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Mais uma vez a imprevisibilidade faz história no UFC. Aliás, perdi a conta do número de vezes, só este ano, que comecei nosso papo semanal no blog analisando grandes zebras do final de semana. E o que foi aquela finalização do Anthony Smith em cima do favoritíssimo Alexander Gustafsson em pleno UFC Estocolmo? E aquele nocaute que o Léo Santos conseguiu em sua volta ao Octógono, depois de quase três anos longe do evento?
Mais UFC Estocolmo: Personalidades comentam Smith x Gustafsson | Smith finaliza Gustafsson | Léo Santos nocauteia em seu retorno
Curiosamente, estas duas vitórias vieram a corroborar com o texto que fiz na semana passada sobre os oito quarentões do MMA nacional. Léo Santos, inclusive, era o oitavo elemento, uma vez que completará 40 anos em fevereiro de 2020. No texto, eu comentava o quão complexa é a questão da definição da aposentadoria no MMA. Num esporte tão complexo como este, cada vez temos tido mais exemplos de que o desejo de parar é definido por uma série de fatores, e que, em muitas vezes, o cansaço mental vem à frente do próprio desgaste do corpo.
Neste UFC Estocolmo vimos os dois exemplos. Próximo a completar 40 anos de idade e depois de um longo e desgastante período na geladeira, Léo Santos poderia ter demorado a entrar na luta, permitindo até que a luta fosse decidida pelos juízes. A pressão era enorme, afinal ele tinha consciência que uma derrota para Stevie Ray depois de tanto tempo parado poderia significar sua demissão. Mas é nessas horas que a experiência faz a diferença. Léo deu de ombros para a pressão e aplicou um belo nocaute no escocês com pouco mais de dois minutos de luta, não só garantindo o emprego, como voltando para casa com 200 mil reais de bônus, valor que certamente o ajudará a pagar as contas atrasadas, fruto dos quase três anos fora do octógono.
Depois de nocautear Ray e Kevin Lee e finalizar Anthony Rocco Martin (próximo oponente de Demian Maia) o representante da Nova União passou de ameaçado de demissão para futuro Top 15 da categorias dos leves.
Aposentado aos 32 anos
O sueco Alexander Gustafsson, com apenas 32 anos e vindo de uma segunda disputa de cinturão contra Jon Jones, adentrou na Ericsson Globe Arena no último sábado ovacionado por sua torcida. Era o favorito absoluto contra o americano Anthony Smith, que também vinha de uma derrota para Jon Jones. Smith começou melhor nos dois primeiros rounds, até que Gustafsson deu a impressão a sua torcida de que iniciaria uma reação, ao vencer o terceiro; mas no quarto Smith voltou a dar as cartas e, após derrubar e pegar as costas, finalizou o local.
Esta, aliás, foi a segunda derrota em casa do sueco. Em 2015, Anthony Johnson, que também se aposentou precocemente, aos 33 anos de idade, o havia nocauteado. Este segundo revés em casa acabou levando alguns fãs mais maldosos a criarem memes, acusando Gustafsson de sofrer da “síndrome de Estocolmo”. Esquecendo que o sueco também conseguiu vitórias memoráveis sobre os brasileiros Glover Teixeira e Thiago Silva lutando em casa.
Muito abalado por decepcionar os fãs suecos mais uma vez, Gustafsson surpreendeu a todos ao declarar sua aposentadoria na entrevista logo após o combate. Algo que ele já tinha feito em duas outras oportunidades, mas que garantiu na coletiva de imprensa que, desta vez, é pra valer. “Eu perdi para Jon na minha terceira disputa de cinturão, e achei que, por ter me lesionado um pouco naquela luta, eu não havia conseguido mostrar tudo o que podia. Por isso ainda havia em mim uma esperança de que a luta contra Anthony Smith pudesse ser o primeiro passo da minha nova caminhada rumo ao topo. Mas eu perdi, assim como perdi nas três chances que tive de ser campeão. Acho que me aposentar na minha casa foi uma forma honrada de dizer aos fãs e aos espectadores que esta foi a minha decisão”, finalizou.
Não há dúvida alguma de que lutadores como Alexander Gustafsson, com apenas 32 anos, e Anthony Johnson, que se aposentou com 33, ainda teriam muita lenha para queimar e poderiam lutar em alto rendimento vencendo 90% da divisão por ao menos mais cinco ou seis anos, mas é o que abordei aqui na semana passada: no final das contas, o que vale é o objetivo do lutador. Existem quarentões como Werdum e Jacaré que ainda almejam o título, outros como Minotouro, Anderson e Glover que, mesmo tendo noção de que não devem mais disputar o cinturão, ainda querem continuar lutando, assim como existem trintões como Gustafsson, Johnson e o próprio José Aldo, que não tem mais motivação para continuar na dura rotina de treinos deste esporte, sem a possibilidade de lutar pelo título, e preferem preservar o corpo e curtir a vida com a família com as boas economias conquistadas no UFC. Em suma, cada caso é um caso e no final o que vale é o bom senso e a decisão pessoal de cada um.
Renovação nos meio-pesados
A aposentadoria de Gustafsson e o impressionante nocaute do polonês Aleksandar Rakic, de apenas 27 anos, sobre o inglês Jimi Manuwa escancararam a renovação de talentos que vem ocorrendo na divisão dos meio-pesados. Após sofrer a quarta derrota consecutiva, Manuwa, 11º da divisão, muito provavelmente será demitido. E com a saída de Manuwa e Gustafsson do ranking, duas vagas devem se abrir. Rakic deve entrar no lugar de Manuwa, entre Johnny Walker (11º) e Glover (9º); Shogun deve subir para 12º.
Com a vitória sobre Gustafsson, Anthony Smith deve ficar em segundo no ranking, mas como já foi derrotado, tanto por Marreta quanto por Jones, provavelmente o invicto Dominick Reyes (4º), de apenas 29 anos, seja o próximo a lutar pelo cinturão. Pensando bem, levando em conta o fato de Jon Jones estar colocando seu título em jogo contra Thiago Marreta em julho e a crescente moral que Johnny Walker tem com a organização, não estranharia se o UFC fizesse uma eliminatória para definir o próximo contender entre Walker e Reyes.
Mas estas são só elucubrações. Agora só nos resta aguardar e esperar os próximos capítulos, afinal de contas, o fã brasileiro já tem emoção garantida para os próximos dois meses, com Marlon Moraes disputando o cinturão dos galos contra Cejudo no UFC 238 no próximo sábado; Thiago Marreta disputando o cinturão dos meio-pesados com Jon Jones no UFC 239 (6 de julho); e Amanda Nunes colocando o título do peso-galo em jogo contra Holly Holm.