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McGregor e Diaz: o estrelato de quem superou as dificuldades para vencer

Rivais do UFC 202 têm mais em comum do que se pensa

O sucesso deixa dicas.

Olhe de perto. Sempre há uma explicação para o sucesso. Não é por acaso que dois homens se encaram em uma jaula octagonal enquanto o resto do mundo assiste, segurando a respiração, esperando para ver o que acontece.

Há motivos pelos quais Conor McGregor e Nate Diaz chegaram ao topo do UFC. Na verdade, Trevor Moawad, um dos melhores consultores de preparação mental e psicologia esportiva, enxerga um denominador comum.

“O fator número um do sucesso é a fome”, ele diz. “Você não sobrevive sem ela. E o passado de ambos desenvolveu isso. Os fracos de coração não sobreviveriam de onde Conor e Nate vieram. Você precisa acreditar que é capaz de mudar de vida. Tenho certeza que eles compartilham uma perspectiva que não muitos podem entender”.

Em suas cabeças, McGregor e Diaz para sempre serão quem foram um dia. Batalhadores que vieram do nada e calaram os críticos e os céticos. Quando se enfrentarem novamente no UFC 202 em uma aguardada revanche pelos meio-médios, os dois terão ainda mais combustível para inflamar a chama que queima dentro de cada um deles.

Diaz está determinado a provar que a vitória chocante na épica luta de março não foi um acaso.

“Sempre que você vê um azarão, isso diz que também há uma chance para você”, Dr. Harry Edwards, sociólogo do esporte

McGregor está obcecado por vingança.

E o passado de superação ajuda a explicar por que esses dois lutadores cativam tanto o público. Existe uma fascinação quase mítica por qualquer um que consegue superar a própria condição na vida.

“Sempre que você vê um azarão, isso diz que também há uma chance para você”, diz o renomado sociólogo do esporte, Dr. Harry Edwards. “Existe uma tendência na sociedade americana de torcer para eles, porque eles superaram obstáculos que muitos vemos em nossas próprias vidas hoje”.

“É por isso que tantos fãs ficam hipnotizados por eles. Eles se enxergam neles”.

Eles são um espelho no qual enxergamos vultos de nós mesmos. McGregor e Diaz são homens do povo.

Ambos são histórias de vencedores. Cada um deles usa a provocação e o desdém como armadura. Eles dizem o que vem na cabeça, porque não dão a mínima.

Sua atitude faz deles os lutadores perfeitos para este momento. Afinal, um dos filmes de maior bilheteria neste momento é “Esquadrão Suicida”, que trata de um grupo de anti-herois das histórias em quadrinhos. Um dos candidatos à presidência dos Estados Unidos gosta de aparecer fazendo declarações excêntricas que nenhum outro político moderno ousaria fazer.

Além de todas as outras coisas, McGregor e Diaz são autênticos.

“As pessoas estão cansadas de um mundo pré-produzido em que tudo é politicamente correto e ninguém ofende ninguém”, diz Orin Starn, professor de antropologia cultural da Universidade de Duke, que escreveu sobre o lugar do esporte na sociedade. “Existe um grande apetite por pessoas que não jogam pelas regras. Enquanto outros atletas não largam os clichês, estes caras falam vários palavrões e reclamam das obrigações de publicidade. Na era de Donald Trump, um lutador disposto a não se deixar censurar tem um certo apelo”.

Os lutadores verdadeiramente lendários sempre foram polarizadores. Esta lista começa com o maior de todos os tempos, Muhammad Ali.

“Agora que Ali foi transformado em santo após sua morte, ninguém se lembra que ele era uma figura altamente controversa”, disse Starn. “Mas independentemente de você amá-lo ou odiá-lo, você queria vê-lo lutar. Isso certamente se aplica a McGregor e talvez a Diaz também”.

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McGregor não é chamado de “Notório” à toa. Dono de uma língua afiada e ternos impecavelmente costurados, não é difícil acreditar que ele foi convidado para um teste para o papel de vilão de James Bond.

