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A primeira mãe com um cinturão?

Conheça a história da peso-palha Michelle Waterson, que está no Rio como lutadora convidada e diz que vai ser a primeira mamãe campeã do UFC

Ela já foi garçonete do Hooters, rede de restaurantes norte-americana cujas funcionárias usam shortinho laranja e blusa regata. Quando atuava como ring girl em um evento, achou tão interessante o que acontecia dentro do cage que falou para o organizador que queria lutar – ele nem deu bola, mas Donald Cerrone, que estava no local, a incentivou, dizendo que se, era aquilo que ela queria mesmo, devia começar a treinar. Hoje, Michelle Waterson é a sétima colocada no ranking das pesos-palhas do UFC. Com uma carreira promissora, ela mira o topo: quer o cinturão. Mas não é só isso. Ela quer provar que ser mãe não impede nenhuma mulher de absolutamente nada.

Aos 33 anos, Michelle Waterson é mãe de Araya Gomez, uma simpática garota de 8 anos. Sua gravidez não foi planejada: ela treinava para uma luta em 2010 quando achou que sua saúde andava meio estranha. Descobriu que estava no terceiro mês de gestação de seu marido Joshua Gomez, ele próprio um atleta – já tinha sido ranqueado como o 5º melhor pugilista amador peso-médio do país. A história dos dois, aliás, é digna de filme. Certa vez, Joshua foi ao Hooters com os país, viu uma foto de uma mulher linda no pôster e falou: “Essa vai ser minha mulher um dia”. Todo mundo riu, até que, para surpresa de todos, a própria mulher apareceu no local para fazer os pedidos. Tímido, ele só teve coragem de procurar Michelle muito tempo depois, quando ela já estava treinando.

Amantes de artes marciais, os dois logo se entenderam e começaram a namorar. E viviam na academia, ambos tentando a vida como atletas. Michelle conseguiu fazer umas disputas de MMA, mas pequenas. Foi quando Araya apareceu na vida deles. Michelle teve uma gravidez complicada, desenvolveu diabetes gestacional e tirou a tireoide. Teve também muito medo, porque geralmente lutadoras que ficam grávidas não conseguem voltar ao cage. Mas ela teve uma coisa rara: o suporte do marido, que desistiu ele próprio da carreira de atleta para ser consultor financeiro – por achar que a mulher teria mais chances.

“Acredito que não há tantas lutadoras que são mães porque elas acham que a profissão requer muito sacrifício, e como mãe você basicamente sacrifica tudo para proporcionar a seu filho as melhores oportunidades”, conta ela, que está agora no Rio de Janeiro para o UFC 237 como atleta convidada. “É preciso ter, portanto, uma equipe realmente forte e solidária ao seu redor para ser bem-sucedida tanto como lutadora como quanto mãe.”

Michelle tem um interesse especial no card que vai assistir no Rio. A luta principal, entre Rose Namajunas e Jéssica Andrade, é pelo cinturão de sua categoria. Título que ela quer para ela: a atleta pretende ser a primeira mãe campeã da história do UFC. “As coisas sempre são impossíveis até alguém ir lá e fazê-las”, ela diz. “Eu quero ser a primeira a dizer que fiz isso. Só porque você é uma mãe não significa que você tem que desistir de seus sonhos. Eu me inspiro pelas histórias das outras mães e acho que posso inspirá-las também.”

Araya cresceu em uma academia de luta. E a mãe a leva a absolutamente todos os seus combates, para a criança ver ao vivo ela trabalhando. “O pai dela ama boxe, acho que ela está acostumada com isso. Ela está envolvida com luta desde antes de nascer. E consegue conversar sobre luta como um adulto.” A atleta conta que o ambiente da luta é mais do que apropriado: afinal, é um local de enorme aprendizado. “Na luta você aprende muitas lições”, diz. “A maior delas é que você pode fazer com que a derrota acabe com você ou fazer com que a derrota o impulsione para a frente. Você falha mais do que acerta na vida, então o jeito de ser bem-sucedido é seguir em frente.” Para Michelle, a luta, que proporcionou a ela uma forma de ajudar sua família, é uma metáfora da vida. “A vida é uma luta constante”.