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Alexandre Matos é fã de todos os esportes de combate. Ele estará aqui toda semana para comentar e palpitar os eventos.
Entre mortos e feridos, todos os fãs se salvaram de uma tarde repleta de pesos pesados. O UFC Zagreb, liderado por quatro combates da categoria dos grandalhões, acabou saindo melhor que a encomenda e até mesmo os confrontos que passaram do primeiro round não foram enfadonhos.
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Três brasileiros estiveram em ação, todos pressionados por resultados ruins anteriores. Dois deles venceram, um o fez de modo categórico, mas o terceiro segue no calvário.
Junior Cigano domina Ben Rothwell e deixa esperanças sobre sua total recuperação
A divisão dos pesados é, de modo geral, tão pobre tecnicamente e de tão difícil renovação que simplesmente não se podia abrir mão de um talento como Junior dos Santos. As duas derrotas acachapantes para Cain Velasquez e principalmente o nocaute sofrido pelas mãos de Alistair Overeem deixaram a impressão que Cigano não recuperaria mais a fase que o tornou campeão mundial. No domingo, uma nova esperança nasceu na Croácia.
Cigano voltou a mostrar o melhor boxe da categoria. Com movimentação bem mais fluida do que em dezembro, ele usou bem a área disponível para atacar Ben Rothwell e evitar as ações ofensivas do norte-americano. O catarinense foi exemplar no trabalho contra a linha de cintura do norte-americano, algo ainda pouco usado no MMA e que Cigano sempre executou com maestria. Com excelente tempo de execução entre dobrar os joelhos, lançar um golpe reto e retornar à posição defensiva, Junior bateu o recorde do UFC de golpes no corpo, minou a resistência de Big Ben e deixou claro desde o segundo assalto que só perderia num lance fortuito. No final dessa parcial, o ex-campeão ainda mandou o oponente a knockdown com um pisão frontal tão forte que mandou o gigante Rothwell longe.
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Apesar de esperançosa, a atuação de Cigano deixou algumas brechas. Ele poderia ter executado mais combinações, como sempre fez na sua fase invicta no UFC. Tivesse combinado socos com mais frequência e provavelmente o nocaute teria acontecido. Porém, esse lapso de agressividade é bem natural para um cara que vinha de três derrotas nas cinco apresentações mais recentes, com más atuações. Para implementar um jogo assim, é preciso confiança e a de Cigano estava bastante abalada. Ele também poderia ter usado mais os chutes – alguns rodados a meia altura entraram com facilidade –, mas também é preciso confiança para isso, visto que um erro num chute rodado pode ter efeitos catastróficos, como bem sabe Chris Weidman.
Sendo assim, a luta principal deixou como lições que Cigano ainda não está acabado e que sua atuação foi a melhor desde que perdeu o cinturão. Ainda não é suficiente para vencer Fabricio Werdum ou Cain Velasquez, mas é um belo (re)começo.
Gabriel Napão segue seu calvário com terceiro nocaute em quatro lutas
Outro brasileiro que lutava por redenção não teve o mesmo fim de Cigano. Gabriel Gonzaga até entrou no octógono em Zagreb vindo de vitória, ainda que tenha sido numa das sonolentas lutas da história do UFC. Porém, nos últimos 14 meses, o carioca acumula três derrotas por nocautes violentos. A última delas veio pelos punhos de Derrick Lewis.
Na situação em que se encontra, Napão era um homem em uma missão: retornar as origens, inventar o mínimo possível para jogar na segurança. Algo como Demian Maia fez em sua retomada como meio-médio e, por que não, o que Cigano fez no mesmo domingo. E Nãpão até tentou, mas a situação está tão crítica que o ás do jiu-jítsu encontrou dificuldades até onde sempre tirou de letra.
Assim que teve oportunidade, Gabriel grudou Lewis no clinch contra a grade e aplicou uma queda com muita técnica. Ele caiu por cima, em posição dominante. Contra um oponente tão mais limitado na arte suave, a finalização seria questão de tempo. Quando Napão pegou as costas e preparou os ganchos, já devia ter gente contando as batucadas de Lewis em sinal de desistência. Mas, por incrível que pareça, o ex-multicampeão perdeu a posição e deixou Derrick se levantar. A “Besta Negra” não perdoou o vacilo e, quando conseguiu se desvencilhar de mais um clinch, disparou um direto de direita tão potente que Napão já foi à lona entregue - o ground and pound protocolar nem era necessário.
Caso Napão seja convocado para comparecer ao RH da Zuffa, ninguém pode achar estranho.
Lucas Mineiro vence Rob Whiteford em luta menos empolgante do que o imaginado
Quando Sean Shelby casou o brasileiro Lucas Martins contra o escocês Robert Whiteford, imediatamente pensei: “A chinela vai cantar”. Infelizmente eu me enganei.
Lucas e Rob demoraram para engrenar e não travaram tantos momentos de ofensividade. Pela parte do brasileiro, nada mais natural, afinal eram duas derrotas seguidas, ambas em casa, e a última de modo absolutamente categórico. O momento era de vencer, evitar a demissão e recobrar confiança. Missão cumprida.
Mais precisão nos socos e alguns chutes no corpo e nas pernas foram as armas utilizadas pelo representante da Chute Boxe, que não lembrou em momento algum o lutador agressivo que foi durante toda sua carreira. Whiteford tentou quebrar o ritmo com algumas quedas, mas não conseguiu completar nenhuma delas.
A maioria dos analistas pontuou o combate a favor de Lucas, variando entre 30-27 e 29-28 (este foi o meu placar). Porém, um dos juízes – o britânico – anotou 29-28 para Whiteford, transformando o triunfo de Mineiro em decisão dividida.