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Por Chuck Mindenhall
Seis anos atrás, na sua primeira luta como profissional nas Artes Marciais Mistas, o brasileiro Rafaello "Tractor" Oliveira teve que encarar um monstro que estava derrotando oponentes na sua região - Wigman Big Big. Wigman, obviamente, possui um dos melhores nomes mitológicos do esporte. Mas, assim como a estrela de basquete Manute Bol que teve que matar um leão com uma lança na sua infância no Sudão - um fato que impressionou o público por muitos anos - aquela noite em Pernambuco se tornou um rito de passagem para Oliveira.
"Big Big é o nome de um chiclete no Brasil, assim como Babalu também, só que um chiclete mais barato. O apelido dele era Big Big e era a minha primeira luta. Ele era imbatível, 4-0 na época, vindo de outro estado. Ele estava acostumado a bater todo mundo do meu estado, mas eu o derrotei naquela noite e depois de novo em outra situação, graças a Deus".
Apelidos a parte, aquela noite se tornou o momento em que o faixa preta de jiu-jitsu e duas vezes campeão da North American Grappling Association percebeu que não havia nada que ele quisesse fazer mais do que lutar. Apesar de já ser um excelente praticante de jiu-jitsu, alguns conhecimentos de outras disciplinas trouxeram vantagens para ele.
"Eu estava treinando jiu-jitsu no Brasil há cinco anos e nós tivemos um torneio da MMA. Um amigo meu iria participar, mas se machucou", relembra Oliveira. "Então eu estudei durante um mês para a luta. Eu estava treinando de kimono na época e aproveitei para ter algumas aulas de boxe. Entrei no cage depois de um mês e bati Big Big por nocaute, e foi a melhor sensação do mundo. Eu apenas pensei - quero continuar fazendo isso".
Cinco anos depois e ele está no maior estágio do mundo (em termos de MMA). Residente do Tennessee e treinando em Nova Jersey na American Martial Arts em Whippany com Mike Constantino, Jamie Cruz, os irmãos Miller e Frankie Edgar, o peso leve Oliveira (9-2 no total) espera seguir o burburinho que vem junto do seu nome. Ele se tornou uma promessa por várias razões, entre elas o fato de que nas suas últimas 11 lutas, ele venceu por nocaute técnico, finalização ou slam sete delas. Resumindo, Oliveira é bom para se assistir. Ele tem um jiu-jitsu poderoso. Ele tem resistência. Ele continua indo para frente. O que mais você pode pedir a um lutador?
Mas, à medida que faz o seu nome na América do Norte, Oliveira precisa fazê-lo com um senso de adaptação. Não apenas para técnicas de luta, mas também para diferentes oponentes.
Originalmente previsto para enfrentar Dan Lauzon no UFC 103 em Dallas, Oliveira acabou tendo que encarar o duro Nik Lentz na sua estréia, quando Lauzon se machucou. Isso não importou para o homem chamado de "Tractor" - apelido dado a ele pelo professor de jiu-jitsu Latuf Kezen, porque aos 17 anos, quando ele estava apenas começando, ele já era um lutador extremamente forte. Ele estava apenas feliz com a sua primeira luta no Octógono.
"Eu estava feliz. Eu estava entrando no cage, sentia uma energia boa e não estava nervoso. Eu sabia que havia muita gente assistindo, então, quando entrei no grande cage, só queria fazer um bom trabalho e deixar Joe Silva e os donos felizes. Eu queria vencer, mas não queria fazer uma luta ruim ou chata. Eu queria trazer uma luta empolgante. Foi uma experiência boa".
Lentz conseguiu levar a decisão naquela noite, mas Oliveira deu tudo que queria em três rounds. Ele pode, com certeza, riscar algo da sua lista - foi uma luta empolgante, que mostrou muito futuro ao brasileiro de 27 anos. Melhor ainda, isso surgiu durante uma derrota.
"Sem desculpas", ele disse. "Eu poderia ter usado mais estratégia, ter sido mais esperto. Acho que cometi alguns erros. Acredito que ele venceu a luta no terceiro round quando me derrubou nos últimos dois minutos e meio e impressionou os juízes. Mas sem desculpas".
Oliveira iria enfrentar uma das lendas do esporte, Sean Sherk, no UFC 108, no MGM Grand em Las Vegas, no dia 2 de janeiro, mas com a sequência de lesões e consequentes alterações de combates, ele agora irá encarar outro estreante no UFC, John "Guns" Gunderson, que vem de três vitórias seguidas.
Apesar da expectativa do brasileiro em se testar contra "Muscle Shark", ele está muito empolgado em encarar o perigoso Gunderson, a quem ele anda estudando no YouTube.
"Ele é um excelente lutador, com boas mãos. Ele possui muitas finalizações, alguns nocautes, então acredito que será uma luta muito boa. Eu acho que vou ter que sentir a luta, se devo mantê-la em pé ou levar para o chão. Ele ganhou mais por finalização, acredito que ele tem 15 ou 16 no seu recorde. Mas eu estou pronto. Eu apenas quero vencer essa luta e melhorar meu recorde".
Oliveira é casado e tem três filhos pequenos no Tennessee, um garoto de seis anos e duas meninas, de 3 anos e outra de 6 meses. Ao falar, Oliveira parece o cara mais legal do mundo, assim como uma pessoa muito confiante.
E ele quer que o público veja o melhor Rafaello Oliveira, não importando se é contra Sherk, Lentz, Gunderson ou o parceiro de treinos/ídolo/amigo BJ Penn.
"É o coração. Eu sempre terei um grande coração ao ir para a guerra. Quando entro naquele cage, dou 100% de mim. No UFC, quero estar no cage o tempo todo, dando sempre 100%".