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Um assunto, dois pontos de vista. Jon Jones x Daniel Cormier, atração principal do UFC 178 de 27 de setembro, é o próximo desafio com jeitão de ‘clássico’ na organização. Editores do site do UFC, Fernando Cappelli e Denis Martins discorrem sobre três tópicos-chave que devem definir destinos na noite em Las Vegas.
Cormier testará Jones com a mesma intensidade que Gustafsson?
Fernando Cappelli: Jones exerce soberania monstruosa no octógono, é o cara a ser batido no UFC. Então qualquer um que fizer a mínima frente reforçará o tom de dramaticidade da luta. As chances de Cormier ser páreo duro parecem grandes, até maiores do que se acontecesse a revanche contra o sueco.
Cormier é um pesado que desceu de categoria, está acostumado com chumbo grosso. Claro que a versatilidade de Jones é sempre o ponto crucial. É o que o mantém campeão. Gustafsson fez a ‘luta da vida’ no UFC 165, aproveitou uma noite menos inspirada de Jones para usar jogo inteligente. Ele foi o primeiro a colocar a 'corda no pescoço' do campeão, mas sentiu que 'chutar o banquinho' seriam outros quinhentos.
Denis Martins: A intensidade será em proporções altas, mas com sabor diferente. O que se viu até agora do Jones é a capacidade de encaixar o estilo contra adversários de pegadas diferentes. Sempre, dentro da cabeça de fãs e especialistas, existe alguém que pode - dentro do jogo que costumam fazer - apresentar riscos para o reinado de Bones. Era o jogo de chão de Vitor Belfort (se bem que foi quase), os contra golpes de Lyoto Machida, o poder de nocaute de Glover Teixeira ou a maior tarimba de Rashad Evans. Todos sucumbiram!
E sabemos que essa mania de levar uma coisa em consideração para analisar outra pode ser um pecado, mas como base digamos… Acredito que o Cormier pode testar (realmente) a defesa de quedas, e caso consiga uma, sua pressão e controle com o adversário de costas no solo é poderosa e veloz.
A diferença de envergadura de 30cm (!) favoráveis a Jones ditará o ritmo do combate?
Fernando Cappelli: Envergadura jamais será um handicap para o compacto Cormier. Mas seu estilo neutralizador e de alto poder no infight é propício a deixar esta desvantagem em segundo plano. Ele já derrotou gigantes como Antonio Pezão Silva, e outros ‘ogros’ do naipe de Frank Mir e Josh Barnett.
Claro que altura e alcance são coisas distintas. Cormier terá de ser muito esperto para abafar os golpes de Jones e encurtar nos momentos certos. O campeão é um espécime físico diferenciado. Tem envergadura de 2.15 cm e sabe usar isso totalmente a seu favor, variando chutes e mantendo o controle do ritmo do combate o tempo todo.
Denis Martins: Acredito que em partes, não no decorrer de toda luta. Jones já mostrou em todas as apresentações como usa bem essa vantagem, seja para manter o oponente distante ou para surpreender com aquelas perigosas cotovelas em pé, sem contar os chutes.
Entretanto, acredito que o Cormier virá com pressão frenética no momento exato para evitar isso. Só que isso significa condicionamento em dia, e mesmo já tendo visto Cormier atuando de peso pesado durante cinco rounds contra Josh Barnett, e outros três diante de Frank Mir e Roy Nelson, o ‘buraco’ chamado Jon Jones é bem mais embaixo. Chumbo trocado de “pressão” vem aí.
O wrestling de Cormier será o fiel da balança?
Fernando Cappelli: Com certeza. Será interessante ver como Jones vai se moldar a um dos melhores wrestlers do MMA moderno. Cormier é medalhista olímpico, dá poucas brechas nos clinches e coloca pressão em cada movimento do tipo, seja em pegadas, transições ou para estabilizar posições.
O fato de ser parrudo lhe dá força terrível na lombar para arremessar pessoas ao solo como 'bonecos de pano'. No chão, por cima, tem controle letal sobre o adversário. Gostaria de ver como Jones se viraria fazendo guarda no solo pela primeira vez dentro do octógono do UFC.
Denis Martins: Seria a maior arma. Não acreditava muito no que tinha visto das quedas do Cormier até ele mostrar que eu estava errado ao enterrar de cabeça o Barnett e o Mir. Ele tem um técnica arremessos e quedas que acredito que o Jones nunca enfrentou antes, nem nos treinos. O cara tem muita manha quando o assunto é levar para baixo, fez parecer fácil e creio que vai apostar nisso.
O Jones, por sua vez, não é tão tarimbado no wrestling esportivo como o Cormier, mas consegue as quedas e as evita muito bem. Pode, eu disse pode, ser um ponto de a luta correr para um dos lados nesse quesito aí: Jones sendo levado para baixo e tomando pressão. Ou evitando tudo, cansando e frustrando o Cormier.