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Imagine se neste domingo o tapete vermelho do Dolby Theater, em Hollywood, recebesse – em vez de Lady Gaga, Emma Stone e Glenn Close – Amanda Nunes, Cris Cyborg e Valentina Shevchenko vestidas com longos assinados por estilistas famosos. Os repórteres se engalfinhando não para entrevistar Bradley Cooper ou Christian Bale, mas sim Johnny Walker e Yoel Romero.
Na cerimônia, nada de show com o Queen – os convidados dançam ao som de “O nome dela é Jenifer, eu encontrei ela no Tinder...”, de Gabriel Diniz. Pois foi isso que imaginamos ao pedir para três especialistas (nossa “Academia”) escolherem os vencedores das categorias principais do Oscar caso o UFC fosse a indústria cinematográfica. Veja aqui quem foram os vencedores – com as justificativas de cada representante da Academia. (Aos cricris de plantão: embora o Oscar premie filmes referentes ao ano anterior, abrimos uma licença poética para as produções “lançadas” até o começo deste mês.)
Veja também: Sessão da tarde
Categoria: melhor trilha sonora (ou: melhor música de entrada)
Representante da Academia: Guilherme Cruz, repórter do MMA Fighting
- E o Oscar vai para... Snap!, com Rhythm is a Dancer
“O Oscar de Trilha Sonora é uma escolha óbvia, e se alguém escolheu outro lutador senão Markus Maluko e sua caminhada em direção ao octógono sob os gritos de ‘o nome dela é Jenifer’... acertou. Atletas geralmente escolhem músicas que os deixam empolgados para o combate, ou que os relaxem. Eis que surge Johnny Walker. A nova sensação dos meio-pesados se destacou da multidão no UFC Fortaleza não apenas por seu nocaute fulminante, mas pela performance no melhor estilo ‘Clube das Mulheres’ ao som de Rhythm is a Dancer, com direito a encoxada no cutman antes de entrar no octógono. Uma dança performática que durou mais tempo que a própria luta.”
Categoria: melhor roteiro original (ou: melhor história de vida)
Representante da Academia: Adriano Albuquerque, repórter do Canal Combate e do Globo Esporte.com
- E o Oscar vai para... Johnny Walker
“O menino nascido na Baixada Fluminense, que viajou pelo país em busca de treinamento e oportunidade, teve de sair para o exterior, morar em academia e trabalhar de dançarino até ser reconhecido. Recebeu uma chance de impressionar o chefão em rede nacional, contra um veterano do UFC, e correspondeu. Em seguida, foi jogado aos leões, contra uma pedreira na Argentina, e fez parecer fácil, ganhando com estilo em 30 segundos. Tudo isso com alegria no rosto e um estilo único. Johnny Walker é com certeza único.”
Categoria: melhor atriz coadjuvante (ou: melhor lutadora que ainda escala sua divisão)
Representante da Academia: Fernanda Prates, repórter do MMA Junkie
- E o Oscar vai para... Jessica Andrade
“Olhando para o histórico de Jessica, é difícil lembrar que ela tem apenas 27 anos. Os números são parte disso, já que 25 lutas de MMA – 15 delas só pelo UFC – não é pouca coisa. Mas sua carreira, além de produtiva, é pioneira: em julho de 2013, contra Liz Carmouche, ela se tornou a primeira mulher brasileira a competir pelo UFC. A estreia marcou a primeira vez em que uma luta do UFC envolveu dois protagonistas abertamente gays. Jessica já competiu em duas categorias diferentes, já desafiou pelo cinturão em uma delas e, em um esporte em que lesões fazem vítimas frequentes, nunca passou um ano sem lutar pelo menos duas vezes. Além disso, mesmo descendo duas categorias inteiras, da galo à palha, nunca deixou de bater o peso. Jessica, um rosto conhecido, talvez seja uma escolha controversa para a categoria de atriz coadjuvante, com novatas como a peso-palha Mackenzie Dern e a peso-galo Aspen Ladd fazendo um merecido barulho enquanto escalam suas divisões. Mas, depois de bater duas contenders e carimbar uma segunda chance ao cinturão em 2019, é apenas justo dar ao 2018 de Jessica Andrade o reconhecimento que ele merece. Sem contarque – vide os Oscars de Martin Scorcese e Leonardo DiCaprio depois de anos batendo na trave – não há nada de errado com aquele aceno para o conjunto da obra.”
Categoria: melhor diretor (ou: melhor treinador)
Representante da Academia: Guilherme Cruz, repórter do MMA Fighting
- E o Oscar vai para... Javier Mendez
“Khabib Nurmagomedov está a um passo de se tornar o melhor peso-leve da história do esporte. Daniel Cormier alcançou o feito de segurar os cinturões dos meio-pesados e pesados simultaneamente, parando todos os seres humanos (não chamados Jon Jones) que entraram em seu caminho na jornada. A semelhança entre eles? Javier Mendez. O líder da American Kickboxing Academy formou um dos melhores times de MMA do planeta, e ter três de seus pupilos entre os melhores lutadores peso-por-peso por tanto tempo, especialmente em um esporte tão dinâmico, é um feito difícil de ser alcançado.”
