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Alexandre Matos é fã de todos os esportes de combate e fundador do site MMA Brasil. Ele estará aqui toda semana para comentar e palpitar os eventos.
O UFC 197, disputado no último sábado na MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas, teve um pouco de muita coisa. Teve demonstração de técnica apurada, outros nem tanto assim. Vimos pancadarias francas, lutas estratégicas, combates monótonos, aulas táticas. Para completar, tivemos ainda o prazer de ver os dois melhores lutadores do mundo peso por peso se apresentarem no octógono. Pena que só um deles fez jus ao posto.
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Havia um ano que Jon Jones fora deposto do cargo de campeão dos meios-pesados e de líder do ranking peso por peso. Mais de quinze meses após sua última apresentação, ele retornou para disputar o cinturão interino mais à vera que o UFC já criou. Conforme esperado, a vitória sobre Ovince St. Preux foi tranquila, mas Jonny Bones deixou a desejar.
O astro correu poucos riscos e, mais importante, não veio com a fome imaginada para recuperar o que lhe tomaram fora do octógono. Diferentemente daquele Jones vigoroso, que impunha castigos sofridos em seus adversários, o de sábado foi cauteloso como nunca, combinou pouco os golpes, praticamente ignorou seu clinch demoníaco e só foi trabalhar no chão de verdade lá para o quarto assalto.
Sem ter feito um camp completo, St. Preux cansou. Se inteiro já estava difícil, imagine sem gás e com o braço quebrado (conforme informado na coletiva de imprensa). Chegou ao ponto de Jones aplicar uma queda no melhor estilo Matt Hughes de colocar o adversário no ombro, como se fosse um saco de batata, e socá-lo contra o piso violentamente. Porém, até nisso Jones foi comedido. Sua fisionomia enquanto erguia o enorme OSP era de quem talvez estivesse pensando: “Falta muito para acabar?”
Para sorte dele – e a nossa, por estarmos vendo a mais chata atuação da carreira de Jones – faltava pouco. O quinto round foi o mais monótono, com Ovince rezando para o mundo acabar num barranco para ele morrer encostado e com Jones torcendo para passar ao lado de Daniel Cormier, que comentou o evento para a TV americana. Quando Bones saiu do octógono e cruzou com o desafeto, lançou-lhe o dedo do meio em riste. Um fim lamentável para uma luta esquecível.
Em um de seus comentários finais, Cormier disse que o Jones que lutou no sábado não tem a menor possibilidade de vencê-lo. Eu concordo com o atual campeão, mas gostaria de lembrá-lo que Jones certamente não o enfrentará com esse desdém/excesso de zelo. Jones sabe dos riscos que Cormier traz à mesa. Mas que a impressão deixada foi ruim, isso foi. Até Glover Teixeira e Anthony Johnson teriam complicado a vida do agora campeão interino.
Demetrious Johnson: que homem!
O campeão peso mosca do UFC tem 1,60m de altura, pesa 56,7 quilos na véspera do combate, mas luta como um gigante. Mais uma vez Demetrious Johnson foi soberano, venceu um oponente perigoso no jogo do adversário e se estabeleceu não só como um dos maiores da atualidade, mas já está na conversa de maior de todos os tempos.
Henry Cejudo era o terceiro campeão olímpico a pisar no octógono na história do UFC. E foi exatamente de sua modalidade-base, o wrestling, que saiu sua primeira derrota no MMA. Ele até conseguiu aplicar uma queda em Demetrious, num momento de troca de pegadas no clinch, um movimento clássico da carreira de Cejudo nos tapetes da luta olímpica. Quem queria ver Johnson de costas para o chão ficou chocado com a velocidade que o campeão se desvencilhou e voltou em pé. E quando voltou, deu contornos finais ao combate.
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Provavelmente na troca de pegada da queda, Johnson percebeu que Cejudo abria o cotovelo e envergava o tronco levemente para a frente. É um vício que Sara McMann, vice-campeã olímpica de wrestling, também mostrou contra uma campeã dominante. E, assim como fez Ronda Rousey, o “Super Mouse” encaixou uma joelhada monstruosa no fígado de Cejudo, que imediatamente travou sem ar. Sentindo muitas dores, o desafiante recuou, foi encurralado e levou outro joelhaço, desta vez definitivamente. Os socos seguintes foram apenas protocolares. Como o próprio Henry falou, após o combate, “eu estava mais preocupado em não levar outra joelhada no corpo do que ser golpeado no rosto”. Por isso que eu digo: nada é pior do que uma pancada seca na linha de cintura.
