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Resenha UFC 198, por Alexandre Matos

Alexandre Matos é fã de todos os esportes de combate e fundador do site MMA Brasil. Ele estará aqui toda semana para comentar e palpitar os eventos.



Histórico e inesquecível. Estes são os primeiros adjetivos que vêm à mente ao lembrar do UFC 198, que levou mais de 40 mil fãs para o Estádio do Atlético Paranaense, em Curitiba, estabelecendo novo recorde de público no estádio no local, no MMA no Brasil e marcando o terceiro maior evento da história do UFC, atrás apenas das edições 129, no Canadá, e 193, na Austrália.

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O UFC 198 coroou o 15º campeão linear da história dos pesos pesados. Com um boxe alinhado, precisão e muita calma para lidar com a pressão do caldeirão que o gelado estádio se tornou, Stipe Miocic tirou proveito de um momento de afobação de Fabricio Werdum, algo que o gaúcho havia deixado para trás em sua carreira. Werdum acertou um golpe limpo no americano e, talvez empolgado em fazer a torcida explodir, saiu à caça do rival lançando socos descalibrados e sem se preocupar com a defesa. Miocic reparou a abertura, deu um passo para trás e, no melhor estilo Conor McGregor contra José Aldo, deixou o gancho de direita no queixo do então campeão, que desabou para frente. O ground and pound foi apenas protocolar, pois Fabricio caiu já nocauteado.


Mais uma vez o MMA brasileiro fica resumido a apenas um cinturão na maior organização do mundo. E, mais uma vez, a derrota foi traumática, diante de um público colossal, num ambiente em que tudo parecia a favor, com o ídolo desabando como uma árvore abatida por um lenhador. Aos 38 anos, Werdum terá que juntar os cacos e levantar a cabeça para corrigir os erros, especialmente o de foco.

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Por outro lado, Miocic cumpre sua promessa de acabar com a seca de títulos da cidade de Cleveland, onde ele mora e também trabalha no Corpo de Bombeiros. O silêncio sepulcral que tomou conta da Arena, aliás, pareceu obra do bombeiro Miocic jogando um jato d'água no calor da torcida. Brilhante atuação do agora campeão dos pesos pesados, que vai voltar para comemorar em casa, mas já de olho em Alistair Overeem, que deve propiciar mais um belo momento na disputa do título dos grandalhões.

Ronaldo Jacaré não toma conhecimento de Vitor Belfort e clama por disputa do cinturão

Na luta coprincipal da noite, Ronaldo Jacaré era o favorito, mas o risco que Vitor Belfort trazia era grande, especialmente no primeiro assalto. Pois Jacaré cumpriu seu favoritismo, mas Belfort não foi sombra do matador que já foi um dia. Provavelmente vimos a melhor atuação do capixaba e a pior da carreira do carioca.

Os lutadores começaram se estudando, um respeitando a força do outro – Vitor, de olho numa possível entrada de quedas de Jacaré; Ronaldo, atento à bomba canhota de pé e mão de Belfort. Foi quando um movimento estranho deu a senha para o que se seguiu. Vitor tentou uma joelhada voadora bizarra, sem explosão, sem técnica e numa distância totalmente errada (e ele ainda viria a repetir a dose minutos depois). Jacaré percebeu que o “risco Belfort” havia ficado em algum lugar longe do octógono e partiu para a decisão.

Primeiro, o ás do jiu-jítsu grudou o rival na grade e o fez trabalhar no clinch, desgastando seus braços. Em seguida, arrastou Belfort e sua problemática defesa de quedas para o solo, caiu por cima e esmagou o rival, fazendo peso e o desgastando ainda mais. Jacaré então passou a trabalhar o ground and pound quando a luta foi erradamente interrompida pelo limitado árbitro Osiris Maia para limpar o sangue do rosto de Belfort – Maia cometeu um erro técnico para limpar algo que nem era tanto assim. Como Vitor não tinha problema físico algum, a luta prosseguiu. Foi quando o ex-campeão cometeu um dos erros mais graves que eu já vi numa luta de MMA.

