PREVIEW UFC 198, por Alexandre Matos

O clima de Curitiba pode estar frio, mas a Arena Atlético Paranaense, também conhecida pelo apelido de Arena da Baixada, provavelmente será um caldeirão fervente neste sábado, quando acontecer o UFC 198. O belo estádio receberá mais de 40 mil torcedores e o card mais forte já montado pelo UFC no Brasil.

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Na luta principal, Fabricio Werdum fará sua primeira defesa do título dos pesados contra Stipe Miocic. Antes, Ronaldo Jacaré e Vitor Belfort se chocam num combate que pode definir o próximo na linha dos pesos médios. O evento terá também a estreia de Cris Cyborg, número um do mundo no peso pena, contra Leslie Smith.

O UFC 198 terá ainda Maurício Shogun, Rogério Minotouro, Demian Maia, Warlley Alves, John Lineker, Francisco Massaranduba, Serginho Moraes, Renato Moicano, Thiago Marreta… enfim, não faltam atrações para quem for ao estádio ou acompanhar pela TV no canal Combate ou na Rede Globo.

Peso Pesado: Fabricio Werdum vs. Stipe Miocic

Quem viu Werdum em sua primeira passagem no UFC, terminada de modo brutal em 2008 por um uppercut do então estreante Junior Cigano, entrou em sono profundo e só acordou em 2012, quando ele voltou, deve ter achado estranho. Foi-se o especialista em jiu-jítsu de jogo pouco versátil e apareceu um striker de alto nível, com muay thai de elite, wrestling desenvolvido e o mesmo jogo de chão de sempre.

Hoje, Werdum já está nos livros de história, não só por ter conquistado o cinturão mais importante do MMA, como por ter finalizado os três maiores pesos pesados de todos os tempos. Primeiro foi Fedor Emelianenko, no Strikeforce. Depois foi a vez de Rodrigo Minotauro, no evento da final do TUF Brasil 2. Por último, Cain Velasquez mergulhou na guilhotina e concedeu a unificação do cinturão, na sexta vitória seguida do gaúcho em igual número de lutas desde que reestreou no octógono mais famoso do mundo. No caminho ficaram Travis Browne, Mark Hunt, Roy Nelson, dentre outros.

Por outro lado, Miocic teve seus altos e baixos dentro do UFC. Foram duas derrotas em 10 lutas, mas cada uma com uma história diferente. Contra Stefan Struve, ele viu sua moral de principal prospecto da categoria esfriar muito. Na segunda, o trabalho que ele deu a Junior Cigano acabou rendendo uma derrota com mais aspectos positivos do que negativos. Por conta disso, ele herdou de Velasquez o posto de desafiante com apenas duas vitórias, ainda que tenham sido duas escovadas sobre Hunt e Andrei Arlovski.

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Se Werdum mudou muito, o mesmo não pode se dizer de Miocic, que continua com seu jogo calcado na soma do boxe com o wrestling, que forma a raiz do MMA norte-americano. Porém, mesmo sem mostrar muita evolução, Miocic segue perigoso e crescendo muito por conta de ter um preparo físico diferenciado. Numa categoria em que o normal é cair de rendimento depois de poucos minutos, o descendente de croatas tem capacidade de manter forte ritmo por 25 minutos. E forte ritmo com ele é forte de verdade. Hunt que o diga.

Ninguém é número um do mundo, campeão do UFC e com o retrospecto de Werdum à toa. O brasileiro certamente é o favorito, mas o desafiante não é carta fora do baralho. Miocic tem tudo para engrossar a luta no primeiro round, usando a movimentação do boxe para deixar Werdum longe. Porém, isso pode também ser o começo do fim do americano. Fabricio pode quebrar a base de boxeador com chutes baixos. Em seguida, atrai Stipe para o thai clinch e, com joelhadas, faz despertar o instinto de wrestler. Quando Miocic derrubar, vai navegar na guarda mais perigosa que a divisão dos pesados já viu.

Palpite: Fabricio Werdum por finalização.

Peso Médio: Ronaldo Souza vs. Vitor Belfort

A torcida brasileira não gosta muito de ver compatriotas se enfrentando, mas este combate não só é importante para a elite da categoria como também reúne características muito interessantes.

