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Resenha UFC Chicago, por Alexandre Matos

Alexandre Matos é fã de todos os esportes de combate. Ele estará aqui toda semana para comentar e palpitar os eventos


Quando o reinado de terror de Ronda Rousey chegou ao fim (Holly Holm venceu a ex-campeã em 2015), a categoria peso galo feminino entrou em polvorosa. No UFC 200, em julho, o cinturão trocou de mãos pela segunda vez em menos de nove meses (Amanda Nunes bateu Miesha Tate). No UFC Chicago do último sábado (23), uma nova concorrente botou a cabeça na janela às custas de quem derrubou a antiga rainha.
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No entanto, a vida de Valentina Shevchenko não foi fácil no começo das ações no octógono montado no United Center. No primeiro assalto, a quirguiz encontrou problemas com a envergadura da ex-campeã Holly Holm e até sofreu um knockdown, sem encontrar meios para trabalhar suas maiores armas, o contragolpe e o thai clinch.

Com o passar do tempo, a produção ofensiva de Holm caiu e Shevchenko achou o tempo do contra-ataque, fintando golpes para tirar a adversária da inércia e golpeá-la rapidamente sempre que a norte-americana lançava um soco no vento. A partir da metade da luta, o clinch finalmente funcionou e Valentina colocou Holly de costas para o chão, trabalhando o ground and pound.

Holm paulatinamente produzia cada vez menos e facilitava a vida de Shevchenko, que venceu os quatro rounds seguintes tanto na minha contagem quanto na dos juízes oficiais. A decisão unânime com um triplo 49-46 foi a segunda vitória em três lutas de Valentina no octógono, enquanto Holm amargou pela primeira vez na vida, contando MMA, boxe e kickboxing, duas derrotas consecutivas.


Na minha visão, o problema de Holm é mais de mentalidade do que de técnica. A boxeadora mais condecorada da história não pode (ou não deveria poder) ter uma atitude tão passiva em suas lutas. Como ela normalmente terá vantagem no alcance e dificilmente alguém conseguirá fazer frente no boxe, ela precisa adotar uma postura mais agressiva e ofensiva, fazendo com que suas vantagens prevaleçam nas lutas.

Por outro lado, a categoria vê florescer o talento de uma multicampeã de muay thai que já tinha deixado a impressão que poderia virar a luta contra Amanda caso estivesse num confronto de cinco rounds. Como uma disputa de cinturão tem cinco rounds, uma revanche se torna bastante interessante, caso Valentina vença mais um combate – minha sugestão para Sean Shelby é colocá-la contra Julianna Peña.

No aguardado combate coprincipal da noite, Edson Barboza voltou a ter uma atuação sólida, confirmando seu nome entre os melhores da categoria mais forte do MMA mundial com a vitória sobre Gilbert Melendez, que um dia já foi apontado como o número um do peso leve.


Mais uma vez os chutes desempenharam papel fundamental no jogo do friburguense. No primeiro assalto, vários deles minaram a linha de cintura de Melendez, já causando problemas na movimentação do norte-americano. A situação agravou quando as chicotadas de Barboza passaram a atingir a perna da frente do oponente. Como Gilbert não trocou a base e não mostrou eficiência em se defender dessas investidas, ficou com a parte externa da perna esquerda inchada, acabando de vez com qualquer possibilidade de mudança de nível com uma queda – as tentativas foram facilmente abortadas por Edson.

Fora uma ou outra situação em que foi obrigado a trocar boxe plantado – aliás, um problema que Barboza precisa resolver –, o brasileiro controlou as ações sem maiores dificuldades. Melendez mostrou sua conhecida raça ao aceitar a troca de golpes em pé contra um striker da habilidade de Edson, mas sucumbiu pela quarta vez em cinco lutas disputadas no UFC, algo impensável quando ele migrou do Strikeforce. Por sua vez, o brasileiro chegou à terceira vitória seguida, enfileirando dois ex-número 1 do mundo (antes fora Anthony Pettis).

Outros quatro brasileiros estiveram em ação no card preliminar de Chicago e três deles venceram. A única exceção foi Godofredo Pepey, que insistiu na inconveniente tática de puxar o wrestler Darren Elkins para a guarda. Mesmo ativo com as costas no chão, o cearense foi anulado pelo norte-americano, que trabalhou no velho jogo de quedas e ground and pound para vencer por decisão unânime.

Estratégia semelhante foi utilizada por Michel Trator na vitória sobre o estreante J.C. Cottrell. O paraense aplicou quedas em todos os rounds, tentou algumas finalizações, passou guarda e imprimiu um modesto trabalho de ground and pound. Faltou técnica e força física para Cottrell sair da situação de desvantagem.


No duelo entre exímios chutadores, melhor para Alex Cowboy contra James Moontasri. O norte-americano não conseguiu ser competitivo, especialmente depois de engolir uma brutal joelhada ilegal na região genital. O carismático brasileiro trabalhou bem as joelhadas e uppercuts no clinch e levou o oponente para o chão no segundo e terceiro assaltos. Ali, Cowboy passeou no ground and pound e chegou à quarta vitória nas últimas cinco lutas na organização.

Abrindo a tarde/noite de combates, Luiz Henrique KLB aproveitou o dantesco condicionamento cardiorrespiratório de Dmitri Smolyakov para levar o wrestler russo para o chão, pegar as costas e finalizá-lo num mata-leão no segundo assalto.