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PREVIEW UFC Zagreb, por Alexandre Matos

 Alexandre Matos é fã de todos os esportes de combate e fundador do site MMA Brasil. Ele estará aqui toda semana para comentar e palpitar os eventos.



Estávamos todos com saudade da ação no octógono, então domingo é dia. A principal organização do MMA mundial vai pela primeira vez à Croácia, o vigésimo país da expansão internacional, para o UFC Fight Night Zagreb, que traz quatro lutas de pesos pesados (quem cometeu isso?) liderando o evento e três brasileiros em ação.

 No combate mais importante da tarde de domingo, Junior Cigano precisa mostrar não só que pode seguir sonhando em recuperar o cinturão, como também afastar pensamentos de decadência. O catarinense vai encarar Ben Rothwell, que vive fase oposta na caça a Fabricio Werdum.

Imediatamente antes, Gabriel Napão tem necessidade ainda maior de vitória, sob pena de ser cortado do plantel do UFC. O ás do jiu-jítsu terá pela frente o nocauteador Derrick Lewis. Completando o quarteto dos grandalhões Francis Ngannou pega Curtis Blaydes, enquanto Timothy Johnson dá as boas-vindas a Marcin Tybura. O terceiro brasileiro em terras croatas será Lucas Mineiro, que travará animado combate com o escocês Rob Whiteford.

Fique de olho duplamente no relógio. O UFC Fight Night Zagreb acontecerá no domingo, e não no tradicional sábado. Além disso, por conta do fuso horário, a primeira preliminar iniciará às 11:30h, no horário oficial de Brasília.


Peso Pesado: Junior dos Santos vs Ben Rothwell

 A categoria dos pesados é pródiga em pregar peças. Quando Brock Lesnar e Shane Carwin disputaram a unificação do cinturão, em 2010, na primeira vez que ambos os envolvidos numa disputa de título precisaram cortar peso para atingir o limite de 120 quilos, parecia que uma nova era de gigantes estava começando. Quando Cain Velasquez destruiu Lesnar e perdeu para Cigano, a impressão foi que Cain e Junior dominariam a divisão um degrau acima do resto. Então veio Werdum, que dominou Velasquez e lhe guilhotinou o cinturão.

Durante este tempo, Cigano deixou de ser uma força da natureza, alguém com uma condição atlética bastante acima da média da categoria, com uma capacidade de aguentar castigo tão grande que chegava a depor contra a própria saúde e dono de uma pancada que derrubava búfalo (e que já derrubou Werdum e Velasquez, os dois campeões mais recentes). Agora Junior aparenta ter se tornado um lutador mais comedido, receoso com a durabilidade do queixo, bem menos agressivo e espetacular.

Curiosamente essa transformação se deu em paralelo a uma mudança de rotina. Cigano chegou ao topo conduzido por um boxe de nível raro no MMA e defesa de quedas dificílima de ser superada. Quando ele buscou novas vertentes, mudando de equipe e de treinos, passando a dar mais ênfase ao kickboxing, ao wrestling e ao jiu-jítsu, ou seja, fazendo exatamente o que se preconiza para os lutadores de elite, não só os resultados, mas principalmente as atuações de encher os olhos, sumiram. Quem diria…

Big Ben seguiu caminho inverso. Durante a Era Cigano, Rothwell fez apenas uma luta por ano entre 2009 e 2012, foi ensacado por Velasquez, passou vergonha contra Mark Hunt e foi facilmente finalizado por Napão.  Desde então, pegou ritmo de luta, emendou quatro vitórias consecutivas, nocauteou o nocauteador Alistair Overeem, foi o primeiro a finalizar o finalizador Josh Barnett e chega à Croácia com chances reais de receber uma chance pelo título. Quem diria…

Se este combate fosse marcado no período pré-velasquiano de Cigano, Rothwell estaria metido numa grande encrenca. Porém, a resiliência do brasileiro não é mais a mesma, bem como o americano não é mais aquele pato das lutas com Velasquez, Hunt e Napão. O reinventado e confiante Rothwell, que passou a emular a movimentação de George Foreman (guardadas as devidas e gigantescas proporções, por favor) é perfeitamente capaz de promover o segundo revés por nocaute consecutivo a Cigano e ninguém desligará a TV surpreso caso isso aconteça.

