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Mark Coleman - Nunca coloque "The Hammer" fora da briga

Por Thomas Gerbasi

 

Mark Coleman está vivendo o sonho impossível. Claro, ele provavelmente discordaria dessa afirmação, considerando que passou os últimos 40 anos da sua vida em Las Vegas, torturando seu corpo na academia, enquanto sente falta das suas duas filhas que estão em Ohio.

E por todos esses motivos, ele não deveria estar aqui, com seu nome no topo ao encarar Randy Couture, neste sábado, pelo UFC 109. Mas ele está, depois de desafiar as probabilidades em 2009 e retornar depois de quase três anos parado - ele saiu da aposentadoria vender caro uma derrota para Mauricio Rua no UFC 93 - e derrotar Stephan Bonnae no UFC 100 com um ataque no chão que trouxe velhas memórias para o cara que dominou o UFC em 1996-97. O que se pode dizer da volta desse lutador de 45 anos, a não ser que "é impossível deixar um cara bom longe?"

"Eu não sei dos outros, mas para mim não há escolha", Coleman disse sobre a sua habilidade de continuar ressuscitando sua carreira. "Eu não vou deixar alguém me derrubar. Eu sempre fui um competidor, eu sempre redefini meus objetivos, eu sempre acreditei em mim e eu vou encontrar uma forma de voltar ao topo. E eu tenho conseguido realizar isso com sucesso".

A primeira reinvenção de Mark Coleman aconteceu há 13 anos, quando o campeão nacional de wrestling NCAA em 1988 e membro da equipe olímpica de 1992 resolveu fazer parte de um esporte que crescia cada vez mais, as Artes Marciais Mistas. Seu domínio nos UFCs 10 a 12 trouxe dois títulos de torneio, o primeiro campeonato na categoria pesado no UFC, e o apelido "The Hammer". Ele era o cara que jamais seria batido, mas nesse esporte uma vez que você ganha esse rótulo, a condenação vem logo em seguida.

Para Coleman, sua condenação foi Maurice Smith, que roubou seu título do pesado em julho de 1997. No mesmo ano, um antigo companheiro de wrestling seguiu os passos de Coleman e entrou no octógono. Seu nome era Randy Couture. Com três vitórias seguidas no primeiro round, "The Natural", como foi apelidado, logo tirou o título de Smith, em dezembro de 97, preparando o terreno para o confronto dos titãs do wrestling no UFC 17, em maio de 1998.

"Eu tenho acompanhado a carreira de Randy desde que ele fazia wrestling", Coleman disse. "Eu o vi lutar muitas vezes, inclusive lutei com ele em 1989 (vencendo a luta), e eu o acompanhei ao longo da sua carreira, pois estava treinando em Ohio, quando ele estava lutando em Oklahoma. Eu quase tive que treinar um lutador que iria enfrentá-lo, então eu sempre estive por dentro da sua carreira. Então, eu estava me preparando para ele e estava bem confiante que iria batê-lo".

Ele não ia ter essa chance, pelo menos não naquele momento, pois Couture não lutou por conta de uma lesão na costela. Coleman, ainda querendo lutar, foi tomado por uma montanha-russa nas semanas que antecederam a sua luta no Mobiel Civic Center, em Alabama.

"Quando ele desistiu, iniciou-se uma cadeia", Coleman relembra. "Eles mudaram meu oponente pelo menos sete vezes em menos de duas semanas. E eu tinha acabado de vir de uma cirurgia no joelho, então eu estava, no mínimo, bem confuso."

Coleman seria nocauteado pelo seu oponente, o jovem Pete Williams, aos 12:38. Logo depois, veio uma terceira derrota seguida para Pedro Rizzo e o então destaque de Ohio tinha um futuro incerto ao ir até o Japão em abril de 1999 para competir no Pride. Mas com uma superação impressionante, que desde então se tornou sua marca, Coleman se reinventou novamente, vencendo o Grand Prix peso aberto do Pride de 2000 e tornando-se um marco da divisão do pesado até 2006, quando uma segunda derrota para Fedor Emelianenko parecia ser sua música de despedida do MMA.