Muita gente acha que são favas contadas o duelo a favor de Jacaré. Não é bem assim. Belfort é um sniper explosivo, um atirador de alta precisão que sempre teve um punho esquerdo capaz de derrubar qualquer um, mas agora também nocauteia via chutes altos, que ele aprendeu bem a esconder a fim de confundir a defesa dos adversários. A favor do carioca há o fato de Jacaré não ser o mais veloz dos lutadores. Isso faz com que Vitor tenha condições totais de, no jogo de pernas, se posicionar em ponto de tiro.

O problema é que Jacaré é muito bom no que Belfort sempre apresentou problemas. O superastro do jiu-jítsu desenvolveu um wrestling competente e, quando cai por cima, é virtualmente imovível e entra num ritmo em que ele mescla situações de fazer peso sobre os adversários (o que cansa muito quem está por baixo) com um festival de passagens de guarda, transições e botes para finalizações.

Então temos dois cenários altamente prováveis. Uma delas mostra Jacaré tentando a aproximação e acabando nocauteado (ou então preso na movimentação de Belfort no começo do combate). A outra tem Ronaldo derrubando Vitor, caindo por cima e saindo só quando o round terminar, com o adversário bastante desgastado. Neste segundo cenário, o cansaço e a ruína psicológica de Belfort abrem espaço para uma finalização de Jacaré.

Dentre as possibilidades apresentadas, qual você aposta? Eu já escolhi a minha. Mas não será fácil.

Palpite: Ronaldo Jacaré por finalização.
 

Peso Combinado até 63,5kg: Cristiane Justino vs. Leslie Smith

Depois de anos de especulação e bate-bocas com Ronda Rousey, finalmente Cris Cyborg vai estrear no octógono. A campeã peso pena do Invicta FC aceitou uma luta em peso combinado, no meio do caminho entre sua categoria e a peso galo, a mais pesada disponível no UFC, ainda que a curitibana não bata este limite de 63,5 há cerca de 10 anos.

Segundo disse o diretor-executivo do UFC no Brasil, Giovanni Decker, quase ninguém aceitou encarar Cyborg nesse desafio. Eis que a corajosa Leslie Smith, que já havia treinado com a brasileira, topou. Para alguém com retrospecto irregular no octógono, é uma chance e tanto de se firmar no cenário do peso galo.

De um lado temos Cyborg, uma especialista no muay thai que imprime uma potência sem precedentes no MMA feminino, mas que tem técnica o suficiente para encarar uma campeã mundial da arte tailandesa, nas regras do muay thai. Do outro lado temos a “Pacificadora”, que de pacificadora só tem o apelido, uma lutadora que adora fazer os combates virarem pancadarias alucinadas. Ela tem um coração imenso (foi preciso que o médico a proibisse de seguir na luta contra Jessica Eye com a orelha estourada), tem alta capacidade de absorver castigo, mas costuma se perder no meio do furacão. Isso faz com que Leslie seja uma lutadora muito mais atingível do que o desejável. Junte-se a isso o fato de a americana ser uma peso mosca natural que vai encarar uma lutadora de duas categorias acima. As chances de acabar mal são imensas.

Palpite: Cristiane Cyborg por nocaute.

Demais palpites para o UFC 198:

Pelo card principal, Corey Anderson deve ser o único estrangeiro a sair. O palpite é que seu wrestling segure Maurício Shogun até a decisão dos juízes. No combate que vai abrir a parte mais importante do evento, a expectativa é que Warlley Alves adicione mais uma guilhotina à sua coleção, desta vez sobre Bryan Barberena.

Já no card preliminar, Demian Maia deve usar seu wrestling para arrastar Matt Brown para o chão e finalizá-lo até o segundo round. Antes, Thiago Marreta tem tudo para adicionar o maior nome em seu cartel contra o ultrapassado e desgastado Nate Marquardt (Marreta por nocaute é o palpite). Um evoluído Francisco Massaranduba deve superar Yancy Medeiros numa luta acirrada. John Lineker e Rob Font são fortes candidatos ao bônus de luta da noite, mas as maiores dimensões do americano devem lhe render vantagem no controle da distância até a vitória por decisão. Nos três combates iniciais, Patrick Cummins é o favorito por nocaute técnico contra Rogério Minotouro, Serginho Moraes deve finalizar o estreante Luan Chagas e, abrindo a programação, Renato Moicano e Zubaira Tukhugov devem fazer o duelo mais equilibrado da noite.

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