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Preview UFC Brisbane, por Alexandre Matos

Alexandre Matos é fã de todos os esportes de combate e fundador do site MMA Brasil. Ele estará aqui toda semana para comentar e palpitar os eventos.



Em novembro do ano passado, o UFC foi à Austrália para o evento que destronou Ronda Rousey. Neste sábado, a organização volta a montar seu octógono em Down Under no UFC Fight Night Brisbane, um evento que não tem a importância do anterior, mas que reserva algumas lutas de alto potencial de entretenimento.

Na luta principal, os veteranos pesos pesados Mark Hunt e Frank Mir colidem pela última tentativa de se aproximar de uma disputa de cinturão. Antes, Neil Magny encara Hector Lombard, que retorna depois de longa inatividade por suspensão. E três brasileiros estarão em ação: Antonio Carlos Junior, popularmente conhecido como “Cara de Sapato”, enfrenta o local Daniel Kelly; Viscardi Andrade mede forças com o também australiano Richard Walsh, enquanto Alan Patrick abre a programação diante de Damien Brown.

Peso Pesado: Mark Hunt vs. Frank Mir

Muitos queriam saber quais seriam as consequências para a carreira de Hunt após a surra antológica que ele levou do agora desafiante número um Stipe Miocic. O “Super Samoano”, porém, mostrou ser um sujeito resiliente no retorno ao octógono, quando precisou de menos de cinco minutos para nocautear Antonio Pezão. Já Mir fez caminho inverso: depois de ressucitar a carreira com dois nocautes brutais no primeiro assalto contra o mesmo Pezão e Todd Duffee, o ex-campeão sucumbiu diante de Andrei Arlovski, num duelo bastante monótono.

Temos aqui dois lutadores que passaram de seus apogeus, mas que querem provar que ainda podem produzir. Aos 41 anos, Hunt recriou a carreira quando ninguém mais acreditava usando uma combinação tão simples quanto fundamental nesta categoria: o queixo de pedra e punhos batizados pelo capeta. A experiência ensinou os atalhos para o ex-campeão do K-1 controlar a distância sem precisar de movimentação fluida e abrir espaço para o violento uppercut – quando este golpe entra limpo, normalmente é fim de linha para o oponente. Falta a ele jogo de chão, tanto ofensiva quanto defensivamente.

Cinco anos mais novo, Mir resolveu cultivar uma barriga à la Hunt e andou lutando tão mal que parecia alguém com 10 anos a mais. O ex-campeão do UFC é mais versátil do que o neozelandês, dono de um kickboxing que evoluiu na reta final da carreira e um jiu-jítsu dos mais plásticos e agressivos da história da categoria.

A defesa de quedas de Hunt melhorou, mas não o suficiente para deter os melhores. O wrestling ofensivo de Mir não é de elite, mas já o salvou contra Roy Nelson, outro veterano de bigornas nos punhos. Este cenário dá uma possibilidade para o americano, que deve buscar o clinch e as quedas para tentar finalizar Hunt. O grande problema é que a movimentação de Mir atualmente não deve ser suficiente para escapar da aproximação do Samoano por muito tempo. Uma hora o punho de Hunt vai encontrar o queixo de Mir, que não nunca foi um rapaz muito adepto de levar soco na cara.

Palpite: Mark Hunt por nocaute.

Peso Meio-Médio: Neil Magny vs. Hector Lombard

Proveniente do TUF 16, talvez a pior da história do reality show, Magny dava a impressão que teria vida curta no UFC. Porém, um incrível retrospecto de nove vitórias nas 10 últimas lutas, com sete delas consecutivas, num ritmo de trabalho digno de Donald Cerrone, fizeram dele um top 10 de uma das divisões mais acirradas.

Depois de perder duas em três como peso médio, Lombard resolveu baixar de categoria. Ele se mostrou um animal como meio-médio no nocaute diante de Nate Marquardt. Contra Jake Shields e Josh Burkman, duas atuações com menos explosão e pouco risco. Porém, o cubano acabou pego no antidoping e amargou um ano de suspensão.

Magny é um lutador que aprendeu a fazer bom uso de sua imensa envergadura – proporcionalmente na categoria, tem a mesma vantagem que Jon Jones costuma apresentar nos meios-pesados. Seu boxe não tem potência para encerrar uma luta com um só golpe, mas apresenta volume bastante elevado, muita técnica para combinar jabs, diretos, ganchos e uppercuts, além de versatilidade com chutes, cotoveladas e joelhadas. Neil também é muito bom no chão quando tem o controle posicional, embora tenha alguma dificuldade se defendendo.