Mas ele cresceu em uma vizinhança difícil em Dublin e foi aprendiz de encanador após o ensino médio. Apenas quando foi assistir o UFC 93, em 2009, o primeiro evento realizado na Irlanda, McGregor se convenceu que estava destinado a fazer mais.

Certa vez, ele contou à revista Esquire sobre voltar ao antigo local de trabalho, olhar aos homens envelhecidos pelo serviço e abandonar definitivamente suas ferramentas. Demorou alguns anos, mas ele substituiria o cinto de ferramentas pelo cinturão de campeão peso-pena do UFC.

Diaz foi criado na complicada cidade de Stockton, na Califórnia, onde ou você se impõe, ou acaba sendo engolido. Um cara com uma personalidade durona, Diaz venceu a quinta temporada do The Ultimate Fighter, mas isso não fez dele uma estrela.

Ele se incomodou por ser subestimado e subvalorizado. Ele era o irmão mais novo de Nick Diaz, mais famoso por seus provocativos “Tapas de Stockton” dentro do octógono e por tirar os oponentes do sério.

Ele sempre dá um show em uma sangrenta batalha, mas não era um protagonista comercialmente porque, nas palavras do presidente do UFC Dana White, Nate Diaz não era o lutador mais lucrativo.

Tudo mudou no dia 5 de março, quando, com apenas 11 dias de preparação como substituto do então campeão peso-leve Rafael dos Anjos, ele chocou o mundo forçando McGregor a bater com um mata-leão.

Agora, a revanche.

“Se você é o McGregor e, há cinco ou seis anos, ninguém sabia quem você era e todo mundo duvidava que você seria capaz, você se lembra disso agora”, disse Moawad. “Acho que os dois entendem o quão efêmero sucesso e fracasso podem ser”.

Moawad trabalha com equipes de futebol americano universitário, e com atletas profissionais. Ele entende a mentalidade do atleta de elite. Os mais motivados, ele diz, são o que não esquecem a memória de ter que batalhar para se provar.

Um exemplo citado por ele é o do quarterback do Green Bay Packers, Aaron Rodgers, que cresceu na cidade de Chico,

 

"Toda a ideia de respeito é fundamental nos esportes de combate. É sobre se colocar em um estado mental de que você foi prejudicado, de que você tem que provar algo e mostrar para o mundo. Você precisa estar no limite. Isso requer um sentimento de injustiça", Orin Starn, antropólogo cultural da Universidade de Duke

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“Ele não esqueceu de todas as pessoas que nunca acreditaram que ele seria bom o suficiente”, disse Moawad. “Você consegue sentir esse rancor. Ele não é mais o azarão. Mas ele se lembra de todos que duvidaram”.

Sempre se diz que o estilo determina as lutas. Mas existe outro fator: a determinação.

Diaz luta por reconhecimento, McGregor por redenção. E há algo mais, é claro.

“Toda a ideia de respeito é fundamental nos esportes de combate”, diz Starn. “É sobre se colocar em um estado mental de que você foi prejudicado, de que você tem que provar algo e mostrar para o mundo. Você precisa estar no limite. Isso requer um sentimento de injustiça”.

Starn disse que há provavelmente outra razão para que as pessoas sejam tão cativadas por esses dois. Grandes lutadores são definidos por grandes rivalidades. Ali-Frazier. Leonard-Hearns. Aconteceu até nas telonas com Rocky Balboa e Apollo Creed.

Nós desejamos o espetáculo.

McGregor-Diaz 2 ainda nem aconteceu, e uma das palavras mais legais no mundo das lutas já está sendo pronunciada por aí: trilogia. McGregor, o homem do show, entende isso.

“Eu e o garoto temos negócios inacabados”, ele disse na última semana.

Bom, o esporte publicamente espera que McGregor e Diaz estejam apenas começando.