Para vencer, Cigano precisa ditar o ritmo da luta, fazendo Rothwell se movimentar sem se expor, levando o oponente ao cansaço mesclando combinações de socos com chutes nas pernas. Mais do que nunca o controle da distância deverá estar como nos velhos tempos. Há quem diga que os velhos tempos não voltarão. Aqui fica uma última esperança de rever aquele artista do nocaute. Mas o risco de hecatombe é imensa.

Palpite: Junior Cigano por nocaute (mas olha…)


Peso Pesado: Gabriel Gonzaga vs Derrick Lewis

Se a fase de Cigano é ruim, a de Napão é pior ainda. Ele chegou a anotar quatro vitórias em cinco lutas desde que foi reintegrado ao UFC, mas viu o nível de suas atuações despencar a ponto de ser nocauteado por um cansado Mirko Cro Cop. Com três derrotas seguidas, o brasileiro pelo menos venceu Konstantin Erokhin, mas entregou uma das piores lutas da história do UFC. Não tem como não dizer que seu emprego está por um fio.

Napão enfrentaria o espinhoso Ruslan Magomedov, num combate cujas chances de triunfo eram remotas. No lugar do contundido russo, Joe Silva convocou Derrick Lewis, bem menos talentoso e hábil do que Magomedov, mas com poder de nocaute bastante maior, o que, na atual fase de Gabriel, é um tremendo sinal de alerta.

Fosse em sua boa fase, provavelmente Gonzaga não teria dificuldade de encurtar, derrubar e finalizar Lewis. Porém, o Napão que tem se apresentado mostra muita dificuldade de impor seu jogo e de mudar o cenário em caso de prejuízo técnico/tático. Se tomar a errada decisão de trocar com Lewis, Napão provavelmente acordará com a lanterninha do médico no olho. Eu acho até que ele não vai tentar fazer isso, o que não é garantia de bons frutos. Lento, bem mais estático e com condicionamento atlético de se lamentar, uma hora Napão deve parar na frente do brutamontes. Se isso acontecer, será fim de linha para o brasileiro na luta – e talvez na organização.

Palpite: Derrick Lewis por nocaute.


Peso Pena: Lucas Martins vs Rob Whiteford

Mineiro chegou ao UFC cru, com apenas um ano como profissional (ainda que tenha sido um ano cheio) e já foi logo posto de cara contra a pedreira Edson Barboza. Acabou obviamente nocauteado, mas persistiu. O menino talentoso pegou experiência, trafegou em três categorias diferentes, parou na do meio (peso pena) e conseguiu uma trinca de vitórias. O nível da oposição subiu muito, talvez fora de hora, e Lucas acabou derrotado por Darren Elkins e Mirsad Bektic, o que não é demérito algum. De volta a um oponente em seu nível evolutivo, é hora de Mineiro retomar as vitórias.

Do outro lado do octógono estará o escocês Whiteford, com três lutas a menos que Mineiro no cartel e no UFC. Em sua última apresentação, também subiu de nível e igualmente sucumbiu ao jogo de sufoco de Elkins, interrompendo assim a série de duas vitórias sobre Paul Redmond e Daniel Pineda.

Aqui temos uma séria candidata a luta mais movimentada da noite. Mineiro é um clássico produto da Chute Boxe, com um muay thai explosivo, agressivo e potente, de combinações versáteis, muitos chutes, joelhadas e mudanças de nível. Judoca de origem, Whiteford tinha tomado o caminho da pancadaria, mas melhorou a movimentação, a precisão nos golpes e se tornou um lutador mais perigoso.

É difícil imaginar que Lucas será capaz de derrubar Robert, mas o contrário pode ser um fator decisivo num duelo equilibrado. Espera-se que o brasileiro seja o agressor e que o escocês atue nos contragolpes esperando a brecha para grudar na grade e sair dali com uma queda cinturada.

Palpite: Rob Whiteford por decisão.