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Michael Bisping estava cansado, mas estava radiante. Voltando para os dias em que não haviam vestiários para os lutadores em grandes arenas, ele sentou-se no backstage do Hard Rock Hotel e Cassino em Las Vegas enquanto lutadores e treinadores acompanhavam o principal evento da noite entre Kenny Florian e Sam Stout.
Bisping tinha acabado de ganhar o The Ultimate Fighter, permitindo com que ele fizesse a única coisa que ele queria fazer: Lutas. Era em 2006.
"Fala alguma coisa, eu já fiz", disse ele antes da luta. "Mas eram todos trabalhos malucos, nada tão extravagante. Já fui abatedor, operário e mais".
Seu último trabalho antes de partir para a América e conseguir a chance de mudar sua vida para sempre foi no ramo de montagem de móveis. Quando ele venceu Josh Haynes por nocaute no segundo round eu aproveite para perguntá-lo sobre o futuro.
"Você não vai me ver em nenhuma fábrica por um bom tempo", disse dando risada. Você realmente nunca mais verá Bisping em uma fábrica outra vez. E apesar de ter no currículo profissões como ator e analista de lutas, ele sempre será um lutador, mesmo tendo anunciado oficialmente sua aposentadoria nem seu podcast Believe You Me, na segunda-feira.
Quase doze anos depois de vencer o TUF 3, o Bisping de 39 anos deixa um legado de Hall da Fama. Ele incluí um título mundial dos médios, um lugar na lista de atletas que mais lutaram (29 lutas) e mais venceram (20 vitórias) e vitórias contra nomes conhecidos como Dan Henderson, Luke Rockhold, Anderson Silva, Cung Le, Brian Stann, Jason Miller, Yoshihiro Akiyama e Chris Leben, apenas para citar alguns.
Isso sem falar nas coisas que não entraram nesses registros porque não entram nos recordes como vitórias ou derrotas. Como suas rivalidades que ajudaram a promover o esporte e atrair fãs para que ele se tornasse a cara do seu país em 2007, dando início a expansão internacional para a Inglaterra em 2007.
Ninguém realmente sabe o quanto de mídia ele precisou fazer nos primeiros dias, quando ele era o encarregado para explicar o esportes para aqueles que não tinham ideia do que era. Ele precisou lutar contra adversários que sabiam que uma vitória sobre a mais nova estrela britânica do UFC impulsionaria suas carreiras. Mas o produto de Manchester sempre atendia a chamada, e seus fãs na Europa o amavam por isso.
Não existe uma maneira de sentir como é ter uma arena completamente lotada torcendo por você, mas Bisping me ajudou a experimentar esse sentimento em um UFC em que ele não estava lutando na Europa. Enquanto caminhávamos pelo túnel até a arena, pedi que ele ficasse alguns passos à minha frente para que eu tivesse a sensação que aquelas pessoas estivessem torcendo por mim. Ele riu e concordou, e quando entramos na arena o local entrou em erupção, mesmo sem as lutas terem começado. Eu o alcancei e ele apenas sorriu. Este era o seu povo, eles o aplaudiram ou vaiaram ao longo da carreira.
Tudo que restou para Bisping foi entrar no octógono e vencer lutas, mas ele nem sempre conseguiu vencer. E foi isso que mudou a percepção do público sobre ele ao longo dos anos. Talvez você pudesse fazer a mesma coisa sem o trash talk ou os discursos arrogantes de vitórias, mas você precisava entender que quando ele caia, sempre levantava com punhos cerrados e pronto para lutar.
"Se eu desistisse na primeira vez em que provei a derrota, não estaria aqui agora", ele me disse antes da sua luta contra Georges St-Pierre, em 2017. "Não é isso que quero ensinar, não é uma boa lição para as crianças, não é a maneira de viver sua vida. Todos nós podemos perder, não sou o Super-Homem. Perder é algo muito real, uma possibilidade muito real. Dois homens entram e um sairá como vencedor e o outro como perdedor. Isso é parte da pressão, faz parte do jogo. É por isso que fazemos isso".
