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Análise das características que Lyoto Machida usa contra neutralizadores
Tito Ortiz, Rashad Evans, Ryan Bader, Randy Couture, Rampage Jackson, Dan Henderson, Phil Davis, Mark Munoz, Jon Jones. A lista de wrestlers da pesada que Lyoto Machida já enfrentou no UFC é grande.
O brasileiro tem bom aproveitamento contra 'neutralizadores', e só foi derrotado por Rampage, Jones, Davis. O campeão dos médios Chris Weidman será o próximo da fila. Ambos fazem o main event dia 5 de julho, no UFC 175.
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Se detalharmos o padrão de luta peculiar do brasileiro, vemos fundamentos que facilitam o encontro estilístico e tem funcionado antídotos frente a wrestlers da pesada. Vamos a alguns:
Deslocar e atacar
É difícil para qualquer um traçar linhas de ataques contra o padrão de movimentação diferenciado de Machida. Basicamente, o que para muitos configura ‘antijogo’ (pelo volume menor de golpes e escapadas constantes), para o lutador é a fórmula mais natural de atuar dentro do octógono, mesmo que em termos gerais recaia na traiçoeira margem interpretativa entre ‘fugir’ ou ser 'defensivamente eficaz'.
As habilidades do brasileiro são baseadas na antecipação e percepção de movimentos. Em princípio parece simples, mas isso requer grande tato para ser dominado.
Canhoto, o principal cacoete do carateca é, assim que se sente ameaçado, dar um pequeno passo para a trás e para a esquerda, para em seguida projetar o corpo para frente como uma mola, e iniciar sequência de dois ou três golpes, que geralmente começam ou terminam com um direto de esquerda, o soco mais forte.
Ao forçar inicialmente o oponente a buscá-lo, o carateca o condiciona a fazer um movimento a mais, o que facilita seu poder de antecipar ataques.
O jogo da longa para a média distância quebra a ofensiva dos oponentes e credencia Machida como um dos contragolpeadores mais perfeitos do esporte, sobretudo em golpes retos (como chutes frontais e socos diretos), típicos do caratê.
Variações mais usadas:
1– Machida aplica um soco leve (geralmente com a direita), e já está em deslocamento (lateral ou para trás) no momento de reação imediata do adversário, quando aplica o contragolpe.
2 – Machida movimenta a cintura, bate o pé no chão ou finta um chute, para que o adversário perceba a intenção e tente golpeá-lo ou agarrá-lo. Novamente, ele já está em deslocamento no momento da investida às pernas para tentar single ou double legs.
Ângulos inusitados
Isso complementa o explicado anteriormente. Se você tem algum tipo de experiência com luta, sabe que além de fundamentos como postura e encaixe de quadril ou ombros, qualquer golpe depende do ângulo correto para ser eficiente. Por isso, o grande segredo de alcançar um padrão confiável está em aprender a golpear em plena movimentação.
No caratê tradicional, as passadas para frente e mais defensivas (laterais e para trás) que acompanham os golpes são mais longas e fundamentais, pela modalidade não prezar o volume, mas sim a perfeição técnica.
A coisa funciona basicamente como uma luta de esgrima, e os lutadores são exímios na arte de atacar em pleno recuo, técnica de difícil domínio em qualquer modalidade.
O ponto aqui é que Machida tem deslocamentos diferenciados com relação a muitos outros lutadores (que usam o jogo de pernas mais usual e curto do boxe ou muay thai), uma característica natural de seu tempo como carateca, agora adaptada muito bem ao MMA.
Particularmente, a guarda do carateca, baixa ou com as mãos se movimentando, parece falha. Ele raramente usa bloqueios ou coberturas (com as duas mãos na frente do rosto). Os ângulos e as defesas dependem quase unicamente do timing e do jogo de pés.
Joelhada de encontro
É uma das assinaturas mais constantes do brasileiro. O mais interessante aqui é um detalhe – proposital ou não – que torna o golpes ainda mais letais, sobretudo contra quem tenta os clinches para derrubar.
Ao invés de soltar o golpe com as duas mãos altas na guarda, Machida estica um pouco os braços, estica a postura e se impulsiona para frente.
Além de ampliar a potência, também funciona como 'isca'. Geralmente, wrestlers esperam algum movimento dos braços dos adversários para inclinar o tronco e tentar colar nas pernas ou cintura para aplicar a queda.
O ato de Machida esticar os braços engatilha melhor a joelhada, que atinge em cheio no plexo ou no peito do adversário inclinado para frente, dobrando a potência do golpe.