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Depois de uma edição histórica realizada em São Paulo em setembro do ano passado, o UFC retornou no último sábado para promover sua 34ª edição em solo nacional, desta vez em Fortaleza. Um card excelente, com 17 brasileiros e lutas de alto nível técnico. Os grandes destaques da noite foram José Aldo, Marlon Moraes, Charles do Bronx, Demian Maia e Johnny Walker, que conseguiram definir suas lutas antes do final.
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Como de praxe, ao final do evento, as mídias sociais pegaram fogo com os fãs debatendo sobre os possíveis próximos desafios destes cinco representantes do MMA nacional. Como Mick Maynard, Sean Shelby e Dana White costumam demorar para definir o futuro de atletas que acabaram de lutar, e eu também sou um fã ansioso, resolvi deixar aqui os meus pitacos:
Nos braços do povo e nas mãos de Holloway
Logo depois que conseguiu a vitória sobre Renato Moicano por nocaute técnico repetindo em Fortaleza a emocionante comemoração “nos braços do povo”, que marcou seu histórico nocaute sobre Chad Mendes no Rio (UFC 142), Aldo recebeu os cumprimentos do campeão Max Holloway pelo Twitter: “Não apenas Rei do Rio. Rei do Brasil. Rei na defesa dos campeões. Parabéns, Aldo! Nada além de amor por você, irmão”. A verdade é que após calar boa parte do mundo da luta, que o considerava zebra contra Moicano e Jeremy Stephens, o faixa-preta da Nova União só depende de uma definição do campeão para saber que caminho tomará nas duas últimas lutas de seu contrato.
Na hipótese de Holloway confirmar que vai subir de categoria, Aldo poderia fazer uma super luta nos leves no UFC de maio, possivelmente em Curitiba, contra Anthony Pettis, Dustin Poirier ou Donald Cerrone, por exemplo. Enquanto isso, faria sentido que Brian Ortega (1º no ranking dos penas) e Alexander Volkanovski (4º) lutassem para definir quem disputaria o título vago com o brasileiro na última luta de seu contrato, no último UFC brasileiro de 2019. Nada mais justo que o UFC dar ao maior campeão peso-pena da história a chance de terminar sua carreira lutando pelo título em frente à sua torcida.
Mas caso Holloway decida se manter no peso-pena, o cenário seria totalmente distinto. Após duas derrotas seguidas para o campeão, não faria sentido casar esta luta novamente. Pelo menos não num período tão curto. O mesmo valeria para Ortega, que acabou de perder para o havaiano. Neste caso, Volkanovski e Frankie Edgar (2º) seriam os únicos Top 4 que ainda não lutaram com o campeão. Caso Holloway fique nos penas e não haja expectativa, a curto prazo, para Aldo lutar pelo cinturão, o melhor caminho talvez fosse terminar a carreira fazendo super lutas, seja contra os três pesos-leves citados acima ou realizando seu sonho da revanche contra McGregor. Aliás, por falar nele, logo após a vitória de Aldo sobre Moicano, o irlandês também usou suas mídias sociais para dizer que adoraria lutar no Brasil: “Uh vai morrer! Eu ainda estou aqui”. Como Dana disse que Conor precisará fazer uma luta antes da revanche com Khabib, que deverá lutar com Ferguson, seria maravilhoso poder unir o útil ao agradável na última luta do contrato de Aldo.
Na cola de Dillashaw
Quem imaginava uma luta renhida como a primeira entre Marlon Moraes e Raphael Assunção se impressionou com a performance do friburguense neste segundo encontro. Em apenas 3m17s, “Magic” Marlon conectou um ótimo golpe e, após aplicar um knockdown em Raphael, o obrigou a dar os três tapinhas com uma justa guilhotina.
Ao final da luta, Marlon pleiteou o title-shot e um contrato em novas bases após conseguir quatro vitórias consecutivas (Dodson, Sterling, Rivera e Assunção). Não há como questionar o merecimento do brasileiro ao title-shot. Mas a questão primordial agora é o timing. Se o UFC decidir casar na sequência a revanche entre TJ e Cejudo valendo o cinturão dos galos, provavelmente o friburguense terá que fazer mais uma luta, que poderia ser com o vencedor de Cody Garbrandt (1º no ranking dos galos) x Pedro Munhoz (8º) ou até mesmo contra o ex-campeão Dominick Cruz (2º), que está voltando de contusão. Agora só nos resta esperar o anúncio oficial do UFC.
Bronx finaliza e pede Kevin Lee
Quem também engatou uma impressionante sequência de quatro vitórias (todas por finalização) foi Charles do Bronx. Desta vez a vítima foi o duríssimo sueco David Teymur, que vinha de cinco vitórias consecutivas. Depois de um primeiro round bastante disputado, Charles aplicou uma bela cotovelada à la Anderson Silva e, no solo, finalizou Teymur com um triângulo de mão, ampliando a vantagem sobre Royce Gracie na disputa pelo recorde de finalizações do UFC (13 x 10).
