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Kimbo Slice - O sonho americano continua

Por Thomas Gerbasi

Esse não é o primeiro rodeio de Kimbo Slice. À medida que ele se aproxima da sua estreia no UFC, sábado, contra Houston Alexander, ele vai se tornando cada vez mais familiarizado com a mídia em sua volta, desde que entrou no mundo das Artes Marciais Mistas em 2007. Então não há nenhuma possibilidade dele ficar perturbado por toda a atenção voltada para ele. Ele será só o Kimbo e, até hoje, isso tem funcionado muito bem para Kevin Ferguson, seu nome de batismo.

“Você deve simplesmente seguir com os socos,” Slice disse ao UFC.com. “Eu sou um homem que crê em Deus e, apesar do que os outros possam dizer, eu rezo para o meu Deus todos os dias. Eu fui criado pela minha mãe, tenho filhos, e tento me manter com os pés no chão de todas as formas. Eu sou igual ao cara que faz compras no K-Mart. Eles vão ao Winn-Dixie, eu estou no Winn-Dixie, eles vão ao Publix, eu estou no Publix. Depois eles me veem na TV e é como ‘olha aquele cara ali de novo,’ e eles se reconhecem naquela situação. Eu sou um deles. O cara que eles veem na TV, o cara que eles gostam, e o cara que eles acompanham na internet é o mesmo cara que faz compras onde eles fazem. Eles podem colocar a mão no ombro e dizer ‘e ai, cara?’”

E ele também não está exagerando. Para alguém que conquistou tanta notoriedade mundo afora com lutas imortalizadas no youtube.com, Slice permanece sem ser afetado pela fama e todas as suas armadilhas. Não existem frases na terceira pessoa, pedidos loucos feitos por uma equipe de milhares de pessoas, nem uma valorização de si mesmo em detrimento ao adversário. Ele possui a mesma equipe há anos e, ainda que algumas coisas tenham mudado, quando se trata de Kimbo, ele é apenas um cara que gosta de lutar e encontrou uma forma de ganhar dinheiro com isso. É o sonho americano em uma casca de noz, e o seu sonho mexeu com fãs ao redor do mundo.

Ainda assim, com toda história de sucesso vem uma chicotada nas costas, e, logo após uma vitória em uma luta de exibição contra o campeão da categoria pesado do boxe Ray Mercer, e três vitórias sobre os profissionais da MMA, Bo Cantrell, Tank Abbott, e James Thompson, os lobos começaram a surgir, esperando a bolha de Kimbo estourar. Aparentemente aconteceu quando ele foi derrotado no primeiro round por Seth Petruzelli, em outubro de 2008, mas o nativo das Bahamas surpreendeu a todos quando desistiu de entrar para o boxe profissional ou ganhar muito dinheiro no Japão, e resolveu se tornar um competidor na décima temporada do The Ultimate Fighter. Foi uma das ações mais surpreendentes realizadas no esporte nos últimos anos porque – ganhando ou perdendo -, Slice estava colocando o seu na reta e dizendo ‘Eu quero ser levado a sério como lutador.’ O fato dele ter perdido uma única luta no show, para o finalista Roy Nelson, é irrelevante; ele chegou lá, competiu, e permitiu que a audiência o conhecesse de verdade. Essa foi a sua maior vitória, deixar que fãs e outros competidores vissem que ele era mais do que uma criação da mídia. Ele era mais um lutador como eles, querendo chegar lá.

“É como quando você é uma criança e dizem para você nunca julgar um livro de acordo com a sua capa. Eu acho que eu sou o oposto do que as pessoas pensam de mim. Elas me julgavam mesmo antes de me conhecer, mas eu não fui para casa tentando interpretar um papel. O que você vê é real, esteja a câmera ligada ou não. Eu sou um cara de verdade. Meus filhos sabem disso, meus amigos sabem disso, e me colocar naquela casa com câmeras ligadas 24 horas por dia, agora os fãs também podem saber disso. O mesmo cara que você vê na rua é o cara que você viu na casa. E essa é uma das coisas que as pessoas podem se reconhecer. Eu não sou falso.”

Mas ele está pronto para o UFC? A história começará a ser contada no sábado à noite e, apesar de Kimbo já ter competido em grandes arenas antes e saber lidar com tudo que acontece em uma luta, ele reconhece que a liderança nessa luta – que será realizada em uma categoria de peso combinado de 97kg – dá uma sensação diferente.

“Considerando que estou mudando de categoria e que essa é a minha primeira luta no UFC, isso significa mais para mim do que os outros combates. Eu sinto a pressão algumas semanas antes, mas à medida que a luta se aproxima, você realiza que está pronto para entrar lá, então essa pressão vai embora,” disse Slice, que também revelou que está pode ser a última vez que muda de categoria. “Eu sou um lutador pesado naturalmente. A última vez que estive com esse peso, estava no colegial”, disse, rindo.

Ele está fazendo esse sacrifício para poder enfrentar Alexander, um meio-pesado nato. No papel, essa luta é a definição clara da frase ‘Não pisque’, e todos – sim, todos – estão esperando verdadeiros petardos na luta em pé vindos desses dois lutadores, que possuem um certo respeito um pelo outro.

“Para ser honesto, eu meio que gosto do cara,” disse Slice sobre Alexander. “Eu sou fã dele, então, lutar com ele seria uma coisa muito legal. È como você se sente em relação ao Mike Tyson. Eu gosto tanto dele a ponto de, perdendo ou ganhando, eu quero lutar com ele. Esquecendo de reputação ou qualquer coisa do tipo, eu estou confiante no meu jogo e agora estou sendo treinado por alguns dos melhores treinadores, então eu confio no que estou levando para a luta.”

Ele deveria mesmo estar confiante depois de um treinamento com Ricardo Liborio e a equipe do American Top Team em Coconut Creek, na Flórida. E ainda que Slice admita que levará mais de um treinamento para ele realmente chegar ao ponto onde seja possível ver tudo o que ele está aprendendo, ele iniciou sua caminhada de brigão a um lutador de Artes Marciais Mistas.

“Eles estão me ensinando o ABC do jiu-jitsu e o ABC de um lutador de Artes Marciais Mistas, e eu acho que é isso que estava faltando no começo da minha carreira. Eu fui jogado lá e disse ‘vamos fazer o que sabemos.’ Eu fui com tudo, lutei com caras que já tinham experiência na cage, mas foram incapazes de me derrubar por conta da minha atitude e do meu coração. Agora que estou treinando com o ATT, e eles estão me ensinando tudo, acho que passarei a ser uma ameaça a muitos lutadores.”

O primeiro nome nessa lista será Houston Alexander. E, assim como de costume, você não o ouvirá falar mal de seu oponente. Kimbo será apenas Kimbo, e isso deverá ser suficiente para transformar a luta em algo imperdível.

“Deixem acontecer. Deixem as câmeras serem ligadas e não saiam dos seus lugares porque alguém será nocauteado. Eu estou indo para nocautear esse cara ou ser nocauteado. E essa é a parte divertida disso. Eu não tenho medo de ser atingido. Eu não tenho medo de ser nocauteado, acordar alguns minutos depois, cumprimentá-lo e dizer ‘e ai, cara, boa luta, ainda sou um grande fã seu’ ou seja lá o que acontecer. Eu estou indo lutar e nocautear alguém.”