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Na bela e complicada cidade do Rio de Janeiro, onde o ar e o mar pulsam com o espírito do samba, José Aldo se sente completamente energizado dias antes de seu próximo desafio no Octógono.
Com a moral levantada pelo carinho dos fãs e proximidade da família, Aldo enxerga a luta do UFC 212, uma unificação de títulos contra Max Holloway, como uma ode à sua amada cidade e ao país que tanto se orgulha dele.
As pessoas se aproximam quando reconhecem Aldo andando na rua, seja perto da academia Nova União ou na praia da Barra da Tijuca, onde o UFC se estabeleceu para os ajustes finais antes do UFC 212, na Jeunesse Arena.
"Acho que lutar em casa, junto dos amigos e família, onde você vive e treina, tem um lado ótimo que é já estar adaptado, não tem que trocar fuso. A energia da torcida influencia bastante, todo mundo tem um carinho muito grande e sei que a arena vai estar lotada. Não tem como dar errado", disse um Aldo relaxado, parecendo feliz e confortável mesmo com toda a tensão que existe na semana que antecede uma luta.
Para o brasileiro, vencer a luta principal do UFC 212 é uma responsabilidade tanto para ele mesmo quanto para seu povo. Apesar de a neblina que se estabeleceu no Rio nos últimos dias dificultar a visão, quem passa reconhece seu rosto imediatamente. Não existe outro.
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O REI DO RIO
Assim como idolatram o falecido Ayrton Senna e adoram Neymar, Ronaldinho e Pelé, os brasileiros apoiam Aldo com lealdade e carinho. Sua origem humilde e o apego às raízes, além do respeito pelos fãs, inflam a paixão dos compatriotas que simpatizam com sua jornada.
Vários esportistas do país aspiram ser o Rei do Rio. Hoje, esse título pertence a Aldo.
"Acho que é muito importante carregar essa coroa. Eu cresci vendo pessoas falando sobre isso, e hoje em dia ser essa pessoa, ser coroado o Rei do Rio, me faz muito feliz e lisonjeado, porque foram só grandes atletas que carregaram isso. Para mim, é uma motivação muito grande. Estou focado, estou visualizando isso e sei que a gente vai manter essa coroa por muito tempo, porque é só o começo ainda", admite.
Em um país que tanta beleza é ofuscada pelo caos, Aldo é um raio de esperança. Ele superou obstáculos, ele conquistou vitórias. Ele tropeçou. E ele é campeão de novo.
"O carinho que eu recebo no dia a dia andando na rua, nos lugares que vou, fico muito feliz de defender o meu cinturão aqui na minha cidade", disse Aldo com um grande sorriso. Vencer Holloway, para ele, é apenas mais um capítulo em sua história. Ele sabe que seu legado já está intacto.
STRIKER VS. STRIKER
Holloway é um oponente de respeito para Aldo: mais alto, rápido e dono de 10 vitórias consecutivas desde a derrota por pontos para Conor McGregor em agosto de 2013. Nesse meio tempo, o havaiano tem sido extremamente dominante, liquidando o combate em sete oportunidades e ganhando três bônus.
Ambos preferem a luta em pé, com Aldo preferindo os jabs rápidos e os diretos enquanto Holloway aposta na pressão e volume de golpes.
"Ele fez por merecer disputar o cinturão, então não tem porque não ser ele. Acho que vai ser uma grande luta", disse Aldo.
"Acho que o jogo é um pouco parecido pelo fato de os dois buscarem a luta em pé, só que e tenho uma grande vantagem porque tenho um chão melhor que o dele, não só que o dele, mas melhor que o de vários da categoria, então isso me ajuda bastante. Acho que ele pode ter a altura, mas eu tenho a envergadura. Não tem tanta diferença assim pra mim".
A vantagem real, segundo o campeão, vem do Rio.
UM CAMPEÃO COMEÇA SUA JORNADA
Aldo chegou ao Rio sozinho, aos 16 anos. Filho de um pedreiro que sustentava a família com muito esforço e incentivado pelo treinador Marcio Pontes a deixar a paixão pelo futebol e capoeira na cidade natal de Manaus, ele veio até a Cidade Maravilhosa para buscar uma carreira com o talento para a luta.
"Tenho a filosofia de que não é possível saber se alguém vai ter sucesso só de olhar, mas com o tempo eu percebi que o Aldo era diferente", diz Pontes. "Ele sempre foi metódico em tudo o que queria fazer. Ele não só ficava na academia, como ele acordava às sete da manhã para aprender com outros mestres e também treinar de tarde e noite. Era inevitável que ele virasse essa (estrela)".
Mas Pontes sabia que ele precisava liberar Aldo.
"Aldo nasceu predestinado, ele sabia que seria diferente. Ele estava terminando os estudos e disse que queria lutar para viver. Eu expliquei que Manaus não era o lugar certo para viver de esporte, e disse que ele deveria ir para o Rio de Janeiro", relembra. "Ele fez algum dinheiro em campeonatos de jiu-jístu, a gente ajudou ele e ele foi para o Rio com 150 reais e a passagem só de ida".
A FAVELA TE FORTALECE
No Rio, isso significava dormir onde desse. E a vida na favela de Santo Amaro era complicada: o forte sentimento de comunidade muitas vezes é perturbado pelo crime, tráfico, violência e pobreza. Os fãs de Aldo sabem que ele sobreviveu a tudo isso, se casou com a esposa Vivianne, e tirou ambos de lá através de seu talento, trabalho e vontade.
Seu caminho foi retratado no filme "Mais Forte que o Mundo", e a fama aumentou no país.
"Se eu ando na rua e sou abordado, quer dizer que estou fazendo um ótimo trabalho. Fico bem tranquilo quanto a isso. Me chamam de Campeão do Povo, estou sempre no meio de todo mundo conversando e brincando, e isso mostra que a gente é o campeão verdadeiro".
Para Pontes, o homem que lutará no sábado não é diferente do pobre e talentoso garoto que precisou de sua ajuda há muitos anos em Manaus.
"Hoje é fácil para qualquer um falar sobre o José Aldo, o campeão mundial, o ícone do esporte. Mas o mais importante é que ele manteve a natureza, sempre esteve focado em seus objetivos. Ele conquistou o mundo, mudou a vida de muita gente, e ainda é a mesma pessoa".
A humildade do lutador nunca foi embora. E isso vai ajudá-lo na busca pela vitória contra contra Holloway.
"Como pessoa eu continuo o mesmo, continuo sendo e fazendo as mesmas coisas. Eu acho que cada luta teve uma história, e acho que pelo fato de lutar em casa tem uma motivação maior, então a gente procura se doar mais na luta. Sobre o adversário, são histórias diferentes. Um eu consegui nocautear rápido, a outra foi até o quarto round, e a outra chegou ao quinto. Para mim não influenciou a vontade que eu tinha na noite", relembra Aldo.
"Ele sempre ajuda quem ajudou ele, e até o menino que leva água para o Aldo na academia é importante. Eu sabia que ele seria um lutador notável, mas honestamente não pensei que chegaria tão longe", diz Pontes orgulhosamente.
O lutador pode ter o cinturão, mas e o treinador? Esse tem o próprio prêmio: o sucesso do pupilo.
"O Aldo passava na frente da academia em uma bicicleta velha e usando chinelos bem velhos, um de cada cor. Agora você olha o passado e vê como ele foi longe. Isso não tem preço. Eu sou muito feliz por tudo o que aconteceu com ele".