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Lúcio Linhares - A Estréia do Espartano


Por Martins Denis - Aqui no Brasil, quase todos os caras que estão com um pouco mais de 30 anos nos dias de hoje e são envolvidos com lutas, se lembram do começo do Vale Tudo com o desafio entre o jiu-jitsu e a luta livre no princípio da década de 90. Aquele desafio pessoal não serviu apenas para provar a superioridade do jiu-jitsu sobre a luta livre (naquela época), mas também para capturar a imaginação dos jovens que vislumbravam um futuro nas lutas. Aquele período, que teve envolvimento de veteranos do UFC como Murilo Bustamante, Fábio Gurgel, Wallid Ismail e Eugênio Tadeu, catapultou o jiu-jitsu e o MMA para lugares nunca imaginados.

Por Martins Denis


Aqui no Brasil, quase todos os caras que estão com um pouco mais de 30 anos nos dias de hoje e são envolvidos com lutas, se lembram do começo do Vale Tudo com o desafio entre o jiu-jitsu e a luta livre no princípio da década de 90. Aquele desafio pessoal não serviu apenas para provar a superioridade do jiu-jitsu sobre a luta livre (naquela época), mas também para capturar a imaginação dos jovens que vislumbravam um futuro nas lutas. Aquele período, que teve envolvimento de veteranos do UFC como Murilo Bustamante, Fábio Gurgel, Wallid Ismail e Eugênio Tadeu, catapultou o jiu-jitsu e o MMA para lugares nunca imaginados.


Mas como em toda competição existem os dois lados, os vencedores e os perdedores, bem como os que torciam a favor e os contra - e o peso médio recém assinado com UFC, Lúcio 'The Spartan' Linhares se encaixa perfeitamente na categoria dos que não torciam a favor. Quando o jiu-jitsu estava sendo difundido no seu estado, o Espírito Santo, o único sentimento respirado por ele era o ódio.


"Eu era creonte, treinava kung fu e não gostava disso (jiu-jitsu),"  ele disse sobre pioneiros como Fábio, mestre Romero 'Jacaré' Cavalcanti, Eduardo 'Jamelao' Conceicao e Leandro Borgo. "Principalmente porque o Leandro estaria indo lutar contra um amigo meu, então eu queria que ele amassasse o Leandro." 


É engraçado ouvir isso de um talentoso faixa preta de jiu-jitsu que não se graduou no kung fu e muito menos nas outras artes que ele andou treinando, como a capoeria e o aikido. E depois disso tudo, ele ajudou a desenvolver não apenas a arte suave, mas também o grappling e o wrestling assim que seu ódio se evaporou. Mas isso só aconteceu por causa do destino. Ele teve que parar com os treinos quando começou a dar duro no trabalho. E, quando estava com 20 anos de idade, teve a chance de um retorno a pratica das artes marciais e acabou indo assistir a uma aula de jiu-jitsu. Lá, a admiração começou.


"Eu estava procurando alguma coisa e resolvi dar uma olhada na aula," ele disse sobre o ano de 1994. "Eu vi um cara estrangulando o outro de dentro da guarda e disse para mim que era aquilo que eu queria. Quando eu comecei no jiu-jitsu o MMA não era o que é nos dias de hoje, o UFC ainda estava na quarta edição, e a parada era representar o jiu-jitsu contra as outras artes ou entre academias. Somente faixas pretas podiam lutar e isso com a autorização dos respectivos mestres."


A vontade de lutar MMA era latente dentro daquele jovem, e mesmo academia dele não tendo muito foco em MMA (no começo), ele pôde capitalizar o que o ainda pequeno mundo das lutas proporcionava. A experiência com os ícones do esporte já citados anteriormente.   


"Fábio (um membro da Alliance) lutou no desafio jiu-jitsu versus luta livre, então não podemos imaginar onde o jiu-jitsu estaria sem aquela vitória, porque a credibilidade não seria a mesma." Ele disse. "Outros representantes da minha equipe como o Castello Branco e o Roberto 'The Spider' Traven (veterano do UFC) também lutaram, então as portas estavam sempre abertas para o MMA na academia. Quando me decidi por lutar, eu fiz isso junto com meu mestre Jamelão, então foi mais fácil porque treinamos juntos para aquilo."