Categoria: melhor curta (ou: melhor luta de três rounds)
Representante da Academia: Adriano Albuquerque, repórter do Canal Combate e do Globo Esporte.com
- E o Oscar vai para... Tony Ferguson x Anthony Pettis
“Em apenas dois rounds, Ferguson e Pettis entregaram quase tantas emoções quanto Whittaker e Romero. Foi um toma lá, dá cá. Teve knockdown de um lado, knockdown do outro, tentativa de finalização, provocação, trocação franca... Terminou com um anticlímax, quando Pettis não voltou para o terceiro round por causa de uma fratura na mão, mas grandes filmes às vezes terminam de forma dúbia...”
Categoria: melhor ator coadjuvante (ou: melhor lutador que ainda escala sua divisão)
Representante da Academia: Guilherme Cruz, repórter do MMA Fighting
- E o Oscar vai para... Zabit Magomedsharipov
“Renovação no MMA é constante, e as listas de novos e promissores talentos pode ser atualizada a cada fim de semana. Porém, poucos encantam, impressionam e surpreendem mais que Zabit Magomedsharipov. Num momento em que os talentosos Petr Yan, Gregor Gillespie e Livinha Souza transmitem confiança de que serão fortes candidatos a cinturões no futuro, o russo mostra que decifrá-lo dentro do octógono é uma tarefa tão complicada quanto se seu sobrenome fosse tema de trívia no Soletrando.”
Categoria: melhor filme (ou: melhor luta de cinco rounds)
Representante da Academia: Adriano Albuquerque, repórter do Canal Combate e do Globo Esporte.com
- E o Oscar vai para... Robert Whittaker x Yoel Romero II
“Um bom filme tem inúmeros ‘plot twists’ [reviravoltas] e um final inesperado. Foi isso que Whittaker x Romero II nos deu. A começar por Romero não bater o peso na pesagem, anulando a disputa do cinturão antes de os dois entrarem no cage. Depois, Whittaker abre vantagem com dois rounds dominantes, em que Romero parece irreconhecível. Do nada, o cubano volta no terceiro round babando e quase nocauteia o campeão... E quase é nocauteado também por um chute alto! Os dois alternaram momentos agudos até o final, e, ao soar da buzina, ninguém sabia quem seria anunciado vencedor. Foi Whittaker, numa decisão dividida dos juízes, um final feliz para o mocinho que cumpriu tudo o que lhe foi exigido e suportou valentemente o ataque do vilão que tentava derrubá-lo.”
Categoria: melhor atriz (ou: melhor lutadora)
Representante da Academia: Fernanda Prates, repórter do MMA Junkie
- E o Oscar vai para... Amanda Nunes
“Sabe aqueles anos em que uma categoria de indicados ao Oscar está tão disputada que você pensa que seria perfeitamente aceitável que qualquer um dos candidatos vencesse? Bem, no que diz respeito a MMA feminino, 2018 definitivamente não foi um desses anos. Temos uma vencedora clara. Não que a corrida tenha sido definida cedo – para ser mais específica, ela esteve aberta até o dia 29 de dezembro, quando as campeãs brasileiras Amanda Nunes e Cris Cyborg se enfrentariam na segunda luta principal do UFC 232. A vencedora sairia com uma prova material dos seus esforços: o cinturão peso-pena do UFC, até então de Cyborg. Mas, nos debates e entrevistas pré-luta, falava-se de um título menos palpável em jogo: o de maior lutadora de MMA de todos os tempos. Não eram muitos apostando que Amanda, incumbida da tarefa de subir de peso até a categoria em que Cyborg dominou por 13 anos, iria vencer. Menos ainda acreditavam que ela nocautearia. Mas foi justamente isso que ela fez. Em 51 segundos. E assim, aos 30 anos, Amanda Nunes entrou em 2019 com um cinturão em cada ombro e um feito inédito sobre uma titã do MMA mundial. Como negar o título de melhor de 2018 para alguém que garantiu seu lugar na história?”
Categoria: melhor ator (ou: melhor lutador)
Representante da Academia: Fernanda Prates, repórter do MMA Junkie
- E o Oscar vai para... Daniel Cormier
“Defender um título ao dominar e nocautear um oponente perigoso, até então invicto no UFC, não é um jeito nada ruim para um lutador começar um ano. Mas sabe o que é ainda melhor? Fazer isso, derrubar o campeão da categoria de cima em seguida e, meses depois, defender o segundo cinturão. Mais legal ainda? Não precisar de mais de dois rounds para fazer qualquer uma dessas coisas. Pois eis o 2018 de Daniel Cormier. Depois de bater Volkan Oezdemir em janeiro pra defender o título meio-pesado, Cormier subiu para sua antiga categoria para tentar se juntar a Conor McGregor na lista bastante VIP de lutadores simultaneamente campeões de duas divisões do UFC. A tarefa não chegava a ser fácil, já que envolveria interromper a sequência de seis vitórias – incluindo cinco nocautes – do campeão peso-pesado Stipe Miocic. Nas mãos de Cormier, contudo, o nocauteador se tornou o nocauteado. E, com dois cinturões nos ombros, Cormier poderia ter fechado 2018 e aguardado pacientemente enquanto uma luta lucrativa contra o ex-campeão Brock Lesnar se desenhava. Mas não. Em vez disso, ele concedeu uma chance de cinturão a Derrick Lewis. E mesmo com a mão ainda um pouco avariada da luta anterior, sem contar um mal jeito preocupante nas costas na própria manhã da luta, Cormier venceu por finalização. Ele oficialmente abriu mão do título meio-pesado dia 28 e, portanto, não fechou o ano como campeão duplo do UFC. Mas um cinturão a menos para lustrar não tira o brilho do 2018 do atleta . Até porque, hey, até Al Pacino só tem um Oscar.”
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