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José Aldo está oficialmente aposentado dos esportes de combate, encerrando uma das maiores carreiras do MMA nos últimos 20 anos.
O astro brasileiro anunciou sua intenção de pendurar as luvas após a derrota por decisão unânime para Aiemann Zahabi no UFC 315, em Montreal, e confirmou sua aposentadoria durante uma coletiva de imprensa realizada na academia Nova União, no Rio de Janeiro.
Aos 38 anos, Aldo finaliza sua carreira com um cartel de 32 vitórias e 10 derrotas no MMA.
José Aldo durante a Cerimônia do Hall da Fama do UFC em 2023. (Foto por Chris Unger/Zuffa LLC)
Quem viu Aldo despontar no WEC sabe: ele parecia um prenúncio do futuro. Um pacote explosivo de velocidade e arsenal ofensivo, que parecia destinado ao topo da divisão dos penas.
Embora já tivesse alcançado sucesso no Brasil e no exterior antes de estrear no cage azul, foi sob a bandeira do WEC que o mundo viu o nascimento de uma lenda.
A vitória sobre Alexandre Nogueira, logo na estreia, deixou claro que ele era alguém para se observar nos penas. Os triunfos sobre Jonathan Brookins, Rolando Perez e Chris Mickle só aumentaram o burburinho em torno do brasileiro em ascensão. Porém, a verdadeira amostra de sua genialidade veio no que deveria ser seu maior desafio até então: um duelo eliminatório contra Cub Swanson no WEC 41.
A luta durou apenas oito segundos. Aldo partiu para cima, subiu no ar e acertou uma joelhada voadora que levou “Killer Cub” ao chão, garantindo sua chance pelo cinturão. Quando entrou no cage contra o então campeão Mike Brown, a vitória já parecia inevitável. Ele era o símbolo da nova geração — e atropelou Brown com facilidade.
José Aldo golpeia Urijah Faber no WEC 48. (Foto por Josh Hedges/Zuffa LLC)
Na primeira defesa de título, o WEC realizou seu único evento em pay-per-view, com Aldo enfrentando o ex-campeão Urijah Faber na ARCO Arena, em Sacramento, cidade natal de Faber.
Enquanto “The California Kid” entrava ao som de “California Love”, de 2Pac, Aldo respondeu com “Run This Town” — que se tornaria sua trilha de entrada pelo restante da carreira. A música era mais que um hit: era um recado claro a Faber e a qualquer um que o enfrentasse — “não importa onde estamos, quem manda aqui sou eu.”
Faber sobreviveu até o fim, mas saiu carregado do cage, com as pernas destruídas por 25 minutos de chutes baixos brutais.
Cinco meses depois, Aldo encerrou sua passagem pelo WEC mantendo o título ao nocautear Manny Gamburyan no 2° round. Finalizou sua trajetória com um impressionante cartel de 8-0, sete nocautes, uma conquista de cinturão e duas defesas — tudo isso em apenas 28 meses, entre junho de 2008 e setembro de 2010. Uma sequência que o posicionou entre os melhores do mundo e abriu caminho para ser considerado um dos maiores de todos os tempos.
José Aldo comemora a vitória sobre Mark Hominick no UFC 129. (Al Bello/Zuffa LLC).
É simbólico que sua estreia no UFC tenha ocorrido no UFC 129, o maior evento da história da organização até então. Aldo merecia ser visto pelo maior público possível.
Embora tenha desacelerado no round final contra Mark Hominick — permitindo uma reação do canadense, embalada por uma torcida ensandecida no Rogers Centre, em Toronto —, o que muitos esquecem é que Aldo havia dominado completamente os quatro primeiros assaltos, deixando o rival com uma enorme hematoma na testa.
Revisitar sua primeira era como campeão dos penas do UFC é diferente na era "ACMG" — Antes de Conor McGregor —, mas é fundamental lembrar: Aldo defendeu seu cinturão contra Kenny Florian, Chad Mendes, Frankie Edgar, Chan Sung Jung, Ricardo Lamas e novamente Mendes. Isso é, e sempre será, um dos maiores percursos de um campeão na história do MMA.
Mas McGregor mudou tudo.
Não só provocou um lado diferente do normalmente discreto Aldo durante a longa e mundial turnê promocional (adiada por lesão do brasileiro), como também despertou uma agressividade incomum no campeão no dia da luta. E Aldo pagou caro.
Aquele golpe — o cruzado de esquerda que encerrou o combate em 13 segundos no UFC 194 — mudou a forma como muitos passaram a ver José Aldo. Da mesma maneira que sua joelhada em Swanson marcou o início de sua era, a derrota para McGregor simbolizou o fim do seu reinado, ainda que tenha conquistado o cinturão interino ao vencer Frankie Edgar na luta seguinte, sendo promovido a campeão linear após o irlandês vagar o posto.
Alguns que visitam sua página no Wikipedia ou Tapology podem ser tentados a julgar sua carreira após McGregor apenas pelas vitórias e derrotas — uma conta que fica, sim, levemente negativa.
Mas o respeito que conquistou está nos nomes que enfrentou: tanto nas vitórias quanto nas derrotas. Até suas duas últimas lutas, todos os que o venceram foram campeões ou disputaram cinturão. Todos os que derrotou eram ranqueados.
Cada um desses adversários, ao assinar o contrato, pensou — em voz alta ou silenciosamente: “Eu vou lutar com José Aldo.” E se preparou como nunca para esse momento.
José Aldo com a coroa de "Rei do Rio" após vitória no UFC 301. (Foto por Alexandre Loureiro/Zuffa LLC)
Foi o homem que Max Holloway teve que derrotar para se firmar como campeão. Foi o obstáculo que Alexander Volkanovski precisou superar para merecer sua primeira disputa de cinturão.
Foi o teste que Marlon Vera, Pedro Munhoz e Rob Font não conseguiram passar para se consolidar como candidatos ao título nos galos. E foi o desafio que Merab Dvalishvili superou rumo ao topo da divisão.
Mesmo após quase dois anos fora, ainda era grande demais para ser superado por Jonathan Martinez. E, ao final da carreira, foi o maior desafio nas vidas de Mario Bautista e Aiemann Zahabi.
Seria ideal esperar três a cinco anos para avaliar o legado de uma lenda aposentada. Porque, quase sempre, o fim da carreira não reflete a grandeza do que veio antes.
Mas, com um pouco de tempo e distância, o impacto se torna mais claro. E Aldo foi uma força sísmica na divisão dos penas.
Muito se fala sobre como McGregor impactou o legado de Aldo. Mas a verdade é que “The Notorious” não teria se tornado o astro que é sem Aldo como contraponto. Holloway também não seria tão querido se não tivesse vencido o brasileiro em pleno Rio de Janeiro.
Sua presença não apenas moldou a divisão — mas ajudou a moldar os legados de seus maiores rivais e os anos que seguiram sua era de ouro.
Aldo já foi incluído no Hall da Fama do UFC, em uma cerimônia emocionante onde o brasileiro entrou sorrindo, com seu característico trote seguido de um leve salto até o palco, embalado, como sempre, por Rihanna.
Cada uma de suas aposentadorias foi silenciosa. Um homem humilde dizendo adeus sem alarde e sem necessidade de grandes homenagens.
Mas o legado que deixa é estrondoso.
Jose Aldo é um dos maiores lutadores da história do MMA.
Ele não apenas comandou cidades — comandou uma divisão inteira por quase uma década. Seu lugar entre os maiores de todos os tempos é incontestável.
Vida longa ao Rei do Rio.
Obrigado por tudo!