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As vitórias no UFC Fortaleza de Marlon Moraes, José Aldo, Demian Maia, Charles do Bronx e Johnny Walker têm mais a ensinar do que sobre técnicas perfeitas, resiliência, dominação e o poder do treinamento árduo. Veja aqui as lições menos óbvias, mas igualmente poderosas, que podemos tirar dessas lutas para termos sucesso em nosso trabalho.
1. Conheça sempre quem está na mesa
Professor: Marlon Moraes
Antes de qualquer reunião, apresentação de projeto ou de proposta ou até mesmo antes de uma ligação ou e-mail de negócios, uma coisa é fundamental: conhecer a pessoa com quem você vai lidar. E conhecer a fundo, entender o background, os desafios e as necessidades dela. O foco é a pessoa, não nós mesmos. Só assim podemos oferecer as soluções que ela precisa – ou, no caso de uma luta, em que a outra pessoa é um adversário, usar o que sabemos a nosso favor. Lição ensinada com maestria por Marlon Moraes. A luta da madrugada de domingo era a segunda entre ele e Raphael Assunção. Na primeira, em 2017, Raphael venceu por decisão dos juízes. Marlon, portanto, já conhecia seu adversário, mas continuou o estudando, inclusive durante o primeiro minuto do combate. Encaixou um overhand de direita que deixou Raphael atordoado e, depois, encontrou uma brecha no posicionamento do adversário para o finalizar com uma guilhotina – lembrando que ele não era finalizado desde 2010.
2. Canalize a pressão para oferecer o melhor de si
Professor: Johnny Walker
A vida de um atleta de alto rendimento é permeada por pressão. Do anúncio de um combate até o momento em que ele acaba, o lutador sofre pressão do treinador, do sparring, do adversário, do patrocinador, do público e, às vezes a mais severa, de si mesmo. Segundo Sujan Patel, cofundador da Web Profits, agência de marketing americana e colunista de publicações como Forbes e Enterpreuner, o que podemos aprender com eles é a forma como alguns canalizam essa pressão para benefício próprio. “Quando enfrenta pressão, nosso organismo tende a responder de duas formas: no ‘modo desafio’ ou no ‘modo ameaça’”, afirma o especialista em seu site pessoal. No último caso, nosso corpo simplesmente não reage. Mas, quando encarada como desafio, a pressão faz com que nossas veias dilatem e o coração aumente o fluxo de sangue para o cérebro e para os músculos: é nosso estado de melhor performance. “A chave é reeducar nossa mente e nosso corpo para responder positivamente à pressão”, conta. Para isso, é preciso usar um princípio da psicologia esportiva, amplamente jogado em nossa cara por Johnny Walker há poucos dias. Com seu nocaute-relâmpago sobre o americano Justin Ledet, ele nos ensinou a lição dos “quatro Cs”: concentração, confiança, controle e compromisso. E isso sem perder a simpatia.
3. Não pare nunca de se aperfeiçoar
Professor: Charles do Bronx
É fácil para nós, quando sabemos fazer bem alguma coisa, achar que não há mais nada a se aprender sobre ela. Imagine quando se é reconhecidamente um dos melhores em tal tarefa? Mas isso é o que diferencia um atleta de alto rendimento como um lutador do UFC de nós, mortais. Se ele pensar que suas técnicas já são boas o suficiente, e basta manter o que sabe fazer sem aperfeiçoar, outra pessoa que está treinando mais toma seu lugar. O peso-leve Charles do Bronx já havia, em setembro do ano passado, com 11 finalizações, batido o recorde do UFC, que pertencia a Royce Gracie. Em dezembro, ampliou para 12. Mas não descansou e continuou aperfeiçoando sua técnica – que tem um agravante para ser bem-sucedida: os adversários já esperam que ele vá tentar terminar assim a luta. Neste fim de semana, Charles entrou como azarão contra o sueco David Teymur, mas finalizou mais uma vez e acabou com a sequência de cinco lutas e cinco vitórias do adversário.
4. Respeite e aprenda com seus competidores
Professor: Demian Maia
Lutadores tratam o combate em si como algo que pode transformá-los em atletas mais fortes, mais rápidos e mais inteligentes e estrategistas. É claro que todo lutador treina para vencer, mas eles sabem que, quando entram em um octógono, há sempre a chance de isso não acontecer. “Eles aceitam que não vão vencer sempre, e quando não vencem eles analisam o que o adversário fez de diferente e usam essas observações para fazerem melhor na próxima vez”, escreve o especialista em marketing Sujan Patel. Poucos fazem isso com tamanha propriedade quanto Demian Maia. Lutador dos mais respeitosos, tanto fora do cage quanto dentro dele, o paulistano, depois de uma sequência de sete vitórias consecutivas, encarou três derrotas, uma atrás da outra. Mas, em Fortaleza, depois de analisar os insucessos e o que seus adversários fizeram para vencê-lo, voltou a fazer o que sabe bem: finalizar. Depois de passar grande parte do primeiro round mochilado em Lyman Good, ele encaixou um mata-leão que obrigou o adversário a bater em pé.
5. Seja grato sempre a quem merece
Professor: José Aldo
“Todos nós temos alguém que merece nossa gratidão. Se você acha que não tem, pense melhor”, diz Patel. Pais, amigos, marido ou mulher, filhos, colegas de trabalho, chefes. Reconhecer o que as pessoas fazem por nós é importante para fortalecer nossos laços e também é essencial para nos sentirmos bem: a ciência já mostrou que a gratidão melhora nossa saúde tanto física quanto mental, além de ajudar a combater a depressão e nos deixar mais felizes. José Aldo nunca deixou de demonstrar quanto é grato ao treinador Dedé Pederneiras, à equipe inteira e à esposa, que sempre o apoiaram, inclusive (e principalmente) nos momentos mais difíceis. Mas no UFC Fortaleza ele fez mais – tal qual no Maracanãzinho em 2012: foi celebrar seu nocaute em Renato Moicano, que era o favorito nas bolsas de apostas, nos braços de pessoas às quais ele é muito agradecido: os fãs. “Campeão do povo” que fala, né?