Puxar para a guarda é um recurso do jiu-jítsu, mas muito perigoso no MMA, esporte que permite socos e cotoveladas no chão. Puxar alguém para a guarda no MMA deveria ser último recurso. Puxar Jacaré para a guarda é entregar a luta para ele. Pois Vitor puxou para sua guarda inofensiva um dos melhores lutadores de jiu-jítsu de todos os tempos. Resultado: Jacaré montou facilmente, posicionou-se sobre o plexo de Vitor e desceu os dois braços esticados no rosto do oponente. Lembrou muito o castigo aplicado por Chris Weidman em Belfort, no ano passado. E o resultado também foi o mesmo, um nocaute técnico no primeiro round.

Tempos depois da proibição do TRT e fica cada vez mais claro que Belfort não tem mais condições de enfrentar a elite da divisão dos médios. Agora o UFC tem excelente oportunidade de realizar uma revanche entre ele e Anderson Silva, que foi retirado do UFC 198 para tratar um problema na vesícula. Se Joe Silva não casar esta luta para um Fight Night no Brasil, provavelmente não terá outra oportunidade.

Já Jacaré fez um discurso forte, clamando por uma chance contra o campeão Luke Rockhold, quem, aliás, tomou o cinturão do brasileiro no extinto Strikeforce. Caso Rockhold vença Weidman, talvez o UFC realmente case essa revanche. Porém, temos que considerar a presença de Yoel Romero, que venceu Jacaré em dezembro e, por conta disso, deve estar na frente do brasileiro na corrida rumo ao cinturão.


Cris Cyborg anota massacre protocolar sobre a pobre Leslie Smith

Ver finalmente a lutadora número um peso por peso do MMA mundial estrear no UFC já era muito legal. Porém, Cris Cyborg recebeu um belo presente do matchmaker Sean Shelby na forma da ex-peso mosca Leslie Smith (aliás, palmas para a coragem da americana, única que aceitou tão ingrata missão). Muito mais forte, muito mais técnica e muito mais experiente, Cyborg fez o que se esperava. E ainda demorou mais do que eu pensei.

A “demora” era justificada. Lutando em sua cidade, no maior palco do mundo, diante de uma torcida imensa, Cris não poderia errar, sob pena de se transformar possivelmente no maior fiasco da história do MMA. É muita pressão nas costas de uma pessoa. Talvez ciente disso, Cyborg foi um pouco cautelosa no começo, dando preciosos segundos de sobrevida à americana. Mas foi só a primeira mão entrar limpa para separar mulheres de meninas. Quando Cris avançou numa combinação, não havia outro destino para Smith senão tombar no tablado. Cyborg executou o ground and pound e o árbitro Eduardo Herdy, que já cometeu erros colossais em sua carreira, interrompeu a luta, para desespero de Leslie e de um monte de analistas que estavam comigo na área de imprensa, ao lado do octógono, e no Twitter. Eles reclamaram que Smith ainda estaria na luta. Eu não vi o replay e a ação foi do outro lado do cage de onde eu estava, mas fico ao lado de Herdy aqui: poupar Smith de mais castigo de Cyborg foi a melhor decisão.

Mais UFC 198: Demian bate recorde | Miocic é o novo campeão | Jacaré nocauteia Belfort | Cyborg com estreia arrasadora | Shogun vence em casa | Brasileiros invictos no card preliminar

É uma pena que a curitibana tenha praticamente deixado claro que não há a menor condição de bater 61 quilos para o limite do peso galo, o mais pesado do UFC. Ela já ficou bastante abatida para cortar até 63,5, então talvez seja mesmo inviável baixar. A campeã Miesha Tate a convidou para cortar a diferença de peso e desafiar seu cinturão (Tate, calma, você tem uma luta encardida o suficiente no UFC 200 para estar olhando além). A impressão que tive é que Cris vai voltar ao Invicta FC para defender seu cinturão do peso pena, e lutar no UFC apenas em superlutas de peso combinado, como foi neste sábado. Espero somente que na próxima vez Sean Shelby dê alguma adversária com mais condição de fazer frente. Como a holandesa Germaine de Randamie. Fica a dica.


Maurício Shogun tem vitória importante

Outro curitibano em ação no UFC 198, Maurício Shogun não vencia duas lutas seguidas desde 2009, quando passou pelos vovôs Chuck Liddell e Mark Coleman. Ele conseguiu finalmente encerrar o jejum, mas a decisão dos juízes laterais foi contestada por alguns fãs.