Por outro lado, Lombard é um ex-judoca olímpico, dono de quedas poderosas e um jogo de solo sufocante, que combina um ground and pound muito poderoso com técnicas de um faixa-preta de jiu-jítsu, bom nas transições e nos botes para finalizações. Em pé, é o oposto do americano: Hector junta potência de derrubar búfalo, mas não tem a fluidez do jogo de pernas ou o volume de golpes de Magny.

Este é um dos duelos mais difíceis de prever. Na teoria, os mais de 20 centímetros de desvantagem na envergadura serão uma barreira considerável que Lombard terá que superar, já que Magny se especializou em usar seu alcance. O cubano precisa cortar o octógono com velocidade para entrar no raio de ação e acertar um petardo definitivo ou arremessar o americano no chão, mas corre o risco de passar 15 minutos na extremidade oposta dos longos braços de Magny sendo carimbado na cabeça.

Palpite: Neil Magny por decisão.


Peso Médio: Antonio Carlos "Cara de Sapato" Junior vs. Daniel Kelly

Derrotas ensinam e algumas delas mandam recados importantes. Este foi o caso do revés de Cara de Sapato diante de Patrick Cummins. Naquele dia ficou claro que a divisão dos meios-pesados seria demais para o brasileiro, que também percebeu que fazer guarda no MMA nem sempre é saudável. A recuperação do vencedor do TUF Brasil 3 veio na sequência, com excelente atuação diante de Eddie Gordon. Na última luta, porém, um dedo no olho acidental pôs fim ao duelo com Kevin Casey nos primeiros momentos.

O australiano Kelly tem uma história curiosa no octógono. O ex-TUF Nations teve ótima atuação na finalização sobre Luke Zachrich e sucumbiu a um nocaute violento do sorridente Sam Alvey. No meio das duas, venceu Pat Walsh numa das lutas mais chatas que o UFC já promoveu. No compromisso mais recente, venceu Steve Montgomery na base de um caminhão de quedas aplicadas.

Este duelo confronta dois grapplers de estilos distintos. Kelly é um judoca que representou seu país em todas as edições dos Jogos Olímpicos entre 2000 e 2012 (7º colocado em Atenas-2004). Já Cara de Sapato foi campeão mundial de jiu-jítsu no peso e absoluto na faixa marrom, além de medalha de bronze como faixa-preta. Essa distinção se mostra nos estilos: enquanto Daniel tem um clinch sufocante e boas quedas, Antonio Carlos é um monstro no chão, muito habilidoso nas passagens, paciente para buscar finalizações e ágil nos giros. A situação abre na luta em pé: ambos têm alta potência nos punhos, mas o brasileiro é mais técnico, além de ter maior alcance e versatilidade quando se posta na longa distância.

Sapato precisa ainda melhorar o striking, mas é suficiente para dar conta de Kelly. Como o australiano tem boa defesa de quedas e derrubar embolado no clinch talvez não seja uma boa tática para Cara de Sapato, o mais provável é que o brasileiro mostre sua maior técnica em pé e aproveite uma das entradas do australiano para arriscar uma contraqueda. Se isso acontecer, o palpite é Cara de Sapato por finalização. Se derrubar for complicado, Cara de Sapato por decisão.

Palpite: Antonio Carlos Cara de Sapato por finalização.

Demais brasileiros no card preliminar

Nas preliminares, Viscardi tentará a terceira vitória em quatro lutas no UFC diante do mesmo Walsh que fez aquela luta lamentável contra Kelly, enquanto Nuguete busca limpar a derrota no compromisso anterior contra o estreante Brown.

Faixa-preta de jiu-jítsu da escola de Ryan Gracie, Viscardi desenvolveu um jogo potente, embora de técnica um tanto rudimentar, na troca de golpes em pé, situação em que pode derrubar com um soco, mas que se expõe demais a contragolpes. Será um contraponto interessante a Walsh, de base no boxe e muay thai, com bom controle de distância, mas defesa de quedas deficiente.

Aqui temos o legítimo “tudo pode acontecer”. A luta pode descambar para a pancadaria e acabar mal para a defesa esburacada do brasileiro ou Viscardi pode botar Walsh para baixo e finalizá-lo.

Palpite: Richard Walsh por decisão.


No outro combate, o confronto de estilos volta a aparecer. Embora tenha tomado gosto por trocar socos, a origem de Nuguette é o jiu-jítsu e o wrestling é bastante decente em comparação à média nacional. Já Brown é faixa-preta de zen do kai, uma arte marcial desenvolvida na Austrália que mistura elementos do caratê, muay thai e jiu-jítsu.



A maior experiência e solidez de Nuguette na luta agarrada devem proporcionar uma vantagem considerável. De vez em quando aparecem lutadores que estreiam no UFC sem sentir o peso da responsabilidade, mas o normal é que o nervosismo bata.

Palpite: Alan Nuguette por finalização.