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O caminho até Mayweather-McGregor: O espírito de 2014

Relembre a "Invasão Irlandesa" que trouxe a equipe SBG Ireland ao octógono

Foi o inverno que mudou tudo. E no terceiro inverno desde que 2014 anunciou de verdade a chegada de Conor McGregor e seus parceiros da SBG Ireland ao mundo, o “Notório” está perto de mudar tudo novamente. Neste sábado, ele vai encarar a superestrela do boxe Floyd Mayweather não apenas em seu quintal, Las Vegas, como em seu ringue.

Até aí, nenhuma novidade para o irlandês de 29 anos, que tem anunciado sua missão há um bom tempo.

“Não estamos aqui para participar. Estamos aqui para dominar”.

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As palavras de McGregor após sua vitória em julho de 2014 sobre Diego Brandao iniciaram um movimento dentro da O2 Arena em Dublin, e ele nunca voltou atrás com sua proclamação de que ele e seu time - e todo o MMA irlandês - fariam coisas especiais sempre que colocassem luvas e protetores bucais.

Mas tudo começou com um sonho, depois uma crença, e então um inverno que culminou em um encontro no Murray’s Bar, na O’Connell Street, em Dublin. Lá, McGregor e três parceiros de treinos, Cathal Pendred, Paddy Holohan e Aisling Daly, viram a divulgação de um pôster de 120 metros de comprimento com o futuro campeão peso-leve e peso-pena do UFC em destaque e a frase “Os Guerreiros Irlandeses”.

“Nós literalmente fomos à guerra nessa rua”, disse McGregor naquele dia, “Lutamos com nossas vidas, lutamos pela nossa independência nessa rua e agora, bem no meio está meu lindo e intocável rosto, gritando, com ‘Os Guerreiros Irlandeses’ nele”.

Nada seria mais o mesmo após isso. Hoje, McGregor fez história como o único lutador a ter dois cinturões do UFC simultaneamente, e agora ele é uma estrela em migração pronto para entrar no mundo do boxe para o que deve ser a luta mais lucrativa de todos os tempos. Pendred, Holohan e Daly já estão todos aposentados, mas eles ainda fazem parte da família SBG e sempre serão reverenciados pelo papel que tiveram na invasão irlandesa de 2014.

“Eu estava simplesmente feliz”, me contou Thomas Egan em 2016 quando falamos sobre o card que seria liderado por McGregor x Brandão, “Estava tão feliz e tão emocionado por aqueles caras e por tudo o que haviam feito. Eu não estava pensando em nada além de puro apoio, amor e felicidade por cada um deles. Eu estava quase chorando quando Cathal Pendred venceu, e, claro, Conor aparecendo, eu estava extremamente orgulhoso”.

Egan foi o primeiro irlandês a lutar no UFC, o amigo de adolescência de McGregor que chegou ao grande palco pela primeira vez aos 20 anos. Ele perdeu sua primeira e única luta no UFC para John Hathaway em 2009, mas acendeu um fogo em sua equipe e em McGregor.

“Entrei no esporte com Tom”, relembrou McGregor em 2013, “Entramos para a Straight Blast Gym, mas ele era um pouco mais focado. Eu entrava e saía, era mais um nômade. Então meu treinador John (Kavanagh) veio até mim uma noite e disse ‘Tom assinou com o UFC e realmente quero que você volte, se dedique a isso, e podemos fazer acontecer’. E eu acreditei nele. Ele investiu sua confiança em mim e eu voltei”.

“Éramos apenas crianças”, continuou, “Nossa equipe profissional tinha três pessoas naquela época. Dois pesos-pena e Tom, que era peso-médio na época. Provavelmente tudo aconteceu cedo demais para Tom, mas aquilo nos deu experiência e nos mostrou que era algo alcançável se nos dedicássemos, e foi o que fizemos”.

Quatro anos depois, McGregor estava no UFC. Gunnar Nelson já estava lá representando a SBG. Pendred e Holohan vieram a seguir, com Daly, Artem Lobov e Charlie Ward finalmente colocando a bandeira da equipe no octógono.

Eles eram liderados por John Kavanagh, um treinador visionário que não colocou restrições nas personalidades de seus lutadores ou no que poderia ser feito na noite da luta. Havia o básico a ser ensinado, estratégias a serem implementadas, testes a serem superados. O que viria a seguir dependeria do lutador.

Tendo um cartel de 3-3 como lutador, Kavanagh sabia melhor do que a maioria dos treinadores sobre o que era preciso para competir sob os holofotes - ou naquela época, as penumbras pelas quais seus atletas tiveram que passar no circuito local.

“A maioria das coisas era feita em casas noturnas”, disse Holohan sobre o início, “Você provavelmente teria um enfermeiro como médico, e provavelmente seria pago em torno de 80 ‘contos’”.

“Em 2009, 2010 e até em 2011, eu e Conor não estávamos recebendo reconhecimento”, disse Pendred em 2014, “Estávamos vencendo todos esses melhores caras da Europa e ninguém nos dava atenção ou sabia quem éramos. Mal conseguíamos uma linha em um jornal, quem dirá uma coluna em uma revista. E não estávamos fazendo dinheiro algum, porque tudo o que ganhávamos como lutadores basicamente pagava nossos treinos. Treinávamos três, quatro meses para uma luta, recebíamos uns 200 ‘contos’ e quase não dava para pagar a ida e volta da academia”.

Até o treinador estava preparado para batalhar caso fosse necessário.

“Você ainda vai aos eventos com seu protetor bucal na mala para o caso de alguém sair e você precisar substituir”, disse Kavanagh dando risadas em uma entrevista em 2014, feita logo após o evento em Dublin que mudou tudo para todos os envolvidos.

E naquela noite, já muito depois daquele início, quatro lutadores da SBG subiram no maior palco do esporte e cada um deles - McGregor, Nelson, Pendred e Holohan - deu um show.

“Infelizmente tenho uma formação na engenharia e não na literatura para poder usar um belo vocabulário e tentar explicar o inexplicável”, disse Kavanagh, rindo, “Mas é um sonho que se realiza. Seria difícil superar esse com um dos meus atletas conquistando um cinturão em Vegas. Apesar de esse ser o objetivo final, e de que seria uma noite muito, muito especial, não acho que essa noite jamais será ofuscada. Quatro lutadores, quatro vitórias, luta principal, luta co-principal, minha mãe e meu pai presentes. Meu pai tem 64 anos e disse que foi a melhor noite de sua vida. Foi especial”.

Haveria outras noites especiais, e mais uma delas acontecerá neste sábado, quando McGregor tentar chocar Mayweather - e o mundo - ao vencer sua primeira luta profissional de boxe contra o maior boxeador de sua era. Ele fez uma longa caminhada desde o inverno de 2014, mas 2014 também era um longo caminho desde que os membros da SBG Ireland começaram a perseguir seus sonhos, algo que Pendred falou a McGregor quando eles viram câmeras e jornalistas invadirem sua academia naquele ano.

“Se lembra quando ninguém dava a mínima para nós?”, perguntou Pendred a McGregor, “Ninguém se importava com o que estávamos fazendo”.

Agora eles se importam.

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