Pular para o conteúdo principal
Entrevistas

Pepi Legal: como está a vida de Laureano Staropoli, outro argentino “gente boa”, aqui no Brasil

O expatriado membro da equipe Chute Boxe de São Paulo faz sua terceira luta pelo UFC em Singapura, no próximo dia 26

Há cerca de um ano, Laureano Staropoli fez a coisa mais louca de sua vida. Largou o emprego como policial na Argentina, onde nasceu e morava com sua família, vendeu carro e moto, deixou a namorada e veio de mala e cuia para o Brasil. Bateu na porta da Chute Boxe, em São Paulo, e lá se alojou.

No próximo sábado, dia 26, Pepi, seu apelido, faz sua terceira luta pelo UFC contra o russo Muslim Salikhov, em Singapura, e tenta sua oitava vitória consecutiva na carreira. O que mudou de lá para cá? Tudo.

“Sou muito diferente hoje, sou mais ordenado, mais organizado, meu trabalho é mais profissional”, diz Pepi. “Hoje sou um atleta, só vivo da luta, me esforço para fazer tudo certinho, a dieta, os treinos. Estou só focado na luta agora. Antes estava focado em trabalhar, na minha família, nas aulas. Agora é só luta, luta o tempo todo.”

É o que ele sempre quis. E por isso resolveu deixar sua vida para trás e vir treinar na Chute Boxe. “Meus pais achavam que eu viria para o Brasil e em dois ou três meses voltaria. Já minha agora ex-namorada me apoiou sempre. Falou para eu vir para São Paulo atrás do meu sonho, porque eu não era feliz na polícia.”

Pepi, aliás, só virou policial porque queria poder lutar profissionalmente e, para isso, precisava de dinheiro. “Entrei na polícia porque não tinha dinheiro para pagar para meus treinadores, para pagar minha suplementação e porque morava na casa do meu pai e queria independência”, ele relembra. “Foi difícil treinar e ser policial ao mesmo tempo, mas eu sabia que era temporário, que um momento ou outro eu viraria lutador e abandonaria a polícia.”

No ano passado, Pepi mandou uma mensagem para o Instagram de Diego Lima, líder da Chute Boxe em São Paulo, perguntando como poderia fazer parte da equipe. Diego o orientou a conhecer a academia, o que ele fez em julho. “Fiquei uma semana com o Diego para conhecer tudo e, depois de dois meses voltei de vez.”

Diego Lima ri da coincidência que ocorreu nessa época. “Ele pediu as contas na polícia e veio para o Brasil treinar com a gente, mas sem nada certo”, conta. “Se jogou sem grana, desempregado, para ir atrás do sonho dele. Mas ele chegou no domingo e, na segunda, eu já coloquei ele no UFC. Para ser sincero, posso até chamar de sorte – e de Deus, né?”

O treinador conta a sequência de fatos: em novembro de 2018, o UFC estrearia na Argentina. Um atleta dos meio-médios havia se machucado e a organização procurava alguém para substituí-lo. Pepi acabara de chegar, era argentino, lutava nos 77 quilos e tinha um cartel interessante, com 7 vitórias e 1 derrota. “Tudo casou como uma luva”, conta Diego.

“Sou um cara de muito boa sorte”, afirma Pepi. Ele tem a explicação: “Acho que é porque sou gente boa, por isso acontecem coisas boas na minha vida”, diz, rindo. “Estava no momento certo, no lugar certo. Foi sorte demais. E estava pronto, né? Temos que estar prontos para quando as coisas boas acontecem.”

Nascido em La Plata, Pepi é o mais novo de circo irmãos. Começou a lutar taekwondo aos 8. Aos 17, migrou para o MMA. Hoje, finalmente um atleta profissional, que vive apenas da luta, Pepi está totalmente adaptado à vida em São Paulo. Alugou um apartamento de Felipe Sertanejo no Morumbi, pertinho da academia, para facilitar a logística de deslocamento. “Ele já conhece tudo aqui em São Paulo e fala um portunhol com o qual consegue se virar com qualquer um”, conta Diego. “Foi uma adaptação perfeita. O perfil dele, o jeito de ser, se enquadrou 100% com a galera da academia e com o nosso jeito. Ele mesmo diz que se sente em casa, que parece que nasceu aqui.”

Seu jogo também está melhor, em sua própria avaliação e na do líder de sua equipe. “Evoluí muito e estou evoluindo mais ainda, melhorando muito no chão, melhorando meu wrestling – e a porrada também”, conta Pepi. “Espero demonstrar agora todas as armas que aprendi durante todo esse tempo treinando na Chute Boxe.”

Diego Lima concorda. “Ele tem evoluído muito, muito, tanto na parte de pé quanto na parte de chão e de grade”, diz o treinador. “Ele sempre foi uma pessoa que usou muito a mão, usou muito o boxe. Acho que todo mundo viu isso na primeira luta no UFC, em que ele trouxe a vitória praticamente usando o boxe. Na segunda já foi totalmente diferente: ele usou muito mais os chutes, aprimoramos muito essa parte. Nesta próxima luta, o pessoal vai ver mais uma evolução dele. A gente vai pra trocação, pra porrada, que é a escola dele, mas o russo também é da luta em pé. Por isso, se acharmos melhor levar para o chão e trabalhar o jiu-jítsu, vamos fazer isso.”

Olhando para trás, Pepi diz que, se pudesse, falaria algumas coisas para ele mesmo cinco anos atrás. “Diria para não desistir”, ele conta. “Falaria que eu iria sofrer um tempo por não conseguir o que desejo, mas para eu nunca parar. Daria um forte abraço em mim mesmo e diria que as coisas grandes viriam.”