Esta foi a oitava defesa de cinturão consecutiva de Johnson. Ele empatou com Jon Jones e ficou uma atrás de Georges St. Pierre e duas de Anderson Silva. De cara, talvez não seja exagero escalá-lo num Quarteto Fantástico da história do UFC. Seja como for, nem Anderson, nem Jones, nem GSP podem estender suas marcas. Ao contrário, Johnson só não o fará se subir de categoria, visto que não há muito o que fazer no peso mosca. Um duelo contra Joseph Benavidez, derrotado duas vezes? Pode ser. Você acredita no Alpha Male? Eu não.
Edson Barboza tem a maior atuação da carreira e finalmente vence um integrante da elite
Depois de sucumbir perante Donald Cerrone, Michael Johnson e Tony Ferguson, o brasileiro Edson Barboza precisava urgentemente vencer um lutador dentre os melhores da melhor categoria do UFC para seguir com o sonho de disputar o cinturão dos leves. Pois ele teve a mais consistente atuação de sua carreira para superar o ex-campeão Anthony Pettis.
Com um muay thai defensivamente bem fechado, golpes justos e chutes monumentais, Barboza conduziu Pettis a uma improvável terceira derrota consecutiva. De quebra, o friburguense ainda evidenciou a má fase técnica do americano, que desta vez foi batido em sua especialidade, sem precisar que o adversário usasse o abafa para anulá-lo.
Os chutes na perna esquerda e na lateral esquerda do tronco deixaram o corpo de Pettis com marcas pretas. O ex-campeão perdeu a base e paulatinamente viu a potência de seus golpes diminuírem. Para piorar, em vez de tentar fazer o simples, Anthony tentou alguns malabarismos fora de hora para surpreender o rival. Barboza estava com a situação mapeada e se desvencilhou de todos esses golpes. No último, ainda saiu com uma risadinha como se pensasse: “pra cima de mim não, amigo”. Ou, como cunhou Rafael dos Anjos, “the show is over, fera”.
Robert Whittaker vence Rafael Sapo lutando quase o tempo inteiro com uma só mão
Ainda no primeiro assalto, Robert Whittaker sentiu a mão direita, sua mais forte. Pouco a pouco, a dor aumentou até chegar ao ápice de não ser possível usar aquele punho durante os cinco minutos inteiros do terceiro round. Mesmo assim, o neozelandês teve uma ótima atuação para vencer o mineiro Rafael Natal.
Sapo tentou algumas vezes trazer o duelo para sua zona de conforto, a luta agarrada, mas parou na sólida defesa de quedas do adversário. Ele então se viu obrigado a trocar em pé e conseguiu alguns belos momentos, mas precisou contar com um queixo duro para não ser nocauteado.
Whittaker foi brilhante ao cruzar a esquerda logo após o jab com o mesmo punho e emendar com um chute de direita, que ora batia na perna do brasileiro, ora se chocava com a cabeça de Rafael. Baseado numa movimentação lateral bem executada, Robert controlou a distância e o ritmo, baixou o ímpeto inicial do rival e navegou para uma tranquila vitória por decisão.
Outros pontos interessantes:
Yair Rodríguez é um sujeito que merece vossa atenção. O indivíduo que já deu chute saindo de cambalhota, de bicicleta e de letra, aplicou o nocaute mais sensacional do ano até agora. No segundo round contra Andre Fili, o mexicano saltou num step kick, fingiu que daria com a direita e largou a canela esquerda no meio do rosto do pobre americano, que desabou quicando cabeça e braços no tablado. Quarta vitória consecutiva do vencedor da primeira temporada do TUF América Latina. Na atualização do ranking oficial do UFC nesta segunda-feira, “El Pantera” já é o quarto colocado. Olho nele!
A brasileira Juliana Lima aplicou um dibre no comentarista Joe Rogan e no repórter Ben Hur Correia. Ambos caíram no conto do vigário do apelido da mineira, conhecida como Ju Thai. Porém, o muay thai passa ao largo da estratégia da peso palha, que prefere muito mais o wrestling e a luta agarrada. Quem não tomou o dibre foi a ex-campeã Carla Esparza, wrestler que treinou a vida inteira com homens. Com um sólido jogo de quedas, controle posicional e ground and pound, a “Cookie Monster” se recuperou da derrota para Joanna Jedrzejczyk, que lhe tirara o cinturão na base da porrada.
Outro brasileiro que sofreu foi Glaico Nego. O vencedor do TUF Brasil 4 teve um surpreendentemente bom primeiro assalto contra James Vick, quando conseguiu impor seu jogo de clinch e quedas. Porém, o americano ajustou o boxe nos 10 minutos finais e deu até olé no catarinense. Mais uma fácil decisão a favor de Vick, que se mantém invicto e chega a cinco vitórias no UFC.
A segunda vitória brasileira aconteceu no segundo combate da noite. Marcos Rogério de Lima, o Pezão, brutalizou o americano Clint Hester e o pegou num katagatame depois de bater muito por cima, no chão. O paulista agora tem três vitórias em quatro lutas no octógono mais famoso do mundo.