Shogun teve a missão facilitada no primeiro round quando Anderson estranhamente resolveu testar a quantas anda a evolução de seu boxe pelas mãos do técnico Mark Henry. Mesmo com Shogun em má fase, ainda se trata de um dos maiores e mais perigosos strikers da história do esporte. Anderson até levou curta vantagem na primeira etapa, mas viu tudo ruir quando Shogun acertou uma bomba que o mandou a knockdown em situação periclitante. O brasileiro ainda despejou um ground and pound feroz e o americano foi salvo pelo gongo.

Ciente do erro cometido, Anderson voltou para o segundo usando o wrestling – ele foi vice-campeão da Divisão III da NCAA – e estabeleceu uma vantagem mais confortável do que na parcial anterior. Porém, novamente ao som das madeiras que indicam faltar 10 segundos para o fim, Shogun mandou outro pombo sem asa para jogar Anderson na lona. Dessa vez, porém, não houve o ground and pound avassalador e o próprio knockdown não foi tão duro quanto o primeiro. Na minha opinião (e da maioria dos especialistas), não foi o suficiente para Shogun virar o round, como fora no primeiro.

A terceira etapa foi claramente dominada pelas quedas de Anderson, que deveria ter vencido por 29-28. Foi o placar que um dos juízes deu, mas os outros dois supervalorizaram o segundo knockdown e concederam uma vitória a Shogun que, se não foi o maior absurdo do mundo, tampouco foi justo.


Demian Maia dá mais uma clínica de jiu-jítsu e também pede para disputar o cinturão

Matt Brown se envolveu em confusão com um torcedor na entrada e provocou os fãs brasileiros na pesagem. No fim de semana, ele só não agrediu Demian Maia, que mais uma vez passeou em sua zona de conforto.

Fora uma tentativa errada de single-leg no começo do segundo assalto, quando levou dois socos duros que poderiam ter dado cabo da luta, Maia não encontrou dificuldades para encurtar a distância, pegar as costas do americano, mochilar e arrastar o adversário para o chão. Ali, o confronto virou passeio no parque. Brown se limitou a não ser estrangulado, mas não teve a menor possibilidade de tirar o brasileiro de suas costas. De tanto tentar, Demian finalmente encaixou o mata-leão no terceiro assalto e fez o rival batucar em sinal de desistência.

Com seis vitórias consecutivas, Demian convocou a torcida para encher o Twitter de Dana White com pedidos de disputa de cinturão (coitado do Dana, brasileiro sabe ser chato nessas horas). Porém, falta uma vitória relevante, um top 5, para Maia ganhar sua chance. O problema é que quem vem pela frente está num nível bem maior do que quem foi batido pelo paulista e, aos 38 anos, talvez Demian não tenha tanta facilidade em arrastar para o chão wrestlers do calibre de Tyron Woodley ou Johny Hendricks, sem falar em Rory MacDonald, que já venceu Demian, ou Stephen Thompson, que negou as quedas do bicampeão da NCAA Hendricks.


Massacres coroam as belas evoluções de Francisco Massaranduba e Thiago Marreta

Os ex-integrantes do TUF Brasil Francisco Massaranduba (TUF Brasil 1) e Thiago Marreta (TUF Brasil 2) não pareciam que chegariam tão longe no UFC. Agora, provavelmente ambos devem aparecer ranqueados nas listas oficiais da organização (eu mesmo coloquei os dois no meu ranking).

Massaranduba mostrou ótima variação entre o clinch, o boxe e o muay thai, aplicando uma surra sonora em Yancy Medeiros, que não foi nocauteado sabe-se lá por causa de que (na verdade, sei sim, por causa da displicência do árbitro Dan Miragliotta, que permitiu que o havaiano apanhasse mais do que o necessário). Já Marreta homenageou a terra do muay thai e mandou o veterano Nate Marquardt, que não é mais sinal do The Great de outrora, para a vala ainda na primeira etapa.

Além deles, destaques para as vitórias de John Lineker, que exibiu um ótimo jogo variando boxe, kickboxing e wrestling, e de Rogério Minotouro, que aproveitou a péssima escolha tática de Patrick Cummins e o trucidou ainda no primeiro round, deixando o americano nocauteado em pé.

Outra bela luta aconteceu entre Serginho Moraes e o estreante Luan Chagas. O jovem curitibano mandou o veterano duas vezes a knockdown, exibiu um farto repertório de chutes, negou o jiu-jítsu do tricampeão mundial e arrancou um importante empate em sua primeira luta no octógono. Olho no garoto!