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Preview UFC 197, por Alexandre Matos

Alexandre Matos é fã de todos os esportes de combate. Ele estará aqui toda semana para comentar e palpitar os eventos

Feriadão prolongado, calor, praias e piscinas lotadas. Muita gente deve viajar, mas recomendo que arrumem um jeito de assistir ao UFC 197, que acontecerá no sábado (23), em Las Vegas. O evento terá duas disputas de cinturão, cinco brasileiros e um retorno pra lá de especial.

Um ano após ter sido destituído do posto de campeão dos meios-pesados, Jon Jones retorna para buscar o título interino de sua categoria contra Ovince St. Preux, que substitui o campeão Daniel Cormier. Além dessa disputa, Demetrious Johnson tenta a oitava defesa da coroa do peso mosca contra Henry Cejudo.
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Entre os brasileiros, Edson Barboza faz com Anthony Pettis um confronto entre dois dos mais talentosos strikers do MMA e Rafael Natal tem importante cruzamento com o ranqueado Robert Whittaker. Pelo card preliminar, Juliana Lima enfrenta a ex-campeã peso palha Carla Esparza, o vencedor do TUF Brasil 4 Glaico França mede forças com James Vick e Marcos Rogério de Lima promete duelo animado com Clint Hester.

Vejamos o que esperar dos principais duelos do próximo sábado.

Peso Meio-Pesado: Jon Jones vs. Ovince St. Preux

Todo respeito ao campeão Daniel Cormier, um dos melhores lutadores do mundo peso por peso, sem nenhuma dúvida. Porém, é muito difícil não olhar atravessado para seu cinturão. Afinal, ele é um campeão que nunca ganhou do campeão. E o pior, o campeão anterior não morreu, não se aposentou ou não deixou a organização. É como se, no próximo sábado, o UFC 197 fosse coroar o campeão de verdade e Cormier viraria o interino para uma unificação no segundo semestre (alguém falou em Nova York?).

O UFC 197 não é só a volta de um campeão destituído fora do octógono. É o retorno do provável maior de todos os tempos, de alguém que transformou a outrora mais forte categoria do MMA em terra arrasada. Jones tem o biótipo ideal para a prática do MMA (alto, membros longos, sem massa muscular em excesso), tem compreensão corporal muito acima da média, uma inteligência de ringue e criatividade fora do normal, é muito mais forte do que aparenta. É um daqueles esportistas raros, que surgem de vez em quando em qualquer modalidade. E agora tem talvez recuperada a fome que as inúmeras vitórias, dinheiro e fama possam ter tirado dele.


Para enfrentar um monstro assim, o UFC recorreu a Ovince St. Preux, que não figura entre os cinco melhores da categoria. E o UFC está: correto. Jones vs Cormier 2 é a luta que todos querem ver. Na impossibilidade de o campeão lutar, tendo que chamar alguém de última hora, não faria sentido gastar cartucho com Anthony Johnson, o único oponente que nunca enfrentou Jones e que pode representar algum tipo de perigo. Alguns podem dizer que Ryan Bader merecia mais, já que inclusive venceu OSP, mas Bader é um lutador nada empolgante, com o carisma de uma porta e já foi envergonhado por Jones no octógono. Seria justo dar uma chance a ele, mas seria uma luta que só atrairia atenção pelo retorno de Jones em si. Então vamos de St. Preux, que, pelo menos, tem um estilo mais empolgante.

O único ponto que OSP poderia bater de frente com Jones é o aspecto físico, já que ele também é grande, tem membros longos e é bem forte. Porém, ainda assim o ex-campeão tem vantagem. Já no resto, chega até a ser constrangedora a diferença. Jonny Bones é um wrestler muito melhor, um striker bem mais perigoso e tem botes mais significativos no chão, além obviamente de ser bem mais experiente e ter sido muito mais testado em águas profundas e cenários sob holofotes intensos.


Como St. Preux pode vencer? Bem, não é permitido entrar armado no octógono, então sua tarefa é quase do tamanho de um dos 12 trabalhos de Hércules. Você acredita que OSP possa controlar a distância contra o cidadão que melhor faz isso no MMA? Acredita que o descendente de haitianos tem potência para testar o queixo quase inviolável de Jones? Imagina que um ex-jogador de futebol americano possa vencer um duelo de wrestling contra um cara que superou um capitão de seleção norte-americana olímpica? Difícil, né?

