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Blog do Marcelo Alonso

O legado de Yoel Romero, um exemplo para todo esporte

Finalmente algum representante do MMA resolveu reagir e buscar na justiça um reparo justo a esta situação absurda que vinha se tornando cada vez mais recorrente: ser pego no exame antidoping e impedido de trabalhar em consequência de uma contaminação cruzada em um suplemento produzido de maneira negligente por um fabricante.

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E o vencedor do primeiro processo milionário é o 2º colocado do ranking dos médios do UFC, Yoel Romero. Segundo seu empresário, Abraham Kawa, o cubano receberá US$ 27,45 milhões (cerca de R$ 110 milhões) da empresa "Gold Star Performance Products", responsável pelo produto.

Curiosamente abordei este assunto aqui em um dos primeiros artigos do blog (“Produzindo suplementos e destruindo reputações”) em abril de 2018. No texto, critiquei o número impressionante de casos de contaminação cruzada que vinham ocorrendo em várias modalidades esportivas. Um absurdo que, além de destruir a reputação de vários atletas junto aos fãs, imprensa e patrocinadores, no caso do MMA, ainda impedia os profissionais, que só são remunerados quando lutam, de trabalhar. O intuito do artigo era chamar a atenção para a aberração de os causadores do dano (farmácias de manipulação e grandes empresas produtoras de suplemento) não estarem sendo processadas pelos atletas e, consequentemente, não serem punidas pela justiça. E alguém já viu alguma regra ser respeitada sem o estabelecimento de limites e punições? Óbvio que não.

Uma reportagem veiculada no Esporte Espetacular, na semana em que escrevi o texto, dava a exata noção do estrago a partir de uma  pesquisa conduzida pelo Comitê Olímpico Internacional em 2004. Ao todo, 634 marcas de suplementos haviam sido avaliadas. Mais de 18% continham drogas que não estavam listadas nos rótulos. Ou seja, praticamente uma entre cinco amostras testadas estavam fora das especificações, muitas vezes com substâncias que poderiam ser consideradas doping. Não por acaso, no Brasil, entre 2016 e 2019, havíamos tido ao menos 13 casos comprovados de contaminação cruzada, em um total de 48 testes positivos. Ou seja, cerca de 25%. E nesta lista estavam atletas consagrados como Thomas Bellucci (tênis), Murilo (vôlei), Ana Claudia Lemos (atletismo), André Santos (futebol) e César Cielo (natação). Enquanto isso no MMA, tivemos os casos comprovados de Josh Barnett, Yoel Romero, Jim Wallhead, Junior “Cigano”, Rogério “Minotouro” e  Marcos “Pezão”.

Num país como os Estados Unidos, onde os direitos individuais do consumidor são respeitadíssimos, eu não conseguia entender como lutadores que foram impedidos de trabalhar e tiveram sua reputação manchada por conta de um erro gravíssimo de um fabricante de suplementos, ainda não haviam movido processos milionários em série por dano material e moral. Causa ganha, se levarmos em conta que, nos anos 80, alguns norte-americanos ficaram milionários por se cortar acidentalmente em cacos de garrafas de refrigerantes (foi a partir daí que as grandes empresas passaram a fazer garrafas plásticas).

Flagrado em exame antidoping surpresa em 2015, Romero comprovou em seu processo que a situação só ocorreu por conta de uma contaminação em um suplemento alimentar e conseguiu a inocência junto a USADA. Porém, o tempo afastado por conta da polêmica o fez lutar pela justíssima reparação por danos morais e materiais junto a empresa responsável pelo produto.

Ao final do processo, o juiz deu ganho de causa ao cubano, obrigando a empresa "Gold Star Performance Products" a pagá-lo US$ 27,45 milhões de dólares, dos quais US$ 3 milhões por salários perdidos, US$ 3 milhões por danos contra sua reputação, US$ 3 milhões por danos emocionais, e tudo isso multiplicado por três pelo estado de Nova Jersey. Segundo explicou seu empresário à ESPN. Certamente esta jurisprudência favorável a Romero deve se refletir em tribunais do mundo todo.

Quem deve estar preocupado com a notícia é o brasileiro Paulo Borrachinha (#8), que está com luta marcada contra o cubano no dia 17 de agosto, no UFC 241, em Anaheim (EUA). Por mais que goste de encarar desafios, o fato é que, aos 42 anos de idade e uma vida dedicada aos duros treinos de wrestling, dificilmente Romero seguirá na rotina de treinos do MMA quando receber esta bolada. Esperamos que seja depois da luta com Borrachinha.

Caso decida mesmo parar, além do incrível legado como lutador (apenas três derrotas em 16 lutas), Romero terá deixado um excelente exemplo não só para o mundo do MMA, mas para todos os esportistas do mundo. Uma lição histórica contra os absurdos da milionária indústria farmacêutica. Certamente, sentindo no bolso, estes irresponsáveis destruidores de reputações passarão a tratar atletas e seu público consumidor com o respeito que merecem.

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