É engraçado olhar para trás e ver que muitos acreditavam que a carreira de Bisping estava em jogo quando ele lutou contra Denis Kang em Manchester, em novembro de 2009. Ele vinha de uma derrota por nocaute na primeira luta contra Dan Henderson e com outro resultado ruim ele poderia ser cortado.
E Bisping teve um início complicado contra Kang antes de acabar a luta no segundo round. Ele perderia seu próximo desafio para Wanderlei Silva na Austrália, mas ainda estava de bom humor para se juntar à Quinto Rampage Jackson para exigir que o ônibus da equipe do UFC fizesse um desvio para o McDonald`s local após da luta. Depois veio uma corrida de 7 vitórias e quatro derrotas, fazendo com que a carreira de Bisping ficasse estável como um dos melhores lutadores dos médios, mas que poucos acreditavam que ele conquistaria o título.
A quarta derrota foi contra Rockhold no final de 2014. Duas lutas depois, Rockhold lutou e conquistou o título dos médios do Ultimate. Bisping recuperou-se com uma vitória sobre CB Dolloway em 2015, mas enquanto se preparava para enfrentar Thales Leites ele admitiu que lutar pelo cinturão ainda era uma realidade remota.
"Tenho estado como candidato número um várias vezes", disse ele. "Não é que o UFC não me deu oportunidades. Eu não tenho ninguém para culpar além de mim mesmo".
Mas Bisping derrotou Leites, depois venceu o brasileiro Anderson Silva, e quando uma lesão obrigou Chris Weidman a sair da sua revanche contra Rockhold apenas duas semanas antes do UFC 199 ele recebeu a ligação. Ele aceitou. Em 4 de junho de 2016, o sonho impossível se tornou realidade. Aos 37 anos, Michael Bisping foi campeão mundial.
Ele defendeu o seu cinturão contra Dan Henderson em outubro de 2016, antes de perder o cinturão para St-Pierre no UFC 217, em novembro de 2017. Uma semana depois, ele aceitou uma luta contra Kelvin Gastelum que ocorreu apenas três semanas após a luta contra GSP. Foi outro exemplo de mostra porque Bisping é um atleta diferenciado. E mesmo que ele tenha perdido para Gastelum, no que finalmente seria sua última luta, todo o mundo parecia estar sem seu córner.
"Ao longo dos anos, eu tive meus momentos de ódio, se você quiser falar assim, mas agi como um idiota e disse coisas que me arrependo", disse ele antes da luta contra Gastelum. "Mas eu cresci ao longo dos anos. Tive muito apoio depois da luta contra o GSP e tenho muita gente do meu lado para essa luta, realmente acho isso lindo. Só espero que eu não continue colocando meu pé na minha boca durante as entrevistas, porque isso é típico de Michael Bisping. (risos)
Foi um reconhecimento merecido e muito atrasado para alguém que queria esse reconhecimento, mas nunca precisou disso. O que Bisping precisava era de um propósito, algo que lhe permitisse cuidar da sua família e olhar no espelho se sentindo realizado. Desde 2006, quando assinou com o UFC, lutar é tudo que ele tem em sua mente. Não são campeonatos, fama ou glórias.
"Eu estava feliz por estar lá e feliz por não trabalhar nesses empregos sem saída", ele me disse antes de sua última luta. "Senti que finalmente estava usando meu potencial para algo que eu era capaz de fazer. E isso me fez feliz. Eu sempre pensei que estava destinado a mais do que trabalhar em empregos de fábrica sem saída em busa de um salário mínimo. Fiquei feliz por poder viver bem com a minha família e progredir com eles. Isso é tudo que eu já fiz, apenas tentar cuidar da minha família. Estou tentando cuidar dos meus filhos da melhor maneira que eu posso, e usando meus punhos".
A esposa de Bisping, Rebecca, e os três filhos - Callum, Ellie e Lucas - estão, sem dúvida, orgulhosos de suas realizações e de um trabalho bem feito. A vida de lutador não é fácil. Ninguém sabe disso mais do que Michael Bisping. Mas poucos fizeram melhor.