Palpite: Jon Jones por submissão ou nocaute.

Peso Mosca: Demetrious Johnson vs Henry Cejudo

Até pouco tempo atrás, ninguém dava bola para Johnson. Na verdade, quase ninguém dá até hoje, mas quem tem um pingo de senso sabe que o baixinho se tornou um dos mais talentosos lutadores não só da atualidade, mas da história do MMA. Vencendo neste sábado, o “Super Mouse” empatará com Jon Jones na lista de defesas consecutivas de cinturão. Ele ficará atrás apenas de Anderson Silva e Georges St. Pierre, que formam com Bones a santíssima trindade da história do UFC.

A história de Johnson é curiosa. Ele era um peso galo monótono, apesar de muito veloz e de algum talento. Sua primeira luta como peso mosca quase pôs tudo a perder – ele precisou contar com a ajuda dos juízes laterais para não ser derrotado no torneio que definiu o primeiro campeão da categoria. A partir da luta seguinte, a revanche contra Ian McCall, Demetrious se transformou. Luta após luta, seu nível técnico crescia horrores, o condicionamento físico virava de elite e a confiança ia junto. Menos de quatro anos depois, ele está a um passo de varrer a categoria.


Para evitar isso, surge Cejudo, o terceiro campeão olímpico a pisar no octógono mais famoso do mundo – antes dele, apenas Mark Schultz e Kevin Jackson, nos primórdios do esporte, antes da era Zuffa. Medalhista de ouro olímpico no wrestling mais jovem da história norte-americana, Cejudo era uma aposta forte de sucesso desde que anunciou sua intenção de migrar para o MMA. E as fichas depositadas renderam lucro.

Este duelo parece ser mais um compromisso tipo “passeio no parque” do campeão, mas ele envolve algumas particularidades que podem torná-lo mais interessante do que à primeira vista. Por exemplo, Johnson não tem sequer metade do talento de Cejudo no wrestling, mas eles vão se enfrentar no octógono, não no tapete de luta. Neste aspecto, poucos fizeram a transição tão bem quando Demetrious e Henry, bem menos experiente, ainda precisa de alguns ajustes para enfim impor seu imenso talento.

Outro aspecto é na luta em pé. Johnson se tornou um striker muito competente, tanto na longa distância quando no infighting e no clinch, fruto do ótimo trabalho do “Mago” Matt Hume, um dos melhores técnicos do mundo. Acontece que Cejudo tem se dedicado fortemente ao muay thai, como já mostrou inclusive no octógono. Mais do que isso, o desafiante se isolou na Tailândia, o berço do esporte, para se aprimorar na arte. Ou seja, esperemos novidades de Cejudo neste âmbito também.

Dois pontos onde, a princípio, há a maior diferença entre ambos – e que pode ser o diferencial para uma interrupção. Um deles é o jiu-jítsu, arte que Cejudo ainda não precisou usar ofensiva ou defensivamente e que já rendeu vitórias a Johnson. A outra, e mais importante, são as transições, ponto forte do campeão e que ainda é falho no desafiante. Cejudo pode até superar Johnson no wrestling ou igualar as ações no striking, mas o modo como Demetrious flui de um aspecto do jogo para outro é o que faz dele um campeão dominante. Numa modalidade multidisciplinar como o MMA, as transições separam um ótimo lutador de um top 5 peso por peso.

Enfim, acho que não será fácil como muitos pensam, tampouco Cejudo está maduro o suficiente para tomar o cinturão. Sendo assim…

Palpite: Demetrious Johnson por decisão ou submissão.

Peso Leve: Anthony Pettis vs. Edson Barboza

Senhores deuses do MMA e Joe Silva, muito obrigado. Obrigado por casar essa luta e por mantê-los saudáveis até o dia 23 de abril. Os fãs não poderiam ser alijados de uma obra de arte que promete se desenhar na MGM Grand Garden Arena.

Pettis precisa muito da vitória. A aura de gênio do esporte foi seriamente abalada quando Rafael dos Anjos e Eddie Alvarez o sufocaram e o deixaram sem resposta em duas derrotas consecutivas. Do mesmo modo, uma vitória é fundamental para as pretensões de Barboza, que dá show contra integrantes das castas mais baixas, mas que sempre falhou diante da elite (Donald Cerrone, Michael Johnson, Tony Ferguson).


