Eventos
Tenho uma foto do dia em que conheci José Aldo. Era 13 de dezembro de 2011 e estávamos no Windsor Barra Hotel, no Rio de Janeiro. Foi pouco tempo depois de eu participar de uma coletiva de imprensa com Dana White, Vitor Belfort e Wanderlei Silva, que anunciavam o retorno do UFC para a cidade, em 14 de janeiro de 2012. O UFC 142, ou UFC Rio 2, teria Aldo como protagonista, enfrentando o americano Chad Mendes na luta principal. A proximidade do UFC 237, marcado agora para 11 de maio, quando o manaura volta a atuar na cidade que adotou, me faz lembrar o episódio.
Em uma sala reservada para entrevistas individuais, conversamos sobre sua expectativa para o combate e sobre atuar em casa, e ele me contou um pouco sobre sua vida. Lembro que o achei quase tímido, economizando nas palavras. Entrevistei José Aldo algumas outras vezes. A que mais gosto foi parte de uma reportagem publicada na edição de dezembro de 2015 da revista VIP, da qual eu era editora. Foi no mesmo fatídico mês em que ele sofreu sua primeira derrota, depois de 10 anos invicto – e justamente para Conor McGregor.
Queria publicar um perfil do Aldo para que os leitores da revista entendessem quem era aquele cara, de onde ele vinha, qual era sua história e, assim, percebessem o que estava em jogo. Conversei com várias pessoas que convivem com o manauara: dos amigos da equipe Nova União até o treinador Dedé Pederneiras, passando pela mulher Vivi, com quem tomei um café numa tarde abafada de primavera no Rio. Com Aldo, falei por quase uma hora naquela mesma manhã. Ele me recebeu sentado em um saco de pancadas no tatame da academia Upper, no Flamengo, berço da Nova União. O chão estava todo molhado, assim como ele, porque o treino de submission havia terminado minutos antes. Ele relembrou episódios de sua infância em Manaus, a relação com o pai, a força da mãe, o início da carreira nas lutas, sua ida para o Rio de Janeiro com uma mão na frente e outra atrás, o tempo em que morou na academia, como foi recebido na casa do amigo Hacran Dias na favela, como conheceu Vivi na própria academia. Foi um papo longo e gostoso – interrompido quando ele simplesmente falou: “Agora deu, né? Cansei de falar”. E então levantou, se despediu e virou as costas. Fiquei lá sentada no saco de pancada achando graça e pensando que aquilo era muito José Aldo.
Dias antes da entrevista, fiquei sabendo por intermédio de meu amigo Sandi Adamiu Junior, sócio da Paris Filmes, que a distribuidora e produtora estava fazendo um filme sobre a vida de Aldo. Pedi na hora: “Posso fazer figuração para o longa?” Imaginei que seria incrível, em minha reportagem, costurar a história de vida de Aldo com os bastidores do filme sobre essa mesma história. Sandi, que só pode ser maluco, topou. Falei então com o diretor Alfredo Poyart, que também concordou, liberou minha entrada e depois me recebeu em sua casa para uma entrevista e para mostrar parte da edição do filme. No dia da gravação, me vestiram de preto e me posicionaram ao lado do octógono, de juíza lateral em uma cena de luta. (Juro que assisti a Mais Forte que o Mundo umas cinco vezes, pausando a tal cena, mas nunca me encontrei.) A matéria foi publicada, Aldo perdeu, o filme foi adiado para o meio do ano seguinte (você pode ler ela aqui.) Juro que pensei que eu podia ter dado má sorte para ele.
De volta ao UFC Rio 2: retornei ao Rio (moro em São Paulo) em 13 de janeiro de 2012, um dia antes da luta, para acompanhar a pesagem e pegar minha credencial de jornalista. No dia 14, cheguei à então HSBC Arena algumas horas antes de o evento começar. Encontrei, às 15h, já uma bela fila de fãs esperando os portões abrirem. Eles estavam lá também para assistir aos combates de atletas como Edson Barboza, Iuri Alcântara, Erick Silva e Vitor Belfort – o Fenômeno voltaria a lutar no Brasil depois de 14 anos pelo UFC, e presenteou o público com um mata-leão em Anthony Johnson logo no primeiro round do evento coprincipal.
Presenciei naquela noite performances memoráveis, como o incrível chute rodado que Edson Barboza aterrissou em Terry Etim no terceiro round. E polêmicas, como a vitória dada por Mário Yamasaki a Carlo Prater, alegando que Erick Silva, que o havia nocauteado em apenas 29 segundos, tinha desferido golpes ilegais na nuca – o bafafá continuou suscitando debates por algum tempo.
E, claro, vi de camarote a plástica joelhada com que José Aldo derrotou o americano Chad Mendes, faltando 11 segundos para acabar o primeiro round. Alguém, aliás, registrou esse momento do lado oposto ao que estávamos no octógono – e a jornalista e minha amiga Ana Hissa, que sentava ao meu lado, publicou em suas redes sociais o exato momento em que nós duas nos espantamos com o nocaute. Depois da vitória, outro episódio inesquecível: Aldo driblou os seguranças, saiu correndo do octógono e pulou na arquibancada, para celebrar nos braços do público. Campeão do povo que fala, não é?
José Aldo lutou mais quatro vezes no Brasil, três no Rio e uma em Fortaleza. Perdeu apenas uma, no UFC 212, em 3 de junho de 2017, para Max Holloway. Este foi justamente o único evento no Rio ao qual eu não fui.
E agora, pensando bem cá com meus botões, talvez eu não seja assim tão pé-frio.