Em 2008, Coleman se juntou a Couture no Hall da Fama do UFC, e ao mesmo tempo anunciou que retornaria ao octógono para mais uma tentativa. Uma luta com o futuro campeão do pesado Brock Lesnar foi adiada por conta de lesão, mas em janeiro de 2009 ele teve a chance de competir novamente contra Shogun, em uma revanche da luta do PRIDE de 2006, vencida por Coleman.

Muitos temiam por Coleman, pois ele iria encarar o especialista em Muay Thai do Brasil, mas "The Hammer" não apenas agüentou firme na sua estreia no meio pesado, como pareceu muitas vezes estar prestes a derrotar Rua em algumas ocasiões. E apesar de ter perdido a luta por interrupção do árbitro a poucos segundos do fim, sua performance o garantiu uma segunda chance no UFC, dessa vez contra Bonnar no UFC 100, em julho do ano passado. Esperando não repetir os erros da sua primeira luta de 2009, Coleman voltou a Las Vegas para treinar e conquistou a melhor forma possível, pois sabia que mais uma derrota encerraria sua carreira no UFC.

"Sem dúvida sobre isso, havia muita pressão para a luta contra o Bonnar, mas isso é ser um atleta", ele disse. "Você tem que saber lidar com a pressão e isso é algo que eu acho que tenho conseguido fazer muito bem ao longo dos anos. Definitivamente eu sabia o quanto estava em jogo na luta contra o Bonnar".

E ele fez o que tinha de fazer, vencendo por decisão unânime em três rounds e se recolocando no mapa. Em seguida, para sacramentar a sua volta, ele descobriu que lutaria com o homem que deveria ter lutado há quase 12 anos. Mas aquilo não era uma completa surpresa.

"Eu estou nesse jogo há um bom tempo e sei bastante sobre estar no lugar certo na hora certa. Felizmente eu me posicionei para algo desse tipo, mas você nunca sabe quando irá acontecer. Você deve apenas estar pronto para isso, e dessa vez eu estava".

A luta, no entanto, significou mais uma caminhada à Vegas para treinar com Shawn Tompkins e mais um afastamento das suas filhas Mackenzie e Morgan. E mesmo elas sabendo o motivo e a importância da ausência do pai, isso não torna o fato mais fácil para Coleman.

"Não tem sido fácil. Eu ainda sinto falta das minhas filhas todo dia porque eu sei que elas precisam de mim, mas estou fazendo isso por elas. Elas são a minha motivação número um no mundo, em todas as áreas da minha vida, não apenas na luta. Sem dúvidas, eu ainda luto por mim, mas eu também faço pela minha família, e eu sempre lutei pelos fãs. Eu sei que ainda tenho alguns fãs por aí, e eu não quero perdê-los, especialmente se eles estão apostando algum dinheiro em mim".

Coleman sorri, especialmente quando fala sobre a recente viagem da filha Mackenzie à Vegas para um encontro de ginastas, onde ela "foi fantástica". Ela venceu nas barras e fez um ótimo trabalho nos quatro aparelhos. É o outro lado de Coleman, longe do ultra-competitivo "Hammer" que praticamente inventou a estratégia do ground and pound no MMA. Então, às vezes é bom que ele saia de Ohio, simplesmente porque o permite manter o foco. Nesse nível de jogo, qualquer vantagem que você tiver é melhor, e Mark Coleman ainda é um competidor.

"Isso é a razão de tudo e é por isso que ainda estou nesse esporte e sou e sempre fui um competidor. Você vive para esses grandes confrontos. Eu realmente não queria estar nas preliminares na última luta. Eu gosto do evento principal, eu gosto dos holofotes, eu gosto de me desafiar e ver se eu posso fazer jus à ocasião. É isso que eu quero fazer nessa luta. Eu quero lutar para os fãs, e, de qualquer forma, quero que seja uma grande luta para eles, uma que elas possam sair de lá felizes por terem visto o que viram."

E ele está mais do que preparado para mostrar a Randy Couture o que ele perdeu em 1998.

"Eu tenho muito respeito por Randy Couture, e não é assim tão duro ter que enfrentá-lo, pois ele tem todas as coisas que eu quero. Então eu gostaria de tirar um pedacinho dele ele para mim. Mas isso é apenas uma competição e, depois que a luta acabar, estarei pronto para cumprimentá-lo, na vitória ou na derrota, e eu tenho certeza que ele pensará da mesma forma".