Retrospectos recentes à parte, o que Pettis e Barboza são capazes de executar na troca de golpes em pé é coisa pra se assistir no Teatro Municipal. E ambos os fazem de modos diferentes. Barboza é um lutador de muay thai clássico, de menos movimentação, que mistura ingredientes do taekwondo para criar um arsenal de chutes raro. Já Pettis é mais móvel e ainda mais capaz de executar chutes do arco-da-velha, afinal, o “Showtime” até caminha pela grade!

O clinch pode ser um diferencial estratégico, tanto na hora de desgastar os braços do adversário ao forçá-lo a fazer muita força isométrica como no momento de tentar surpreender com uma queda e tentativa de finalização. Este é o ponto em que Pettis desequilibra a contenda a seu favor, tanto por ser melhor no jiu-jítsu quanto por ter condicionamento físico superior, embora ele também seja favorito em pé por ser mais imprevisível.

Para vencer, Edson precisa imprimir pressão e não deixar Pettis à vontade (a vice-versa também cabe aqui). Para isso, ele terá que ser um pouco mais incisivo do que de costume, pois, se o volume do americano é mais baixo que o de Ferguson, a probabilidade de ser pego por algo não mapeado é bem maior diante do ex-campeão.

Palpite: Anthony Pettis por decisão.

Peso Médio: Robert Whittaker vs Rafael “Sapo” Natal

Três lutas como peso médio, três vitórias, duas por nocaute e com bônus de luta e desempenho da noite. Apesar de não ser dos maiores fisicamente, é inegável que Whittaker rende mais cortando menos peso. Como tem apenas 25 anos e a elite da divisão está envelhecida, é um ótimo alento na troca de guarda.

A fase de Sapo também é excelente. Desde que sofreu um par de derrotas consecutivas em 2013, o mineiro se recuperou vencendo as quatro seguintes, inclusive uma contra Uriah Hall, também batido por Whittaker.

Este duelo confronta dois sujeitos de mentalidades ofensivas, mas com diferenças de implementação. O neozelandês é altamente agressivo e imprime um ritmo forte, quase sufocante, que praticamente obriga o adversário a abafá-lo. Já Sapo tem quedas bruscas de rendimento e às vezes parece se perder quando a luta descamba para a pancadaria.


Abafar Whittaker parece ser a melhor estratégia para o faixa-preta de Vinicius Draculino, não só por ser fisicamente maior e mais forte, mas também por ser bem mais habilidoso na arte suave. Para isso, ele vai precisar entrar no olho do furacão. Coragem sobra em Rafael, mas é capaz de sobrar um gancho ou uma joelhada que o tire de órbita.

Palpite: Robert Whittaker por nocaute.

Brasileiros no card preliminar

Juliana Lima tem o mais importante desafio de sua carreira. Ela tem duas vitórias seguidas desde que perdeu para a agora campeã Joanna Jedrzejczyk. Se passar por Carla Esparza, antiga dona do título, a mineira se coloca entre as candidatas a desafiante.

Esparza tem no wrestling sua maior arma, mas também mostra talento no kickboxing, com combinações rápidas e muita movimentação. Do outro lado, apesar do apelido de Ju Thai, a brasileira pouco usa o muay thai, lançando um jogo de abafa, com muito clinch, quedas e controle posicional. Não é exatamente uma boa estratégia contra uma wrestler mais sólida.

Palpite: Carla Esparza por decisão.

O peso leve Glaico Nego tem um confronto espinhoso. O vencedor do TUF Brasil 4 vai pegar o invicto e bem mais experiente James Vick, fruto do TUF 15.

Pupilo do faixa-preta de luta livre Marcelo Brigadeiro, Nego é grande para a categoria e tem muita facilidade de encurtar distância e chegar ao corpo a corpo, de onde laça o oponente em busca de uma finalização. O problema é que ele vai pegar um cara maior ainda, com bem mais capacidade de controlar distância no boxe, boa defesa de quedas e contra-ataques no jiu-jítsu.

Palpite: James Vick por decisão.