Ao final da luta, Charles, que ainda não está ranqueado entre os leves, pediu um Top 15 ao microfone e arriscou o nome de Kevin Lee (5º no ranking dos leves) para o UFC de Miami em abril. Mesmo com o prestígio de ser o recordista de finalizações na história do UFC, acho difícil que o paulista consiga um oponente tão bem ranqueado numa categoria tão competitiva como a dos leves, mas fez muito bem em arriscar. Se não conseguir Lee, Dan Hooker (15º) seria uma boa opção que, em caso de vitória, lhe garantiria uma vaga entre os Top 15.
Demian Maia continua entre os melhores
Outro momento de grande emoção neste UFC Fortaleza foi o reencontro de Demian Maia com as finalizações. Depois de sofrer três derrotas consecutivas para os melhores wrestlers da divisão, Demian voltou a enfrentar um striker. Lyman Good vinha de uma boa sequência, sendo a última luta um impressionante nocaute sobre o também faixa-preta de jiu-jítsu Ben Saunders. Mas contra Maia não viu nem a cor da bola. Bateu num mata-leão em pé a 2m38s do 1º round.
Assim como Aldo, Demian só tem mais duas lutas no contrato e também fala em aposentadoria, mas com esta luta mostrou que ainda tem lenha para queimar e ainda pode lutar mais uns dois anos em alto rendimento, mesmo que não almeje o cinturão. Ao contrário de Aldo, Demian adora a rotina de treinos e, como sempre teve um estilo que o preservou de concussões e não tem nenhuma contusão grave, certamente tem condições de fazer grandes lutas entre a elite da divisão dos meio-médios.
Chegaram a cogitar uma próxima luta com Michael Chiesa, que acaba de subir dos leves finalizando Carlos Condit e é considerado pelos americanos como um fora de série no jogo de solo. Se Demian não tem mais pretensões de lutar pelo cinturão, seria uma ótima luta para o paulista mostrar aos fãs a diferença entre um faixa-preta e um campeão mundial (como fez Sergio Moraes contra Ben Saunders). Mas vejo Demian com condições de dar problemas para strikers melhores ranqueados, como Darren Till, Leon Edwards (que já tem luta marcada com Gunnar Nelson). Outra possibilidade para a última luta de seu contrato seria um clássico grappler x striker com o “Wonder Boy” Stephen Thompson (ele está com luta marcada contra Anthony Pettis). Em suma, Demian Maia mostrou sábado que ainda tem história para escrever no UFC e os fãs não vão deixá-lo se aposentar tão cedo.
Johnny Walker nos calcanhares de Jon Jones?
Depois de nocautear o duro Khalil Rountree em 1m57s em sua estreia no UFC em novembro, o carioca Johnny Walker só precisou de 15 segundos para nocautear Justin Ledet. Apesar de não ser ranqueado, o americano fazia sua segunda luta entre os meio-pesados. Sendo que nos pesados vinha de uma sequência de três vitórias.
Sem dúvida, pelas vitórias e pela personalidade que vem mostrando, Walker é um talento que pode representar a renovação do MMA brasileiro numa das divisões mais importantes, na qual, aliás, já tivemos três campeões (Belfort, Lyoto e Shogun).
Mas o fã tem que ter paciência. Após a luta, vi gente já falando em cinturão. Pelo momento em que vive a categoria e pelo poder de nocaute que o carioca mostrou, não é nenhum absurdo imaginá-lo bem posicionado num ranking que tem Volkan Oezdemir em 5º e Corey Anderson em 6º, mas daí a falar em derrotar Jon Jones, são outros quinhentos.
Uma próxima luta contra um bom wrestler seria interessante para termos noção do exato potencial de Walker e aonde ele já poderia ser posicionado no ranking dos meio-pesados. O fato indiscutível é que, com apenas 26 anos, envergadura privilegiada (apenas 7cm a menos que Jones) e muito poder de nocaute, Walker pode chegar longe. Mas no momento em que se encontra é essencial que não deixe o sucesso subir à cabeça e, o mais importante, ouça a um mestre. Nesta altura da carreira, um norte é essencial. Confesso que não entendi bem sua decisão de se mudar para a Tailândia, a meca do muay thai, mas que não tem equipes de MMA para treinamento em alto rendimento. Com o excelente nível que tem mostrado em pé, era hora de buscar parceria numa equipe grande onde pudesse evoluir seu wrestling, que afinal de contas, é a técnica que o permitirá manter a luta em sua zona de conforto.
Ficamos na torcida para que continue treinando duro, evoluindo e crescendo nesta divisão na qual o Brasil é representado hoje no ranking por Thiago Marreta (6º no ranking), Glover (11º) e Shogun 13º. O mais importante é não querer buscar atalhos para chegar rápido ao cinturão. Até porque hoje o rei da divisão é o mais completo lutador da história deste esporte, um tal de Jon "Bones" Jones.