Inúmeras vezes campeão estadual de jiu-jitsu, Lúcio somente estreou no MMA 10 anos após o primeiro treino. Aos 30 anos de idade ele conseguiu uma vaga no torneio de duas lutas na noite até 88kg, e que tinha também os nomes do ex-desafiante médio do UFC, Thales Leites e de um outro atleta com experiência no Octagon, Flávio Luis Moura. O evento é considerado até hoje como um dos melhores já realizados na região e Lúcio apenas lamenta que sua estréia tenha demorado tanto a acontecer.


"Aquele foi um show muito legal, eu ganhei minha primeira luta e fui escovado pelo Thales na final." Ele disse. "Foi bom para eu me ligar que gostava muito da parada, até mais do que do jiu-jitsu, e que eu tinha que aprender mais se quisesse dar passos mais largos. Apesar de achar que tenha sido um bom começo, eu sei que se tivesse estreado antes, meu desenvolvimento seria melhor."


Buscando um maior aprimoramento em todos os aspectos necessários para um lutador, era esperado que Lúcio começasse a treinar duro na terra do MMA, o Brasil. Mas ao invés disso, a vida dele tomou outros rumos, indo desembarcar na distante de fria Finlândia. Um país, se comparado ao Brasil, com diferenças extremas no clima, comida e na cultura, e (ainda) sem tradição em produzir atletas de alto nível para o MMA. Porém a história dos ancestrais desse país Escandinavo, os Vikings, junto com o clima frio são para Lúcio - que iniciou uma série de seminários em 2001 que culminaram com sua escolha de viver lá - coisas que o fizeram se desenvolver como lutador.


"Eu quase lutei aqui em 2002, no popular FinnFight, mas machuquei meu joelho. Muitos dos meus alunos lutavam e meu amigos promoviam os eventos de MMA aqui, e isso me motivou a começar uma carreira no MMA," ele disse. "Nós podemos ter bons treinos aqui quando quisermos: existem muito caras treinando MMA aqui e a Finlândia não é um país enorme como o Brasil, então fazer intercâmbio entre academias é bem fácil. O clima frio não abre margens para distrações, só para treinar."


As baixas temperaturas não são boas apenas para manter o foco nos treinos, mas também responsáveis pelo apelido deste brasileiro, que fez 36 anos no dia 8 de dezembro. Conhecido como tio Lúcio quando vivia no Brasil, devido às aulas para crianças, o apelido mudou para The Spartan (o espartano), uma referência a barba que ele usava para proteger seu rosto do frio e que as pessoas logo ligaram ao rei espartano Leonidas, imortalizado por Gerard Butler no filme "300".   


"Começou de um jeito engraçado, quando eu estava em um bar e um bêbado me chamou de turco," ele diz. "Eu falei para ele que eu era brasileiro, mas um amigo se aproveitou para fazer piada da situação. Um aluno meu adoslecente começou com isso do filme "300", ele disse que eu parecia com o rei, então quando começavam a me chamar de turco eu dizia que não era, que era um espartano. Mas isso só rolava entre amigos. Então eu fui lutar o Fight Festival em 2007 e um repórter escreveu que eu parecia ter saído do filme "300", assim acabei adotando o apelido."


E com a mesma coragem que os 300 soldados de Esparta mostraram na Batalha de Thermopylae contra o exército Persa que tinha mais de um milhão de homens, Lúcio está em frente de um compatriota no UFC 107. E não vai ser qualquer um, já que ele pega o duríssimo Rousimar 'Toquinho' Palhares, representante da Brazilian Top Team conhecido pelas poderosas finalizações, força e a experiência de três lutas no UFC.   


"Eu sei que o Toquinho é um fenômeno, mas eu estou em grande fase; eu venci minhas últimas cinco lutas e vou levar isso para dentro do octógono."


E apesar da história de Toquinho nos últimos oito meses, quando ele teve uma séria fratura de tíbia e esteve envolvido com reabilitação e retorno ao treinamento, Lúcio acredita que Toquinho pode vir com surpresas, embora o tempo fora de ação indique o contrário.


"Eu não quero ficar esperando, porque ele pode tentar me surpreender com algo que as pessoas não estão esperando," ele diz. "Essa é uma das razões as quais eu vou com tudo para cima dele. Eu sei que eu tenho um bom jiu-jitsu para enfrentar qualquer um no UFC, até mesmo porque essa é a hora da verdade para mim."