de colegial”.
Se as experiências no tatame do wrestling e no ringue do Pro Wrestling não fossem suficientes, quase se tornar jogador profissional de futebol americano sem experiência alguma foi memorável. Mas Lesnar quis ir ainda mais longe, anunciando sua intenção de competir no MMA profissional. E após vencer a primeira luta em 69 segundos contra Min-Soo Kim, ele contatou o presidente do UFC, Dana White, pedindo uma chance de competir no octógono.
White ficou incrédulo, mas foi logo convencido de que Lesnar poderia fazer algum barulho no octógono.
“A partir da primeira conversa que tive com Brock Lesnar, eu tinha certeza que ele competiria no UFC”, disse White em 2007. “Ele havia lutado em outro evento e descobriu o que era competir em uma organização pequena. Atletas desse calibre querem vir ao UFC, pois sabem que é o lugar certo. É o mais profissional, com os melhores atletas no mundo, e se você quer fazer seu nome e criar um legado, o UFC é o único lugar possível”.
Ross sabia que seu antigo empregado tinha capacidade atlética e no wrestling; ele só se preocupava se Lesnar conseguiria se adaptar aos outros aspectos do MMA a tempo de enfrentar os melhores do mundo no UFC.
“Sendo um fã do UFC e o cara que contratou Lesnar e gerenciou a carreira dele, eu nunca me preocupei com seu wrestling, sua habilidade nas quedas, e sabia que ele tinha mãos enormes e grande agilidade”, disse. “Minha única preocupação era a mesma que tenho com qualquer um que compete muito tempo no wrestling universitário, que é como será sua defesa na luta em pé? Porque você não treina defesa de golpes e contra ataque durante horas no tatame do wrestling. Essa era minha preocupação – se ele sofreria nas mãos de alguém com boas mãos que pudesse vencê-lo em pé”.
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O tempo responderia essa pergunta, mas primeiro ele teve que lidar com um mestre da luta agarrada, o ex-campeão Frank Mir. Sim, a segunda luta profissional de Lesnar, e a primeira no UFC, foi contra um ex-campeão. E apesar de ter perdido no UFC 81, em 2008, por finalização no primeiro round, muitos acreditam que se Lesnar tivesse recebido um aviso do árbitro Steve Mazzagatti, ao invés da dedução de um ponto e interrupção da luta, ele estaria a segundos de vencer por nocaute técnico. Independentemente das circunstâncias, Lesnar havia perdido sua primeira luta no octógono, e não estava feliz.
“Vi algo nos olhos de Lesnar que nunca tinha visto antes”, disse Ross. “Eu sabia que o dia seguinte seria diferente. O lado bom de ele ter perdido sua primeira luta é que isso acendeu um fogo. Ele ficou faminto, ficou envergonhado e um pouco humilhado, mas haveria o amanhã”.
Haveria mesmo. Lesnar se recuperou com uma vitória sobre o veterano Heath Herring e, em sua quarta luta profissional, nocauteou o membro do Hall da Fama, Randy Couture, no segundo round, e se tornou campeão peso-pesado do UFC. Ele se redimiu com Frank Mir no UFC 100, mas depois começou a lidar com um oponente contra o qual não teria chance: a diverticulite. A infecção intestinal atacou Lesnar duas vezes, e embora ele tenha retornado ao octógono um ano depois da primeira batalha, vencendo Shane Carwin e perdendo seu cinturão para Cain Velasquez, a segunda batalha o afastou por um ano. Quando voltou, foi vencido facilmente por Alistair Overeem no UFC 141, em dezembro de 2011, e anunciou sua aposentadoria deixando muitos “E se...” no ar.
“Eu mesmo sofri com diverticulite, e ela me custou 33 centímetros do meu intestino, então acho que as pessoas não entendem a seriedade dessa doença”, contou Ross, “Eu certamente não entenderia se não tivesse sofrido. É uma coisa séria. Mas tem uma coisa sobre o Lesnar... quando ele estava em nosso centro de treinamentos em Louisville, enviamos ele e seu parceiro de treinos, Shelton Benjamin. Se todos os alunos estivessem ouvindo as instruções do treinador e ele dissesse ‘Tudo bem, agora vão para o ringue’, ele seria o primeiro no ringue. Ele era competitivo demais em tudo o que fazia. Se você visse caras menores fazendo manobras aéreas de luta coreografada, chutes aéreos, subindo nas cordas, coisas que caras do tamanho dele nem pensavam em fazer, ele queria aprender a fazê-las melhor do que qualquer um. O que eu quero dizer é que a natureza competitiva dele é assustadora. Ele tem um desejo incontrolável de nunca ser o segundo colocado. Acho que se ele estivesse saudável e a diverticulite não tivesse tirado sua força e seu gás, ele teria progredido e refinado suas habilidades, e teria procurado os melhores treinadores e continuado melhorando”.
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Então será que Lesnar, que acabou de volta ao Pro Wrestling em 2012, poderia ter sido o melhor de todos os tempos se não fossem os problemas de saúde que o assombraram?
“Uma coisa ótima sobre o UFC e uma das razões pela qual sou um grande fã, é que aquelas luvas de quatro onças fazem toda diferença”, disse Ross, “Fazem com que ninguém seja à prova de balas. Lesnar não teria sido, e ninguém teria, você nunca sabe quando alguém será nocauteado. Mas acho que Lesnar teria sido o peso-pesado mais dominante que o UFC já teve. Você não encontra caras de 1,93m com cerca de 128 quilos que têm a velocidade e agilidade dele. Não encontra. Ele é aquela criatura rara da floresta - ele é o Pé Grande. Você ouve histórias sobre ele e que ele é extraordinário. A única coisa que ele não conseguiu vencer foi a Mãe Natureza”.
Lesnar se recuperou, voltou ao WWE em 2012 e reconquistou o status de uma das estrelas da organização. Mas a vontade de competir no MMA mais uma vez foi grande demais para ele, e no dia 9 de julho, em Las Vegas, ele retorna ao octógono para enfrentar Mark Hunt no UFC 200. Uma vitória seria memorável apenas quase cinco anos afastado do esporte e, caso consiga, a história de Brock Lesnar ganhará outro capítulo cativante.