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O carioca Denis Martins acompanha o esporte desde os anos 1980 e traz histórias, causos e contos do MMA
O ano era 2007 e, naquela oportunidade, o atual número 8 no ranking dos penas Charles “Do Bronx” Oliveira nem sonhava em ser um lutador profissional, muito menos um atleta top 10 do Ultimate Fighting Championship.
O cenário era completamente diferente do que “Do Bronx” vê diante de seus olhos nos dias de hoje, membro de uma pequena equipe na região do Guarujá, em São Paulo, liderada pelo professor Erickson Cardoso, Charles era um dos guerreirinhos que colocaram o pé na estrada em direção a competição amadora de “Vale Tudo” que estava programada para a cidade do Rio de Janeiro.
As primeiras batalhas aconteceram logo no começo da viagem. Sem muitos recursos, eles enfrentaram algumas horas desgastantes dentro de um carro para chegarem na competição amadora, onde boa parte dos adversários eram da cidade e já não teriam a mesma dificuldade com o cansaço que a galerinha do Gold Team de SP teve. Dos cinco atletas que vieram para competição, três foram derrotados.
É esse magrelo chassi de grilo, aí?
Charles, um dos mais magrinhos de toda competição, entrou na divisão C (+18 anos), até 75 quilos. Como a pesagem desse tipo de evento ocorre no mesmo dia da luta, seu adversário, apelidado de Pitbull, desdenhou do físico e botou banca para cima do futuro lutador do UFC.
“É esse magrelo chassi de grilo, aí?”
Sem esboçar reação, Charles pesou abaixo do limite da categoria e esperou pelo momento de enfrentar o então aparentemente favorito e forte oponente.
A luta transcorreu de forma impressionante, por ser mais leve do que rival, Charles optou por lutar por baixo, puxando para guarda e desenvolvendo um jogo de solo típico de um lutador profissional. Muitos se questionaram, durante o embate, se aquele magrinho, na real, já não tinha algumas lutas, amadoras ou profissional, antes de debutar num circuito onde todos os atletas tinham experiência apenas na artes marcial de origem e dificuldades para lidar com as proteções de cabeça e canelas exigidas pela confederação que regulava esse tipo de competição. A resposta é não, ele também estava estreando.
Do Bronx ignorou qualquer dificuldade proveniente da viagem, diferença de peso ou itens extras durante uma luta de MMA e literalmente passou o carro, finalizando com uma belíssima chave de braço.
Após forçar a desistência de seu adversário, Do Bronx teve tempo ainda para tirar aquela onda, passando a mão pelo corpo e mostrando que, mesmo sendo fininho, superou qualquer obstáculo com um jogo de solo sólido e dinâmico.
Era o primeiro passo do representante da equipe Gold Team no MMA, e ficou comprovado que o garoto levava jeito, tanto assim que no ano seguinte, Do Bronx se arriscou num evento de três lutas na mesma noite até 77 quilos e simplesmente fez vítimas durante sua campanha vitoriosa no torneio. Ele impôs dois nocautes técnicos e finalizou os desavisados que não acreditaram que aquele garoto magrinho do Guarujá, já era um fenômeno desde o comecinho de sua carreira.