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O mineiro Nikolas Motta foi um dos brasileiros contratados por Dana White na 4ª temporada do Contender Series, que chegou ao fim no último mês de novembro; mas a jornada do peso-leve de 27 anos rumo à maior organização de MMA do mundo não foi nada fácil.
Em 2015, ele estava de férias com os pais na Bahia quando ficou sabendo da seletiva para o TUF Brasil 4 e resolveu se inscrever. Ao chegar no Rio de Janeiro para os testes, se deparou com cerca de 800 candidatos e ficou inseguro, mas conseguiu uma vaga entre os 32 participantes.
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Na época, Nikolas integrava a equipe da Nova União e contou com os valiosos conselhos de um parceiro de treinos que já conhecia bem a experiência - Léo Santos, vencedor da 2ª temporada brasileira do reality.
"Léo me falou: 'Aquilo lá é um hospício!'. Quando entrei, senti na pele que realmente era uma pressão sinistra”, contou em conversa com a reportagem do UFC Brasil, “É como o Minotauro falava: no TUF, nem sempre é o melhor lutador que ganha, mas o que consegue lidar melhor com aquela pressão da casa - é tudo diferente; você não tem os treinadores com os quais você está acostumado, tem uma câmera na sua cara o tempo todo. Na minha luta para entrar no TUF, eu já tinha na cabeça que aquilo ia mudar minha vida”.
Nikolas passou pela rodada eliminatória ao derrotar Alexandre Cidade, mas acabou sendo eliminado no combate seguinte, quando foi finalizado por Glaico França, que se tornaria campeão da edição. E isso mexeu com sua cabeça.
"Eu fiquei meio bolado, não estava com a cabeça muito boa”, disse, “Eu não queria voltar a lutar em evento regional, queria lutar em evento grande. Perdi um pouco da motivação. Também faltou um pouco de humildade. Acho que perdi lutas que precisava ter perdido, porque eu estava com o ego muito alto”.
“Na luta, você tem que estar sempre arisco”, continuou, “Eu era muito moleque, muito imaturo, e acho que por isso tive algumas derrotas. Mas eu aprendi com essas derrotas e agora sou um cara bem mais experiente".
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Foi neste momento que outros grandes nomes do esporte lhe estenderam a mão e ofereceram a oportunidade de um recomeço.
"O Glover Teixeira é praticamente da minha cidade, pois ele é de Sobrália, que é um distrito de Governador Valadares. Ele me convidou: 'Estou indo para os Estados Unidos, se você quiser aproveitar e ir comigo...'. Comprei a passagem e fui. Fiquei uns dois meses em Danbury treinando com ele, até que o Marlon Moraes me ligou".
Na época, Marlon tinha como companheiro de treinos Matheus Nicolau, amigo de Nikolas dos tempos de Nova União e do TUF. O “Mágico” o convidou para ser sparring de Eddie Alvarez e o brasileiro prontamente aceitou.
“A equipe na época estava muito forte, e eu aproveitei muito isso”, disse, agradecido, “Melhorei muito meu jiu-jítsu com o Ricardo Almeida, treinei muito com o Edson Barboza, tinha treinos de wrestling com o Frankie Edgar. Foi muito bom para o meu crescimento".
Fora dos treinos, no entanto, nem tudo eram flores. Sem visto de trabalho, Nikolas passou vários meses sem conseguir competir. Morando no porão da casa do sogro de Frankie Edgar e sem habilitação para dirigir, ele dependia da ajuda dos amigos para ir aos treinos e até mesmo ao supermercado: “Muitas vezes pensei em desistir. Eu lembrava do Rio, como era tranquilo, treinar, tomar um açaí, ir à praia...”.
Mas o brasileiro superou as adversidades, manteve o foco e após 18 meses apenas treinando, voltou à ação. Em pouco mais de um ano, fez quatro lutas nos Estados Unidos, vencendo três, e conseguiu uma nova oportunidade de chegar ao Ultimate, desta vez através do Dana White’s Contender Series.
Devido à pandemia de COVID-19 e a alteração de todo o calendário do UFC em 2020, Nikolas precisou esperar vários meses até que sua participação no programa tivesse uma data confirmada. Mas quando ela finalmente chegou, ele estava preparado.
"Minha luta no Contender foi uma luta em que usei todas as minhas experiências do passado e não cometi mais os mesmos erros. Eu não nocauteei, mas foi uma luta irada, fiquei o tempo todo buscando nocautear e ao mesmo tempo não cometer erros", disse, "Foi a segunda vez em que lutei em frente ao Dana White. Ao mesmo tempo em que eu queria impressionar ele, também não queria me emocionar demais, cometer erros e perder a luta".
Após superar Joseph Lowry por decisão unânime e ouvir o presidente do UFC dizer que ele estava contratado, um filme passou em sua cabeça.
"Foi como tirar um peso das minhas costas, dos meus ombros. Todo o sacrifício que eu fiz desde lá atrás quando saí de casa com 18 anos para ir ao Rio de Janeiro”, contou, “Morei de favor em uma igreja; foram muitos anos morando em muitas casas diferentes, no morro, passando perrengues. Minha família queria que eu estudasse, fizesse faculdade, mas eu não quis ficar no conforto, preferi passar todas as dificuldades até conquistar meus objetivos. Foi uma longa jornada".
No aguardo de sua estreia oficial no Octógono, ele encerrou a conversa fazendo uma breve apresentação: "Acho que os fãs vão se divertir comigo, porque sou um cara engraçado e ao mesmo tempo sou um samurai, sou agressivo. Eu não faço lutas chatas. Podem esperar um monstro no Octógono, um cara que está sempre tentando nocautear e acabar com a luta".